Ciência

Por Redação Galileu

Paleontólogos descobriram o conteúdo das últimas refeições de três espécies do período Ediacarano, que estão entre os primeiros animais conhecidos por habitar a Terra há mais de 550 milhões de anos. Os resultados foram publicados nesta terça-feira (22) na revista Current Biology.

Usando moléculas biomarcadoras, pesquisadores da Universidade Nacional da Austrália examinaram o conteúdo intestinal de três seres: Calyptrina, semelhante a um verme tubular; Kimberella, parecido com um molusco e Dickinsonia, um estranho organismo achatado e ovalado com segmentos no corpo.

Foram analisados os fósseis contendo moléculas preservadas de fitoesteróis — produtos químicos naturais encontrados em plantas — que sobraram da última refeição dos animais. Assim, descobriu-se que eles comiam bactérias e algas provenientes do fundo do oceano.

As descobertas trazem novas pistas sobre a fisiologia dos organismos ancestrais e como eles consumiam e digeriam seus alimentos. Os restos moleculares revelaram, por exemplo, que o Kimberella tinha boca e intestino, podendo digerir comida da mesma forma que os animais modernos. Logo, ele era provavelmente uma das criaturas mais avançadas do Ediacarano.

Ilustração de um Dickinsonia costata — Foto: Wikimedia Commons
Ilustração de um Dickinsonia costata — Foto: Wikimedia Commons

Já o Dickinsonia absorveu comida através de seu corpo enquanto atravessava o fundo do oceano. Embora pudesse ter até 1,4 metro de comprimento, esse organismo era menos complexo e não tinha olhos, boca ou intestino.

Descobertas
Ilya Bobrovskiy, o principal autor do estudo, recuperou os fósseis de Kimberella e Dickinsonia em penhascos íngremes perto do Mar Branco, na Rússia, em 2018. Ambos os seres fazem parte da biota Ediacara que viveu na Terra cerca de 20 milhões de anos antes da Explosão Cambriana, quando apareceram os filos mais importantes, mudando o curso da evolução da vida.

“Nossas descobertas sugerem que os animais da biota Ediacara, que viveram na Terra antes da Explosão Cambriana da vida animal moderna, eram uma mistura de estranhos absolutos, como Dickinsonia, e animais mais avançados, como Kimberella, que já tinham algumas propriedades fisiológicas semelhantes aos humanos e outros animais atuais”, disse Bobrovskiy em comunicado.

Segundo o especialista, os animais desse conjunto são os fósseis mais antigos grandes o suficiente para serem visíveis a olho nu e representam a nossa origem e de todos os animais atuais. “Essas criaturas são nossas raízes visíveis mais profundas”, considera.

O que pode explicar o tamanho grande dos organismos é sua alimentação rica em energia, conforme afirma Jochen Brocks, coautor da pesquisa. Ele conta que as algas são ricas energeticamente e em nutrientes que podem ter sido fundamentais para o crescimento de Kimberella. “Os cientistas já sabiam que Kimberella deixava marcas de alimentação raspando as algas que cobriam o fundo do mar, o que sugeria que o animal tinha um intestino. Mas foi somente depois de analisar as moléculas do intestino de Kimberella que conseguimos determinar exatamente o que ela comia e como digeria os alimentos”, detalha Broks.

De acordo com o pesquisador, o ser antigo parecido com um molusco sabia quais esteróis eram bons e a análise química permitiu aos cientistas analisarem essas moléculas no tecido fóssil. Essas estruturas tinham assinaturas reveladoras que os ajudaram a decifrar o que os animais comeram.

Para Brocks, a parte difícil foi diferenciar as assinaturas das moléculas de gordura das próprias criaturas, os restos de algas e bactérias em suas entranhas e as algas moleculares em decomposição do fundo do oceano.

“Este foi um momento Eureka para nós; usando produtos químicos preservados nos fósseis, podemos agora tornar visíveis os conteúdos intestinais de animais, mesmo que o intestino tenha se deteriorado há muito tempo”, afirma.

Mais recente Próxima Novas nomenclaturas são criadas para mensurar dados e medidas do Universo
Mais de Galileu

Ainda não se sabe ao certo por que a estrutura abandonada explodiu, mas a hipótese mais plausível envolve um acidente com combustível

Satélite russo explode em 180 pedaços e obriga astronautas da ISS a se esconder

Pesquisa de arqueólogos tchecos que investigou 69 ossadas indica que principais marcas apareciam nas juntas, sobretudo em partes como a cintura, mandíbulas e dedão

Escribas egípcios sofriam com lesões causadas pela má postura no trabalho

Em entrevista à GALILEU, Kamilla Souza fala sobre o trabalho de extrair cérebros de cetáceos - e como eles podem ser modelos para entender, também, o cérebro humano

Brasileira é dona da maior coleção de cérebros de golfinho da América Latina

Experiência imersiva pela famosa paisagem especial foi possível a partir da combinação de imagens dos dois telescópios espaciais mais poderosos do mundo, Hubble e James Webb

Nasa desenvolve visualização 3D dos "Pilares da Criação"; veja

Dados de 390 mil adultos, coletados ao longo de 20 anos, sugerem que a ingestão de suplementos alimentares não é sinônimo de maior longevidade, ou mesmo menor risco de doenças cardíacas e câncer

Tomar multivitamínicos todo dia não ajuda você a viver mais, diz estudo

Arqueólogos acreditam que sobrevivência de criança com a síndrome para além do período de amamentação dependeu de cuidados da comunidade neandertal em que vivia

Descoberta primeira criança neandertal com síndrome de Down

Estimativas de pesquisadores podem ter implicações nos estudos sobre a estabilidade das plataformas de gelo e no aumento do nível do mar

Geleiras da Antártida guardam duas vezes mais água do que se imaginava

Novo imposto, que passa a valer a partir de 2030, visa reduzir emissões de gases de efeito estufa na atmosfera e, ao mesmo tempo, apoiar a transição verde do país

Pum de vaca faz governo da Dinamarca propor taxa de R$ 500 por animal

Análise química de estalagmites realizada em caverna do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, demonstra que o aquecimento global tem gerado um distúrbio hidrológico na região central do país, fazendo com que parte significativa da água da chuva evapore antes mesmo de se infiltrar no terreno

Seca no Cerrado brasileiro é a pior há sete séculos, diz estudo

Naufrágio Kyrenia foi descoberto em 1965, mas, devido a problemas de conservação, não pôde ter sua idade determinada com precisão. Isso mudou com um novo estudo

Cientistas confirmam quando navio grego naufragou usando... amêndoas