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Por Redação Galileu

Pela primeira vez após quase 30 anos de observações, as nuvens de Netuno praticamente desapareceram. É o que revelam registros tirados de Maunakea, na ilha do Havaí, através das lentes do Observatório W.M. Keck, e por meio do Telescópio Espacial Hubble da Nasa.

As imagens publicadas na revista Icarus em 9 de junho indicam que as nuvens do planeta estiveram sumindo em todas as localidades deste mundo gasoso, com exceção do polo sul. As observações também apontam para uma ligação entre esse desaparecimento e o ciclo solar.

A abundância de nuvens nas latitudes médias de Netuno começou a diminuir em 2019, segundo estimam os autores do estudo, uma equipe de astrônomos liderada pela Universidade da Califórnia (UC) em Berkeley, nos Estados Unidos.

“As imagens que tiramos em junho passado mostraram que as nuvens não haviam voltado aos níveis anteriores após quatro anos”, disse em comunicado Erandi Chávez, estudante de pós-graduação do Centro de Astrofísica da Universidade de Harvard. “Isso é extremamente empolgante e inesperado, especialmente porque o período anterior de pouca atividade de nuvens em Netuno não foi tão dramático e prolongado", acrescentou ela, que liderou o estudo quando era estudante de astronomia na UC Berkeley.

Chávez e sua equipe analisaram imagens tiradas de 1994 a 2022 utilizando a câmera de infravermelho NIRC2 do Observatório Keck. O instrumento foi aliado ao seu sistema de óptica adaptativa (desde 2002) e a observações do Observatório Lick ( 2018-2019) e do Telescópio Espacial Hubble (desde 1994).

Esta sequência de imagens do Telescópio Espacial Hubble registra o aumento e diminuição da quantidade de cobertura de nuvens em Netuno ao longo de quase 30 anos — Foto: NASA, ESA, LASP, Erandi Chavez (UC Berkeley), Imke de Pater (UC Berkeley)
Esta sequência de imagens do Telescópio Espacial Hubble registra o aumento e diminuição da quantidade de cobertura de nuvens em Netuno ao longo de quase 30 anos — Foto: NASA, ESA, LASP, Erandi Chavez (UC Berkeley), Imke de Pater (UC Berkeley)

Os dados mostraram um padrão entre mudanças na cobertura de nuvens de Netuno e o ciclo solar – o período em que o campo magnético solar muda, o que ocorre a cada 11 anos. Isso é surpreendente, dado que o planeta é o mais distante do Sol no Sistema Solar e recebe só 1/900 da luz que recebemos na Terra.

“As nossas descobertas apoiam a teoria de que os raios UV do Sol, quando suficientemente fortes, podem desencadear uma reação fotoquímica que produz as nuvens de Netuno”, explica Imke de Pater, professora emérita de astronomia na UC Berkeley e autora sênior do estudo.

Os pesquisadores observaram 2,5 ciclos de atividade de nuvens. Em 2002, a refletividade do planeta aumentou, chegando a um brilho máximo. Depois, em 2007, chegou ao brilho mínimo, só ficando reluzente de novo em 2015. Mais tarde, em 2020, Netuno escureceu para o nível mais baixo já observado. Foi quando a maioria das nuvens desapareceu.

Imagem de Netuno tirada com o telescópio Keck II em 21 de junho de 2023 mostra quase nenhuma nuvem, exceto perto do polo sul — Foto: Imke de Pater, Erandi Chavez, Erin Redwing (UC Berkeley)/WM Keck Observatory
Imagem de Netuno tirada com o telescópio Keck II em 21 de junho de 2023 mostra quase nenhuma nuvem, exceto perto do polo sul — Foto: Imke de Pater, Erandi Chavez, Erin Redwing (UC Berkeley)/WM Keck Observatory

As mudanças no brilho causadas pelo Sol parecem aumentar e diminuir no mundo gasoso relativamente em sincronia com o ir e vir das nuvens no planeta. No entanto, os cientistas consideram necessários mais estudos para desvendar essa correlação.

Embora imagens recentes tiradas de Netuno em junho de 2023 mostrem que o sumiço das nuvens persiste desde 2019, as formações têm voltado ao planeta agora. “Vimos mais nuvens nas imagens mais recentes; principalmente nas latitudes do norte e em grandes altitudes, como esperado pelo aumento observado no fluxo de raios UV solares nos últimos dois anos”, aponta De Pater.

Dados combinados do Telescópio James Webb e do Observatório Keck permitirão mais investigações sobre Netuno. “É fascinante poder usar telescópios na Terra para estudar o clima de um mundo a mais de 2,5 bilhões de milhas de distância de nós”, disse Carlos Alvarez, astrônomo do Observatório W.M. Keck e coautor do estudo.

Mudança dramática na aparência de Netuno observada no final de 2019 até junho de 2023. Imagens foram obtidas pelo instrumento NIRC2 e pelo sistema de óptica adaptativa no Telescópio Keck II — Foto: Imke de Pater, Erandi Chavez, Erin Redwing (UC Berkeley)/WM Keck Observatory
Mudança dramática na aparência de Netuno observada no final de 2019 até junho de 2023. Imagens foram obtidas pelo instrumento NIRC2 e pelo sistema de óptica adaptativa no Telescópio Keck II — Foto: Imke de Pater, Erandi Chavez, Erin Redwing (UC Berkeley)/WM Keck Observatory
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