Pesquisadores detectaram danos nos pulmões de pacientes recuperados de quadros graves de Covid-19 dois anos após o início dos sintomas da doença. Os resultados que alertam para os efeitos da infecção a longo prazo foram registrados nesta terça-feira (14) na revista científica Radiology.
Liderado por especialistas da Universidade de Ciências e Tecnologia de Huazhong, na China, o estudo incluiu 144 pacientes, dos quais 79 eram homens e 65, mulheres. Todos eles tinham ideade média de 60 anos e tiveram alta hospitalar após infecção pelo coronavírus entre 15 de janeiro e 10 de março de 2020.
Três tomografias de tórax seriadas e testes de função pulmonar foram feitos nos voluntários seis meses, um ano e dois anos após o início dos sintomas. Anormalidades pulmonares residuais depois da alta dos pacientes incluíram fibrose, espessamento, alterações císticas, dilatação dos brônquios, entre outros.
Ao longo de dois anos, a incidência dessas anormalidades diminuiu gradualmente, mas ainda assim mostrou que os danos no pulmão podem ser persistentes. Meio ano após os primeiros sintomas, 54% dos voluntários sofriam com anomalias no órgão.
Nos exames de tomografia de acompanhamento de dois anos, 39% dos pacientes apresentavam anomalias pulmonares, incluindo 23% com alterações pulmonares fibróticas e 16% com manifestações pulmonares não fibróticas. Os 88 casos restantes (61%) não apresentaram nenhum problema no pulmão.
De acordo com os autores, a proporção de anormalidades fibróticas permaneceu estável ao longo do tipo. Esses anomalias são um importante precursor da fibrose pulmonar idiopática. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia, nessa condição ocorre a substituição do pulmão normal por fibrose (cicatriz), prejudicando a capacidade de realizar trocas gasosas envolvidas na oxigenação do sangue.
“As anormalidades fibróticas observadas em nosso estudo podem representar uma condição pulmonar estável e irreversível, como a fibrose pulmonar, após a Covid-19”, escrevem os cientistas no estudo.
Os pacientes com as alterações nas tomografias eram também mais propensos a apresentar sintomas respiratórios e função pulmonar anormal. A proporção de indivíduos com sintomas respiratórios diminuiu de 30% em seis meses para 22% em dois anos.
Após esse período, o sintoma respiratório mais comum foi dispneia de esforço ou falta de ar (14% dos voluntários). Já uma difusão pulmonar leve e moderada foi observada em 29% dos voluntários, o que sugere um nível não elevado de entrega de oxigênio e remoção de CO2 do sangue por parte dos sacos de ar dos pulmões.
Segundo os pesquisadores, as consequências funcionais e de longo prazo dos achados da tomografia são ainda desconhecidas. “Nosso estudo prospectivo descobriu que 39% dos participantes apresentavam anormalidades pulmonares intersticiais persistentes em dois anos de acompanhamento, associadas a sintomas respiratórios e diminuição da função de difusão”, resumem.