Os impactos da redução de nossa superfície de dunas e praias

Os impactos da redução de nossa superfície de dunas e praias

O oceano pulsa, assim como pulsam as praias, as dunas. Nossa costa é naturalmente dinâmica, não para de se mover, num processo contínuo de erosão e acresção, normalmente em equilíbrio. Mas assim como vários outros processos, essa movimentação pode ser acelerada e alterada pelo ser humano. E está sendo! 

Um relatório divulgado recentemente pelo MapBiomas mostrou que, em 36 anos, perdemos 15% da nossa superfície de dunas e praias, ou seja, ficamos num saldo negativo. Esse número representa um total de 70 mil hectares – o que equivale a quase 100x a área do Parque Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição (SC)! Um dos motivos dessa perda é a ocupação humana.  

A ocupação de dunas e praias, ou supressão da vegetação costeira, fragiliza o equilíbrio desse ecossistema e pode levar a um processo de erosão, ou seja, pode levar à perda de área da costa. Temos muitos exemplos em todo litoral brasileiro. Talvez o mais comentado recentemente seja o caso de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. O município é famoso pelos seus grandes edifícios à beira-mar, construídos sobre a faixa de areia sujeita à dinâmica costeira. Não é por acaso que aumentou o número de tubarões vistos na orla. Uma possível explicação é a influência da dragagem na cadeira alimentar, fazendo com que pequenos peixes se alimentem dos crustáceos agregados aos sedimentos de areia remexidos pela obra e eles atraem outras espécies maiores que se alimentam deles, como os tubarões. Ou seja, mudamos a dinâmica das espécies marinhas e não apenas o turismo ou a prática de surf na região.

 Ao longo dos anos foi perdida grande área de praia, que agora está sendo ampliada de forma artificial por meio de dragagem. Segundo o estudo do MapBiomas, o estado de Santa Catarina perdeu 21% da superfície de praias e dunas, precisamos olhar para esse dado com atenção!

Sabemos que o oceano pulsa, está em contínuo movimento, segue sua ordem natural e reage às intervenções artificiais...e vai seguir alterando as paisagens da costa brasileira. O que precisamos, cada vez mais é entender como as mudanças que não são naturais geram reflexos na força dos ventos, na dinâmica de chuvas, na alimentação e claro, na economia – não só para quem vive em cidades do litoral. Quando entendemos melhor as causas e consequências das mudanças que promovemos, aumentamos as chances de nos adaptar aos novos cenários e até de encontrar na própria natureza soluções para alguns desafios atuais!

Janaina Bumbeer, especialista em Conservação da Biodiversidade na Fundação Grupo Boticário

 

 

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