Não sou negra, não sou branca. Sou uma pessoa parda de ascendência indígena

Não sou negra, não sou branca. Sou uma pessoa parda de ascendência indígena
"Mulher mameluca" (1641), de Albert Eckhout (Wikimedia Commons)
  Eu não sou negra, não sou branca. Sou uma pessoa parda de ascendência indígena. É assim que me classifico atualmente. Vivo essa dubiedade de quem tem a origem parda. Sei que não sou branca. Também não me vejo como uma pessoa negra. Mas, quando me olho no espelho, para as minhas origens, para a minha família, para a minha ancestralidade, sei que tenho minhas raízes indígenas. Mas a história indígena que tenho é marcada por apagamentos intencionais da sociedade e do Estado. É uma história difícil de reconstruir linearmente. Por isso, recorro a detalhes da memória e das formas de vida dos meus familiares, nos quais me encontro e me reencontro sem saber mesmo onde tudo isso pode dar. A retomada indígena é um desejo meu, como é para muitas pessoas pardas que têm conhecimento de suas ancestralidades indígenas no Brasil. Nesses detalhes da minha experiência e da minha trajetória de jovem estudante, são postos para mim muitos desafios de uma identidade em construção, reconstrução e, sobretudo, de retomada. Isso significa diversas dúvidas, inseguranças, desafios e também constrangimentos e enfrentamentos cotidianos com o Estado e com a sociedade brasileira. Não sou negra, não sou branca. Sou uma pessoa parda de ascendência indígena. E eu me chamo Manuella Bruta. Tenho 20 anos. Sempre pensei sobre a temática das identidades. Mas só agora consigo falar. Minha família nuclear nasceu no Ceará. Mas, na verdade, faz parte da minha numerosa família vem do Maranhão, precisamente de Timon, cidade que fica na divisa entre Maranhão e Piau�

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