Cadeira de Pernas Cruzadas nasceu por "acidente"; conheça a história da peça divertida

O objeto decorativo surgiu sem intenção nas mãos do artista plástico mineiro Luiz Philippe Carneiro de Mendonça durante a montagem de outra obra de arte

Por Rafaela Freitas


A Cadeira de Pernas Cruzadas no formato tradicional e na versão de menor tamanho (fora de série e muito rara); a peça é feita manualmente pelo artista Luiz Philippe Carneiro de Mendonça Instagram / @luizphilippecm / Reprodução

Chamando a atenção por seu formato curioso, a Cadeira de Pernas Cruzadas é uma criação do mineiro Luiz Philippe Carneiro de Mendonça. É em seu ateliê no Rio de Janeiro que ele fabrica peça por peça e depois as envia para todo o Brasil – e mundo.

Feito de madeira jacarandá, o móvel-escultura já foi parar em exposições e coleções privadas do planeta inteiro, além de decorar casas e espaços de arte. O preço do item é sob consulta diretamente com o artista.

O tipo de madeira e formato das pernas e pés da cadeira foi o que, inicialmente, chamou a atenção do artista para o modelo — Foto: Luiz Philippe Carneiro de Mendonça / Acervo Pessoal

A história do objeto tem início em 1990. "As coisas acontecem sempre sem querer, não tem uma forma certa de começar a arte. A ideia da Cadeira, em especial, foi um acidente", diz o artista plástico, formado na antiga Universidade Mineira de Arte.

Durante a criação de uma de suas assemblage – termo francês para montagens tridimensionais –, Luiz Philippe acidentalmente cruzou as pernas de uma cadeira que encontrou na rua. O assento deveria servir de base para a obra "O Martírio", uma mulher sentada de costas.

Obra "Martírio", 1996, 114 x 90 cm, de Luiz Philippe Carneiro de Mendonça. Assemblage, madeira, pentes de madeira e pigmentos em resina sintética sobre madeira — Foto: Luiz Philippe Carneiro de Mendonça / Acervo Pessoal

"Aquela cadeira era um modelo muito tradicional e brasileiro, que foi fabricado desde meados do século 19 até os anos 1970, provavelmente, e ela prestou perfeitamente ao projeto por conta daquela perninha parecendo um pé de cachimbo, que dá uma leveza", ele comenta.

Apartamento em São Luís, no Maranhão, exibe a Cadeira de Pernas Cruzadas no living. Projeto do arquiteto Roby Macedo — Foto: Denílson Machado / MCA Estúdio / Divulgação

No meio do processo, Luiz Philippe precisou desmontar a cadeira encontrada na rua para utilizar o encosto na assemblage e, acidentalmente, uma perna cruzou por cima da outra – e assim surgiu a primeira ideia da Cadeira de Pernas Cruzadas.

A peça se tornou parte do portfólio fixo do mineiro em 2004. "Alguns anos depois decidi colocar em prática e vi o potencial, porque as pessoas passavam pelo meu ateliê e a pediam", conta.

No hall de entrada, a luminária Vaidade, de Camilla D’Anunziata, tem a companhia da Cadeira de Pernas Cruzadas, de Luiz Philippe Mendonça. Projeto do arquiteto Rafael Zalc, do escritório Zalc Arquitetura — Foto: André Mortatti / Editora Globo

Luiz Philippe chegou a procurar por fabricantes para produzir essa cadeira já com as pernas cruzadas. Como não encontrou, ele mesmo começou a comprar as cadeiras e montar manualmente. "É até mais interessante, porque fica a mão do artista ali. Faço uma por uma, é algo limitado", diz.

Na fabricação, Luiz Philippe começa desmontando uma cadeira manualmente. Em seguida, as pernas são cruzadas de forma fixa. Apesar de dar prioridade ao Jacarandá, ele também cria versões em madeira de canela, cedro e variações de menor volume.

Para colecionadores, a Cadeira está disponível em duas edições. A primeira com a perna esquerda cruzada sobre a direita, e a segunda, ao contrário. As peças, numeradas, datadas e assinadas, têm o direito autoral registrado na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Cadeira do artista plástico Luiz Philippe Carneiro na casa do lago de Bruno Gaglisso e Giovanna Ewbank. Projeto de Hana Lerner — Foto: André Nazareth / Divulgação

Para Luiz Philippe, a peça deve se misturar ao ambiente ou em composições criativas. "Ela fica em um cantinho da sala, como se estivesse participando da conversa, sabe? Já vi pessoas terem um par das Cadeiras, como se elas estivessem batendo um papo", revela. "Vale lembrar que ela não foi feita para sentar. Trata-se de uma escultura. Acho engraçado quando vejo postagens na internet dizendo que ela deve ser desconfortável."

Dupla de Cadeira de Pernas Cruzadas, enviadas à loja Tamburins, na Coreia do Sul — Foto: Instagram / @luizphilippecm / Choe Minjung / Reprodução

Exemplares da obra podem ser encontrados em um museu privado em Madrid (Espanha), Bruxelas (Bélgica) e em um Instituto de Arte e Design nos Estados Unidos, por exemplo. Há, ainda, duas Cadeiras em uma loja da grife de cosméticos Tamburins, na Coreia do Sul.

O móvel também já foi parar na coleção privada de personalidades brasileiras, como na residência do lago do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank, e no acervo de Gilberto Chateaubriand – suas peças atualmente encontram-se no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

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