Empreendedorismo

Quem passa pelo bairro do Limão, na zona norte de São Paulo, e avista um monumento gigante reproduzindo um imponente trio de forrozeiros não tem dúvidas: está bem próximo do Centro de Tradições Nordestinas, o popular CTN, um complexo de 27 mil m² dedicado à preservação das manifestações culturais do Nordeste. O empreendimento, que fica aberto ao público de domingo a domingo, recebe mais de 70 mil pessoas mensalmente e oferece ao público uma cartela de opções de produtos e atrações alusivos à região, desde comidas típicas até shows musicais.

Ao todo, são 12 restaurantes e 11 quiosques com oferta de pratos da gastronomia nordestina, como baião de dois, escondidinho de carne seca, bobó de camarão, entre outros. Na parte superior do espaço, dezenas de artesãos expõem uma diversidade de itens durante os fins de semana, enquanto do lado de fora há um parque de diversões com brinquedos que buscam despertar memórias da infância vivida em muitas cidades do interior sertanejo.

Com frequência, o CTN ainda abriga shows de grupos e cantores conhecidos no cenário musical nordestino, de gêneros musicais diversificados, que, além do tradicional forró, trazem também o arrocha, o piseiro e o tecnobrega. Para os frequentadores mais devotos, há uma capela consagrada à Nossa Senhora da Conceição, que traz na entrada estátuas de duas figuras religiosas populares no Nordeste: Padre Cícero e Frei Damião.

Monumento com trio nordestino ajuda a localizar o CTN — Foto: Reprodução Instagram/ CTN
Monumento com trio nordestino ajuda a localizar o CTN — Foto: Reprodução Instagram/ CTN

O complexo cultural é administrado há uma década por Christiane Abreu, de 35 anos. A gestão é continuidade do legado do seu pai, o empresário José de Abreu, que fundou o CTN em 1991. Apesar de ter nascido e crescido em São Paulo, ele era um amante das culturas nordestinas e, com frequência, demonstrava indignação com a xenofobia e o preconceito sofridos por imigrantes da região na capital paulista. No início dos anos 1990, resolveu intervir para combater o cenário de discriminação na prática.

Christiane era apenas uma criança na época, mas desde pequena esteve relacionada ao CTN por causa do trabalho do pai. Ela conta que a primeira ação dele para exaltar as tradições nordestinas foi com a criação da Rádio Atual, que transmitia aos ouvintes as músicas de artistas nordestinos que eram sucesso na época. A programação teve adesão rápida dos imigrantes da região, que começaram a ligar para a rádio na busca por localizar parentes que viviam em São Paulo e tinham se perdido da família.

José de Abreu (ao centro), na sede da Rádio Atual — Foto: CTN
José de Abreu (ao centro), na sede da Rádio Atual — Foto: CTN

Mais do que um meio de comunicação, a sede Rádio Atual acabou virando um ponto de reencontro para esses parentes e ficou pequeno para a circulação de pessoas. O empresário percebeu que o local poderia ser também um espaço de convivência e criou uma estrutura para que aquelas pessoas pudessem passar mais tempo, com opções de comida, bebida e música ao vivo. Nascia, desse modo, o CTN, com as primeiras barracas cobertas com palhas de piaçava.

O CTN nos anos 1990 — Foto: CTN
O CTN nos anos 1990 — Foto: CTN

"As pessoas não queriam mais só escutar a sua música na rádio, elas queriam dançar, reencontrar pessoas que não viam há tempos, comer a comida de que gostavam e estar em um ambiente onde elas não seriam julgadas e não sofreriam preconceito", explica Christiane.

Em pouco tempo, o empreendimento virou uma referência para a população nordestina, envolvendo-se em momentos históricos, como uma ação de combate à fome resultante de uma forte estiagem em 1993. A campanha "SOS Nordeste", encabeçada por José de Abreu, arrecadou 700 toneladas de alimentos, que foram enviados aos povos afetados. No ano seguinte, o complexo recebeu a visita do Frei Damião, que completava 96 anos e realizou uma missa para milhares de pessoas. O religioso recebeu do CTN um bolo de 96 metros.

Em 2003, o empreendimento recebeu o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) do Ministério da Justiça. O espaço mantém até hoje atividades gratuitas de cunho social, como cursos profissionalizantes, e disponibiliza acesso gratuito aos visitantes e aos artesãos que desejam vender seus produtos, diz Cristiane. As entradas são pagas apenas quando são realizados shows particulares.

O CTN mantém uma programação constante com festas relacionadas ao Nordeste — Foto: Reprodução Instagram/ CTN
O CTN mantém uma programação constante com festas relacionadas ao Nordeste — Foto: Reprodução Instagram/ CTN

A gestora trabalha com uma equipe fixa de 40 pessoas, mas estima mais 600 empregos gerados a partir das atividades do espaço atualmente. Os restaurantes e quiosques – parte deles presente desde a fundação do CTN – pagam uma taxa de funcionamento no local, o que ajuda a cobrir os custos de manutenção do complexo e garante a gratuidade das entradas. O espaço também conta com convênios periódicos e patrocínios.

"Alguns dos empresários que empreenderam no CTN em 1990 não sabiam nem ler e nem escrever, e os filhos já tiveram outras oportunidades depois. Então, o espaço acabou virando um local de geração de emprego para essas pessoas", lembra.

Ao longo dos anos, o CTN buscou manter o propósito inicial do seu fundador. José de Abreu acompanhou o crescimento do espaço e a consolidação do empreendimento como símbolo da preservação das culturas nordestinas na capital paulista até 2022. No ano passado, ele faleceu aos 77 anos, em pleno mês de junho, quando o CTN preparava as comemorações para as festas de São João, e deixou de herança o trabalho mantido por mais de três décadas.

Legado familiar

Christiane Abreu herdou do pai a gestão do CTN — Foto: Arquivo pessoal
Christiane Abreu herdou do pai a gestão do CTN — Foto: Arquivo pessoal

Hoje, Christiane se diz orgulhosa de seguir os passos do pai e fazer com que o Dia do Nordestino, comemorado neste domingo (8/10), seja festejado no CTN todos os dias. "O CTN para mim representa uma missão de vida, de seguir e honrar esse legado que meu pai. Para os nordestinos em São Paulo, o CTN é como uma casa, e, além disso, é um motivo de orgulho", diz a gestora.

"Recebemos também muitas pessoas que não são nordestinas, e a melhor forma de combater o preconceito é fazendo com que as pessoas conheçam o que elas não conhecem. Quando você se permite conhecer, não tem como não se apaixonar pela cultura nordestina", acrescenta.

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