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Tecnologia

Nanofibras de celulose reforçam máscaras cirúrgicas

Grupo do Espírito Santo desenvolve revestimento com material extraído de bagaço da cana-de-açúcar

A engenheira química Luciana Zortea, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), conhecia há anos a possibilidade de produzir nanofibras de celulose a partir do bagaço da cana-de-açúcar. Com diâmetro entre 39 nanômetros (nm) e 48 nm, o material forma uma película esbranquiçada e porosa, que permite a passagem do ar, mas filtra partículas sólidas.

O início da pandemia de coronavírus, em 2020, motivou a discussão sobre a eficácia das máscaras de proteção. O vírus Sars-CoV-2 possui um diâmetro de 50 a 200 nm e talvez fosse grande demais para ultrapassar uma barreira composta de nanofibras de celulose. “Na época, as pessoas usavam muitas máscaras que, além de desconfortáveis, não eram eficazes contra o vírus”, diz ela. O consumo de máscaras descartáveis aumentou rapidamente como forma de proteção contra o agente causador da Covid-19.

Ainda em 2020, a startup de nanotecnologia Nanox, de São Carlos (SP), e a fabricante paulistana de brinquedos Elka desenvolveram uma máscara respiratória reutilizável com um filtro descartável PFF2 – sigla de peça facial filtrante, também conhecida como N95 – capaz de reter poeira, aerossóis e agentes biológicos, e um composto antimicrobiano à base de prata criado pela Nanox com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe), da FAPESP.

Alexandre Affonso/Revista Pesquisa FAPESP

Em paralelo, Zortea e seus colegas da Ufes Jordão Moulin, Michel Picanço e Iara Rebouças criaram protótipos de máscaras faciais com nanofibras de celulose produzidas a partir do processamento mecânico de resíduos de bagaço de cana-de-açúcar. O primeiro passo do processo de desenvolvimento foi submeter o material a um pré-tratamento com hidróxido de sódio (NaOH) para remover compostos indesejados como a lignina, que forma a estrutura das plantas. Em seguida, o bagaço foi colocado em contato com a enzima celulase, que quebra a celulose em fibras menores. Como resultado, as nanofibras se separaram. Por fim, a nanofibra foi aplicada com spray sobre a máscara de tecido, como detalhado em um artigo publicado em março na Journal of Material Research and Technology.

Em testes de laboratório, a eficiência de filtração antimicrobiana das máscaras produzidas por esse método foi de 99,80%, enquanto a das máscaras do mesmo material sem o revestimento foi inferior a 95%, o mínimo exigido. “Não imaginava que os resultados seriam tão bons”, diz Zortea.

Segundo ela, a proteção foi equivalente à das máscaras mais eficazes, como as PFF2 e PFF3. Os testes de respirabilidade mostraram muita variação e serão refeitos. O grupo da Ufes está em busca de novas fontes de financiamento para dar sequência às pesquisas com a finalidade de concluir o desenvolvimento, depositar patentes e examinar as possibilidades de licenciamento.

Nanofibras de celulose já são produzidas em escala comercial ou piloto nos Estados Unidos, Canadá, Brasil, Japão, Suécia, Noruega, China e Israel.

N95, a máscara mais bem avaliada

Ao reduzir a carga viral em 98%, a bico de pato N95 mostrou os melhores resultados em um teste comparativo do desempenho de quatro tipos de máscaras de tecido e cirúrgicas.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, chegou a esse resultado em um teste com 44 voluntários com Covid-19, que, durante meia hora, respiraram com e sem máscara em um aparelho que mede o número de partículas de vírus no ar exalado.

Como noticiado em 21 de junho no site ScienceAlert e detalhado em um artigo também de junho na eBioMedicine, a máscara de tecido bloqueou 87% da carga viral, uma máscara cirúrgica 74% e uma KN95 71%.

Uma versão deste texto foi publicada na edição impressa representada no pdf.

Artigos científicos
LAI, J. et al. Relative efficacy of masks and respirators as source control for viral aerosol shedding from people infected with Sars-CoV-2: A controlled human exhaled breath aerosol experimental study. eBioMedicine. v. 104, 105157. jun. 2024.
ZORTEA, L. et al. Improved non-woven surgical masks with nanostructured cellulosic reinforcement from sugarcane bagasse waste. Journal of Materials Research and Technology. 11 mar. 2024.

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