Por que gasto tempo ensinando?

Do BTG Academia a Feynman

Dar aulas não é minha profissão. Ainda assim, volta e meia me encontro em uma sala de aula ensinando. Lembro bem de uma das primeiras vezes que isso aconteceu. Estava no exército, como aspirante a oficial no final do serviço militar, e coube a mim dar a aula sobre topografia para toda companhia. Sala lotada de recrutas, muitos com pouquíssima escolaridade e eu tendo que ensinar sobre curvas de nível, azimute, norte magnético e outros conceitos nada convencionais. Um tremendo desafio para quem não tinha experiência dando aulas. Eu conhecia bem o assunto, mas não sabia nada sobre dar aulas. Peguei alguns manuais sobre Instrução (aulas no jargão militar) e montei a aula que no final das contas ficou razoavelmente boa. Objetivo alcançado, missão cumprida.

Desde então, me vi muitas outras vezes nessa situação de professor ocasional. Entre 2013 e 2020 dei aula de opções e derivativos no BTG Academia, o programa de formação em mercado financeiro aqui do banco. Nesse período, fui eleito seis vezes o melhor professor do programa. Ano passado montei o Crypto Sprint, para ensinar a operar e investir em crypto de forma consciente.

Além dessas aulas e cursos mais estruturados, estou frequentemente dando palestras, participando de painéis e conferências. Sempre com o desafio de explicar de forma simples, assuntos complexos.

 No começo de fevereiro, me convidaram para ser professor visitante de crypto e blockchain no Inteli – Instituto de Tecnologia e Liderança, faculdade criada pelo André Esteves e Roberto Sallouti para formar líderes da área de tecnologia no Brasil. Turma ótima, engajada, curiosa e com vontade de aprender e crescer

 Dar uma aula, ou fazer uma palestra, exige preparação, tempo e dedicação. Fazer isso de forma paralela ao trabalho normal exige ainda mais. Fatalmente, noites e finais de semana de trabalho, sem ganhar nada a mais. Em uma primeira análise, não parece fazer muito sentido. Mas faz. E explico aqui em quatro principais pontos:

 1)     Ensinar é o último estágio da aprendizagem. Quando você precisa dar uma aula, você revisa o que sabe e identifica as lacunas no seu conhecimento. Isso te faz ir atrás do que falta, fazendo com que você se aprofunde cada vez mais no tema em questão. Quando dá aula, você testa o que de fato entendeu sobre o conteúdo;

 2)     O Brasil é um país extremamente carente em educação e conhecimento. Um relatório recente feito pelo BTG sobre o estado atual da nossa educação, mostra que nossa situação é péssima. Os resultados em testes nacionais e internacionais são, há anos, repetidamente ruins. É importante que cada um contribua como puder, e com o conhecimento que tem, para ajudar a melhorar esse quadro. Ensinar gera um impacto multiplicativo com o tempo;

 3)     Na esteira do ponto anterior, dividir conhecimento deveria ser um dever de todos. Especialmente em um país carente de boa educação como o nosso;

 4)     É bom! Sentir que você está despertando interesse em outra pessoa e que o conteúdo ensinado poderá também ser passado adiante é muito gratificante.

 Richard Feynman, físico ganhador do Prêmio Nobel e umas das grandes mentes do século passado, foi também um dos melhores professores de todos os tempos. E tirava prazer disso. Por isso, sempre que tiver uma oportunidade, ensine, compartilhe, oriente, desperte curiosidade. Aprenda a tirar prazer disso também. Nunca é demais passar conhecimento adiante.

Abraços,

AP

Insta @anportilho

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