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BOAS PRÁTICAS

Rescaldo do escândalo

Em editorial, Nature se justifica por tratamento dado a artigos retratados sobre supostos supercondutores

A revista Nature publicou um editorial no final de abril em que se justifica sobre o tratamento conferido a dois artigos do cientista de materiais Ranga Dias, da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, que sofreram retratação. Ambos os papers relataram o comportamento de materiais que seriam capazes de transmitir eletricidade sem perda de energia – sob pressões extremamente altas, mas em temperatura ambiente – e foram recebidos com ceticismo pela comunidade científica. O caso dos supostos materiais supercondutores virou escândalo depois que os experimentos não puderam ser replicados por outros cientistas e uma investigação apontou indícios de manipulação de dados.

A Nature foi criticada por aceitar para publicação em março de 2023 um segundo artigo de Dias quando já estava em curso o processo que levaria à retratação do primeiro paper, publicado em 2020. Segundo o periódico, cada manuscrito submetido é avaliado individualmente por seus méritos e resultados. “É importante enfatizar que faz parte da política editorial da Nature considerar cada submissão por si só”, explicou o texto, que também buscou isentar os revisores de responsabilidade por comprovar a ocorrência de fraude nos papers. “A revisão por pares não foi concebida para identificar possíveis más condutas. O papel da revista nessas situações é corrigir a literatura científica; cabe às instituições envolvidas determinar se houve má conduta e fazê-lo somente após a conclusão do devido processo.” O texto alega que a Universidade de Rochester havia aberto três inquéritos para apurar preliminarmente suspeitas de má conduta de Dias entre 2020 e 2022 e considerado que não havia sinais de fraude.

Apenas no quarto inquérito, em 2023, Dias foi afastado e se concluiu que ele manipulou dados. Os editores da Nature elogiaram os jornalistas da revista, que trabalham de forma independente e foram os primeiros a relatar os resultados da investigação encomendada pela National Science Foundation, principal agência de apoio à ciência básica dos Estados Unidos, mostrando que o cientista de materiais provavelmente fabricou informações.

Outra questão levantada pelo editorial é se o assunto demorou demais a ser resolvido. “Os editores da Nature têm feito a mesma pergunta: especificamente, poderia ter havido mais, ou melhor, comunicação entre revistas e instituições quando surgiram evidências de possível má conduta?”, indagou. Eles se dizem dispostos a abrir novos canais com instituições de pesquisa para troca de informações, em busca de resultados mais rápidos.

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