Relatório de sustentabilidade: o que ele diz sobre sua empresa?
Crédito da imagem: Vitor Paladini via Unsplash

Relatório de sustentabilidade: o que ele diz sobre sua empresa?

Por Marina Grossi*

Reportar informações socioambientais é um hábito já assimilado pelas empresas brasileiras há quase três décadas, desde os primeiros balanços sociais, metodologia criada nos anos 1990 pelo sociólogo e ativista pelos direitos humanos Herbert José de Souza, o Betinho, à frente do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) até a chegada dos padrões internacionais da Global Reporting Initiative (GRI), no início da década seguinte. Mais recentemente, a demanda por informações não financeiras vem crescendo à medida em que uma ampla gama de partes interessadas, e investidores em particular, querem utilizar critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) em sua tomada de decisões. 

A demanda por informações ESG aumentou nos últimos anos, motivada, em parte, por diversas iniciativas de relato voluntário, tais como as Forças Tarefas para divulgações financeiras relacionadas às mudanças climáticas e de natureza (TCFD e TNFD nas respectivas siglas em inglês), o Carbon Disclosure Project (CDP), entre outras. Mais recentemente, o cenário é de busca por uma maior padronização das informações ambientais, sociais e de governança. 

Há três grandes esforços em andamento nessa direção: o International Sustainability Standards Board (ISSB), a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) e o European Financial Reporting Advisory Group (EFRAG). Cada um tem como objetivo aprimorar e evoluir os relatórios corporativos para incluir e considerar as informações de sustentabilidade de diferentes maneiras. No Brasil, recentemente, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) reforçou a agenda dos relatos não financeiros ao lançar uma resolução que obriga as companhias de capital aberto a publicarem relatórios a partir de 2026. 

Ao mesmo tempo em que as regulamentações e iniciativas voluntárias colocam os relatórios de sustentabilidade nos holofotes, é nítida ainda a lacuna de credibilidade que esses documentos enfrentam. A recente Pesquisa Global com Investidores 2023 realizada pela multinacional de auditoria e consultoria PwC mostra que 98% dos investidores brasileiros afirmam que os relatórios corporativos de sustentabilidade contém informações não comprovadas - o chamado greenwashing. A média é superior ao contexto mundial, onde o índice de percepção da prática é de 94%.

Esse cenário complexo levou o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) a realizar, em parceria com a consultoria de sustentabilidade Report, a primeira edição brasileira da pesquisa Reporting Matters. Com metodologia desenvolvida pelo World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), em conjunto com a Radley Yeldar, o estudo avaliou relatórios referentes a 2022 publicados por 77 empresas, de diversos setores da economia com atuação no país. A análise considerou 16 critérios e 81 subcritérios - facilidade de acesso online, eficácia dos mecanismos de implementação e controle, transparência, determinação de metas e compromissos em sustentabilidade, entre outros. 

Alguns dados chamam a atenção: a maioria das empresas (91%) adota o padrão da Global Reporting Initiative (GRI), de forma isolada ou em conjunto com outras diretrizes; 63% dos relatórios analisados trazem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU prioritários da empresa, mas somente 10% definiram metas claras ligadas aos ODS. Além disso, 74% dos relatórios receberam auditoria externa (de uma parte ou de todo o relatório). 

Neste atual contexto da crise climática, é importante destacar que 70% das empresas consideram o tema de grande materialidade para seus negócios, sendo esse o tema de meio ambiente mais importante - o segundo é a gestão da água, uma preocupação material para 42% das companhias. Ao mesmo tempo, o Reporting Matters mostrou que 58% possuem compromisso net zero (de reduzir as emissões de gases do efeito estufa) até 2050; mas 28,5% dos relatórios analisados não apresentam nenhum tipo de compromisso formal em reduzir e neutralizar as emissões que agravam o aquecimento global. 

Nem greenwashing, nem pecar pelo excesso de informações: o estudo conduzido pelo CEBDS e Report mostra que existe um ponto ótimo para a confecção dos relatórios, que podem ser uma ferramenta valiosa para as empresas olharem para sua própria gestão das questões ESG, prestarem contas à sociedade e alcançarem seus públicos de interesse de uma forma mais efetiva. 

Assim, encontrar alinhamento entre os padrões de relatórios de sustentabilidade que já existem e os que estão emergindo ajudará a atender às necessidades dos mercados de capitais globais, incluindo investidores que alocam capital internacionalmente. Como voz do setor empresarial brasileiro há 27 anos, o CEBDS acredita que a capacitação das empresas é um dos pilares para a promoção de um novo modelo de desenvolvimento, melhor para as pessoas, os negócios e o planeta, e isso vale também para a construção de relatórios que cumpram a função de informar os impactos das companhias na sociedade - sejam eles positivos ou negativos. O que o relatório de sustentabilidade diz sobre sua empresa?

* Marina Grossi é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com cerca de 110 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro

Claudio Mariano

Base Industrial de Defesa, Comunicação Corporativa e CPESG

3 m

Gostei demais do artigo, Marina Freitas Grossi!! Obrigado por compartilhar conosco sua visão. Percebo com frequência, com dados de pesquisas divulgadas, como esses que estão no artigo, uma compreensão da importância do tema, porém com poucas ações efetivas nesse sentido. Ainda assim, estamos avançando no tema. Sigamos na jornada!!

Giuliana Jorge Netto

Sustainability/ESG Advisor I Lovinklaan Foundation Board Member I Especialista em Sustentabilidade/ASG I Mãe da Íris

3 m

Estamos 100% de acordo! Recentemente publiquei um artigo na mesma linha desta reflexão: https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:linkedInArticle:7183175581264474112/

Francisco Ramires

GERENTE COMERCIAL at KEY CONSULTORIA E TREINAMENTO LTDA

4 m

Excelente reflexão. Parabéns

Cristiano Monteiro Parreiras

Diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade na Mineração Morro do Ipê S.A

4 m
Onara Lima

Impulsionando a Transformação Estratégica do ESG empresarial | Processos e Resultados Sustentáveis

4 m

Excelente Marina Freitas Grossi . Ainda vejo o Relatório de Sustentabilidade muito segregado da Estratégia do negócio. Precisamos conectar e trazer a participação da Alta Liderança de forma mais construtiva nesse processo que fica muito com a área de Sustentabilidade.Flávia Sitta Gabrielle Egilio de Sales Só quem já fez ou faz o relatório sabe o quão desafiador é.

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