Por Felipe Martins, Programação TV Liberal

Divulgação/ Paris Filmes

Está em cartaz nos cinemas de todo país o filme “Grande Sertão”, que traz uma visão perspicaz do diretor Guel Arraes e do roteirista Jorge Furtado, sobre a realidade da guerra entre policiais e bandidos nas periferias urbanas do Brasil. Ambientada em uma favela denominada de “Grande Sertão” conta a história de dois jovens que se apaixonam e vivem descobertas em meio a guerra. Considerando o tema, como uma tragédia brasileira, o diretor percorre sobre o ponto de vista de todos os lados operantes dessa guerra, trazendo uma narrativa futurista e abordando diversas problemáticas sociais.

O longa, sendo uma adaptação do livro “Grande Sertão: veredas” do romancista João Guimarães Rosa, publicado em 1956, conta a história de Riobaldo, um ex-jagunço que se apaixona por Diadorim em meio às guerras do sertão de Minas Gerais, Goiás e Bahia. Tendo como narrador-personagem, o próprio Riobaldo.

Para Guel Arraes, era grande o desejo de adaptar o livro de alguma maneira, partindo de dois pontos. Primeiramente, a urgência de se falar de uma demanda social brasileira: a guerra urbana no Brasil, considerada sem solução a curto e médio prazo. Durante o processo de estudos, Guel e Jorge, identificaram que as demais tramas inspiradas na obra, abordavam somente uma visão, diferentemente de Guimarães que partia sempre do olhar da guerra. Portanto no filme, adaptaram para todos os pontos de vista: da polícia, do bandido e da comunidade. Assim como no livro, o longa traz a narração de Riobaldo, um personagem que tem uma visão global da guerra na periferia. “Alguém que sai da comunidade, um professor e entra na guerra, por várias razões, e ele que narra essa guerra, ele já conhecia o chefe da polícia, e ele começa a admirar o chefe dos bandidos, ele tem sua visão. Então, esse personagem poderia ter uma visão global dessa guerra urbana brasileira.” disse.

O segundo ponto, Guimarães observava a guerra dos cangaceiros de uma forma épica, teatral e poética, ou seja, Guel e Jorge pretendiam renovar o gênero do filme de favela, que abordavam sempre a guerra de uma maneira realista e jornalística. Com isso, comunicaria com o contemporâneo, como uma tragédia. “Não como uma pessoa que não presta mais atenção nesse assunto, de novo, porque ele termina sendo banalizado, na centésima, milésima vez, quando você ouve: ‘Ah, 30 mil mortes por ano, a maioria negros e jovens’ você já ouviu isso 10x todos os anos, e é isso. Então como ver essa guerra de uma forma diferente, e você dizer isso não é uma guerra comum, a gente não pode se habituar com isso, isso é uma tragédia brasileira” contou.

Guel Arraes, diretor e Caio Blat como Riobaldo em "Grande Sertão" - TV Liberal — Foto: Helena Barreto

Para Caio Blat, o intérprete de Riobaldo, o personagem é de uma dimensão infinita, da mais erudita literatura brasileira para um filme popular e contemporâneo. O personagem praticamente carrega todas aquelas dores da guerra dentro dele, e é gigante ao mesmo tempo é um homem mais comum. “Foi uma honra, o Riobaldo tem essa visão global da guerra, ele tá do lado dos moradores, ele tá do lado das crianças, ao lado da polícia, acredita que a educação, e a segurança pode transformar aquele lugar, e de repente ele é atropelado pela guerra e passa a fazer parte, e entende os lados dos bandidos, que trocam de lado, o tempo todo, esse dilema ético que existe ali.” sobre interpretar o protagonista do filme. Outro fardo a se carregar, é o seu maior sonho: o seu amor irresistível por Diadorim, pelo qual só adentrou na guerra por causa dela.

“É um filme de guerra, cheios de efeitos especiais, tem tratamento de som que eu nunca vi no cinema brasileiro, é o mais contemporâneo, mais atual, que fala da guerra atual e que ao mesmo tempo é o filme mais erudito, mais sofisticado, vai mais fundo na ferida brasileira, é um trabalho colossal.” disse Blat, elogiando o filme.

Para Luisa Arraes, o “Grande Sertão” traz muitos elementos da tragédia, compara Diadorim com Tirésias, um sábio e profeta grego que percorria os mundos masculino e feminino. Acredita que Diadorim seria um infiltrado no meio da guerra, “Ele tá ali, as pessoas não sabem, uma coisa que ele sabe, ele tem um ponto de vista que ele traz pro universo masculino, que eu acho muito interessante que é o perigo do universo feminino também que há dentro dele, então ele tá ali no meio daquela guerra questionando a coisa mais perigosa para esses homens, não é a morte, a violência, mas é a própria sexualidade deles.” disse.

Durante a sua preparação para o personagem, a atriz não desejava estereotipar o Diadorim apenas como um homem masculino. “Queria que o Diadorim fosse um homem gay, um homem feminino, não queria que ele fosse um homem masculino, acho que eu tentei levar isso, porque eu fiquei pensando muito.” contou.

Luisa Arraes como Diadorim em "Grande Sertão" - TV Liberal — Foto: Helena Barreto

Segundo a atriz, a temática de gênero da infância à fase adulta requer um entendimento de como cada ser humano se reconhece, portanto, Diadorim entende e vive essa flexibilidade dos dois mundos. “A sociedade encastra muito de quando você é mulher do masculino, e encastra do que é feminino nos homens, e eu queria que o Diadorim tivesse ali os dois, digamos, na sua plenitude.” disse. E acrescenta “E isso é perigoso porque os homens ficam mexidos, eles ficam quase com inveja, e o que que há de perigoso no feminino eu acho, é essa conexão com o seu interior mesmo” afirmou.

Rodrigo Lombardi apresenta Joca Ramiro, como um líder de um bando que lida com pessoas, com cartel, com milícias, com o poder estabelecendo a paz naquela comunidade e que ao mesmo tempo criando a sua filha Diadorim. “Vendo que a sua filha tem o seu DNA, tem a estrela tatuada na nuca, tem todas as qualidades que você tem como guerreiro, ela tem no corpo de uma menina, e ele tenta afastar isso dela, mas o destino não deixa então ele acaba aceitando e trazendo essa garota pro bando de uma maneira muito peculiar, que é onde nasceu uma história de amor dentro desse filme.” contou.

Para Sterblitch, considera a maldade de Hermógenes partindo do lugar de liberdade, descrevendo o personagem, como alguém que se sente livre, acima do bem e do mal, não liga para a sociedade, não liga pras instituições, não liga pra igreja, pro colégio, pra família, pra paternidade, e que o bandido acredita ter razão. “Ele não se sente bem na sociedade, a sociedade não dá nada pra ele. E ele vê, todas as pessoas que representam a sociedade são ‘bandidos’, o bandido pensa: ‘caramba, desde pequeno nunca tive nada, aí sou considerado bandido? para todas as pessoas que tem tudo estão num lugar de poder, que deveriam estar me ajudando a ter alguma coisa, roubam muito mais do que eu’.”. contou.

“Todos nós temos tudo dentro da gente, a gente perde às vezes com o pior que tem dentro da gente, então acho que é um personagem que tem dentro de todo mundo, que ao mesmo tempo tem essa maravilha poética de estar acima, e ele não liga pro julgamento de ninguém.” Assim como no filme, em que todos os personagens passam por questões éticas, morais e existenciais, na realidade, na sociedade não seria diferente reflete Eduardo sobre essa problemática.

Rodrigo Lombardi, Luis Miranda e Eduardo Sterblitch como Joca Ramico, Zé Bebelo e Hermógenes respectivamente em "Grande Sertão" - TV Liberal — Foto: Instagram/Helena Barreto/Divulgação/Paranoid Filmes

Luis Miranda, intérprete de Zé Bebelo, um militar, relata em tom descontraído, que ser dirigido por Guel é sempre um susto, “Então, você lê e depois lendo a partir do olhar do Guel, a construção nasce muito de quem te chama pra fazer aquilo, o Guel queria construir um personagem que era um militar desconstruído, fanfarrão, divertido, rígido, engraçado, dramático, humanitário, ético e eu perguntei: ‘Tem um tempo pra fazer isso tudo?’ e ele respondeu: ‘Tem sim, faça’.”. Ainda, relatando sobre o filme, o ator afirma que todos fizeram um ótimo trabalho e o que espera do resultado, “Me desculpe a modéstia, mas a gente trabalhou pra cacete, e a gente fez o nosso melhor, e tá lá o que a gente entregou, a gente só quer sucesso” disse.

O filme “Grande Sertão” é dirigido por Guel Arraes. O roteiro é assinado por Jorge Furtado. Uma adaptação contemporânea do livro “Grande Sertão: veredas”, do romancista João Guimarães Rosa, um clássico da literatura brasileira. Com Caio Blat, Luisa Arraes, Rodrigo Lombardi, Eduardo Sterblitch, Luis Miranda, Mariana Nunes, Luellem de Castro e grande elenco. O longa retrata as mazelas da guerra urbana no Brasil. Em exibição nos cinemas de todo o Brasil.

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