Por Matheus Rodrigues

Rede Amazônica

O mês de junho é considerado pelo mundo inteiro como o mês do orgulho e, para os amazonenses, a data marca também a chegada do tão esperado Festival Folclórico de Parintins. O que essas duas coisas têm em comum? Tudo! Afinal, o espetáculo representa uma importância grandiosa para a comunidade LGBT+. Muitos membros dessa sigla ajudam a fazer essa festa acontecer - seja nos bastidores, nas produções de figurinos ou até como protagonistas de momentos especiais na arena do Bumbódromo.

Antes de tudo, você precisa saber que o Festival de Parintins, além de ser uma festa popular e folclórica, é uma festa política. Sim, durante as apresentações, em vários momentos, são apresentadas mensagens de resistência indígena e negra, além da luta pela preservação das florestas e os direitos de todas as vidas - inclusive as LGBT+. No boi-bumbá de Parintins, não há espaço para nenhum tipo de preconceito.

Muito além de representar a comunidade na arena, o Festival de Parintins tem uma parcela de importância muito mais profunda na inclusão de pessoas do movimento LGBT+. Afinal, a festa gera emprego e renda também para indivíduos muitas vezes marginalizados, principalmente transexuais e travestis - que ainda enfrentam muitas dificuldades ao se inserir no mercado de trabalho. Na festa dos bois, ganham espaços para mostrar seus talentos e sua arte através da produção de figurinos e indumentárias, por exemplo. Muitos vivem e se sustentam do ‘boi’.

Representatividade de quem faz o espetáculo acontecer

Negreyce Andrade é figurinista do Boi Garantido desde 2020. Ela produz indumentárias de itens individuais que compõem o festival, como a Rainha do Folclore e a Porta-Estandarte. Nos últimos anos, a profissional tem ganhado destaque por assinar as fantasias da mais bela da aldeia, a Cunhã-Poranga Isabelle Nogueira.

O primeiro contato de Negreyce com os belíssimos trabalhos de adereços surgiu em 1999, como ajudante, à convite do ex-pajé do Boi Caprichoso Waldir Santana. Hoje, a artista se consagrou com uma das mais renomadas aderecistas do festival, com um estilo único de indumentárias grandiosas, repletas de muitas penas de faisão e a mistura de cores vibrantes. A artista celebra o fato de ser uma das representantes da comunidade transgênero no Festival de Parintins e no Boi Garantido.

Figurinista Negreyce Andrade e de Isabelle Nogueira, ao lado, uma das indumentárias assinada pela artista para a Cunhã-poranga do Boi Garantido — Foto: imagens de internet

“Me sinto uma mulher muito emponderada e feliz por representar essa sigla tão importante da comunidade, e trabalhar na confecção de figurinos dos itens individuais no Boi Garantido e no Festival de Parintins. Toda a confiança e dedicação que é posta sobre mim reforçam o comprometimento da festa com a comunidade. Essa é a importância da luta contra o preconceito: dar oportunidade para pessoas LGBT+ mostrarem seus talentos, suas artes e seus trabalhos para que o mundo inteiro conheça”, destaca a artista.

No Boi Caprichoso, a comunidade LGBT+ assume postos importantes dentro de todos os processos, desde a construção do boi nas pesquisas e na base estrutural até o boi de arena. Existem representantes da comunidade transgênero dentro do próprio item Marujada de Guerra, no quadro de artistas de figurinos e no comando das coreografias.

No lado azul, em respeito à rivalidade de Parintins, a cor vermelha é substituída pelo coral na bandeira LGBT+ — Foto: Foto Reprodução Sejusc

Para o presidente do Conselho de Artes do Boi Caprichoso Ericky Nakanome, a pauta LGBT+ não é apenas um tema de espetáculo, mas, sim, o próprio Boi, que é construído pelo povo e por muitas mãos. Erick destaca a história que relembra o tempo de um dos primeiros QG’s do Boi Caprichoso, na casa de dona Ednelza Cid, onde ela acolhia pessoas excluídas por conta do preconceito e, em muitos casos, até rejeitadas pela própria família.

“Dona Ednelza Cid, por muitos anos, foi uma grande mestra. Ela acolhia essas pessoas em sua casa e, em troca, elas a ajudavam a bordar e costurar. Daí, nós vamos ter Valdir Santana e Manoel Ribeiro - nomes de pessoas que viveram essa época e eram acolhidas dentro do ateliê do Caprichoso por meio dessa grande mãe. Quando eu entrei no boi, ainda criança, eu lembro que havia um estigma, inclusive, sobre o Boi Caprichoso, ao ponto de ser chamado de “boi das bichas”. Nós tínhamos, onde hoje é o ateliê de figurinos, um ateliê que chamávamos de “ateliê das bichas”. Lá estavam grandes artistas: Valdir de Santana, Helerson Maia, Edwan Oliveira e Paulo Rojas, que faziam as indumentárias mais belas do festival naquela época”, revela Ericky.

Ericky Nakanome - Presidente do Conselho de Artes do Boi Caprichoso — Foto: imagens da internet

“Então era assim que era feito o boi, por essas mãos! Desde quando a brincadeira começou tem sido assim e essa é uma das narrativas quem mostram a relação dessa grande festa com a comunidade LGBT+”, complementa.

A própria diversidade na arena 🏳️‍🌈✊🏽

A luta está longe de terminar, mas não dá pra negar que algumas conquistas estão sendo alcançadas. Muitas pessoas da comunidade LGBT+, por muito tempo, eram apenas limitadas aos bastidores do festival. Hoje, isso mudou, alcançando o protagonismo em momentos importantes na arena do Bumbódromo, como símbolos de resistência e diversidade durante o espetáculo.

Um exemplo disso é a porta-estandarte Lívia Christina, do Boi Garantido. Assumidamente lésbica, Lívia foi um dos grandes destaques da segunda noite de apresentação do Garantido no ano passado (2023), quando surgiu com uma indumentária nas cores da bandeira LGBT+ durante a celebração folclórica em defesa das humanidades.

Lívia Christina - Porta-estandarte do Boi Garantido — Foto: imagens da internet

“Eu sinto como se tivesse duas grandes nações: além da minha nação encarnada do Boi Garantido, eu tenho também uma outra nação, que é o povo LGBT. Eu me sinto muito, muito grata por representar cada um de vocês ali na arena. E eu sei que existem outros representantes da comunidade que fazem parte do contexto geral do espetáculo - como brincantes, artistas, Tuxauas e muitos outros - que estão ali e representam cada letra dessa sigla. Então eu tenho muito orgulho de erguer o pavilhão do Boi Garantido, mas que também é o pavilhão da diversidade, a bandeira da inclusão. Fico feliz em saber que muitas pessoas, hoje, assistem ao festival e se enxergam através da minha figura, como uma porta-estandarte lésbica, assumida, e que defende a causa dentro e fora da arena", declara a Porta-estandarte.

Mais do Rede Globo

Edição deste sábado, dia 29, foi gravada no Bar do Zeca Pagodinho, em São Paulo

'Altas Horas' especial Zeca Pagodinho comemora o aniversário de Serginho Groisman

Programa exibe ainda o segundo episódio da série 'Tetra30', que celebra os 30 anos da conquista do quarto título mundial de futebol da seleção brasileira

Estreia do quadro 'Seletivas' é uma das atrações do 'Esporte Espetacular' deste domingo

Padre Marcelo Rossi faz musical na primeira parte do programa

Juliana Paes e Reynaldo Gianecchini no júri da semifinal da ‘Dança dos Famosos’

No mesmo horário, também serão exibidas as partidas entre São Paulo e Bahia e Fortaleza e Juventude

TV Globo exibe duelo entre Grêmio e Fluminense neste domingo