Espaço

Por Redação Galileu

Cientistas conseguiram produzir a primeira imagem da Via Láctea com base na emissão de “partículas fantasmas”, chamadas de neutrinos. Os especialistas publicaram seus resultados em um estudo nesta sexta-feira (30) na revista Science.

Os neutrinos são partículas invisíveis que existem em abundância, mas normalmente passam direto pela Terra sem serem detectadas. Para se ter uma ideia, existem 100 trilhões delas passando pelo seu corpo a cada segundo sem interagir com ele.

A imagem baseada em neutrinos vem de observações do Observatório IceCube Neutrino, na Estação Polo Sul Amundsen-Scott, na Antártida, que detecta os sinais sutis dessas partículas de alta energia usando milhares de sensores enterrados no fundo de 1 km³ de gelo. Membros da Colaboração IceCube da Universidade de Estocolmo e da Universidade de Uppsala, ambas na Suécia, analisaram os dados adquiridos por lá durante dez anos.

Até então, a Via Láctea havia sido observada com luz estelar visível e ondas de rádio. No século passado, os astrônomos começaram a observar a galáxia em todos os comprimentos de luz possíveis, incluindo raios gama.

Acredita-se que esses raios sejam criados principalmente pela interação de raios cósmicos, prótons e núcleos de alta energia, com gás e poeira galácticos. Este processo deve produzir neutrinos também. Porém, grandes incertezas sobre a intensidade das interações de raios cósmicos em diferentes partes da Via Láctea tornaram as previsões de neutrinos um desafio.

"Lembro-me de dizer: 'Neste ponto da história humana, somos os primeiros a ver nossa galáxia em algo que não seja luz'", recorda em comunicado Naoko Kurahashi Neilson, física da Universidade Drexel (Estados Unidos) sobre o momento em que ela e dois doutorandos, Steve Sclafani e Mirco Hünnefeld, examinaram a nova imagem da Via Láctea pela primeira vez.

Neilson propôs a análise computacional inovadora usada no registro e atuou junto dos doutorandos no desenvolvimento de um algoritmo de aprendizado de máquina. O invento comparou a posição relativa, tamanho e energia de mais de 60 mil cascatas de luz geradas pelos neutrinos registradas pelo IceCube ao longo de 10 anos.

Imagem composta por um artista de uma foto da porção acima do solo do IceCube Neutrino Observatory junto com a primeira imagem baseada em neutrinos da Via Láctea — Foto: IceCube Collaboration (Yuya Makino)/U.S. National Science Foundation
Imagem composta por um artista de uma foto da porção acima do solo do IceCube Neutrino Observatory junto com a primeira imagem baseada em neutrinos da Via Láctea — Foto: IceCube Collaboration (Yuya Makino)/U.S. National Science Foundation

A origem das “partículas fantasmas” no espaço pode ser detectada a partir da interação delas com o gelo abaixo do IceCube, o que produz padrões fracos de luz. Alguns desses padrões são altamente direcionais e apontam claramente para uma área específica do céu, permitindo que os pesquisadores encontrem a origem dos neutrinos.

Erin O'Sullivan, membro do IceCube, explica ao site ILFScience que “os neutrinos de alta energia são produzidos em ambientes onde as partículas são aceleradas a energias extremas”, logo, “a detecção de neutrinos de alta energia da Via Láctea aponta para o fato de que aceleradores da natureza existem em nossa própria galáxia”.

Duas imagens da Via Láctea. A do topo foi capturada com luz visível e a de baixo é a primeira capturada com neutrinos — Foto: IceCube Collaboration/U.S. National Science Foundation (Lily Le & Shawn Johnson)/ESO (S. Brunier)
Duas imagens da Via Láctea. A do topo foi capturada com luz visível e a de baixo é a primeira capturada com neutrinos — Foto: IceCube Collaboration/U.S. National Science Foundation (Lily Le & Shawn Johnson)/ESO (S. Brunier)

Ao lado dos colegas, Neilson passou mais de dois anos testando seu algoritmo e simulando detecções de neutrinos. Quando eles finalmente alimentaram o algoritmo com os dados reais fornecidos pelo IceCube, o que surgiu foi a imagem mostrando pontos brilhantes correspondentes a locais na Via Láctea suspeitos de emitir as partículas invisíveis.

A cientista prevê que a astronomia de neutrinos seja aprimorada com métodos que a precederam, até que ela também possa revelar aspectos anteriormente desconhecidos do Universo. "É por isso que fazemos o que fazemos", diz ela. "Ver algo que ninguém jamais viu e entender coisas que não entendemos”.

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