O poder da equidade

O empreendedorismo feminino tem alcançado conquistas  importantes no Brasil e no mundo. Devemos comemorá-las, sem dúvida, mas ainda mais relevante é a reflexão sobre a importância do aumento da presença feminina para o desenvolvimento socioeconômico mundial. Dados do relatório Situação da População Mundial 2017, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), apontam que a promoção da igualdade de gênero poderia somar US$ 28 trilhões ao PIB global. Parafraseando a própria ONU, não faz nenhum sentido deixar metade do mundo para trás. Mesmo representando metade da população mundial, a participação das mulheres na força de trabalho, nos cargos de liderança e no PIB global ainda não acompanha essa proporção, o que deve ser encarado como uma real oportunidade para a construção de uma sociedade mais próspera, inclusiva e diversa.

Quando lembramos que há apenas 30 anos, com a constituição de 1988, é que as mulheres brasileiras foram reconhecidas como iguais perante os homens em direitos e obrigações, é que enxergamos como são recentes algumas das mais importantes conquistas femininas. Mas avançamos rápido: de acordo com o último relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM), feito em parceria com o Sebrae, as brasileiras já respondem por 51% dos empreendimentos em fase inicial do País. Embora as mulheres sejam responsáveis por mais da metade das empresas abertas, a participação cai para 14,3% quando falamos de negócios estabelecidos, dado que revela que as empreendedoras encontram mais obstáculos que os homens para que seus negócios prosperem. Uma das causas é a falta de autoestima financeira, fator apontado em pesquisas como limitador do empreendedorismo feminino. Ocorre quando, mesmo com dinheiro ‘em caixa’, algumas mulheres não se apropriam do universo financeiro em suas vidas ou empresas. Costumam delegar a gestão financeira por falta de afinidade, experiências e referências, por acharem que esse é um território masculino.

Analisar os erros e acertos deste percurso podem orientar os próximos passos da jornada. Quem já percebeu a relevância de incentivar a participação da mulher na economia, fornecendo ferramentas para seu desenvolvimento dentro de uma companhia ou liderando sua própria empresa, entende o quanto esse movimento é sustentável. Diversas empresas e instituições dedicam-se a transformar esse cenário, pois acreditam nos benefícios de um ambiente de trabalho mais inclusivo. O estudo A diversidade como alavanca de performance, divulgado em janeiro deste ano também pela Mckinsey, com mais de 1 mil empresas em 12 países, confirmou o vínculo entre diversidade – não só de gênero, mas também étnica e cultural –, desempenho financeiro e geração de valor para empresas. Analisando apenas o gênero, quando comparadas com as demais, as companhias com práticas avançadas apresentaram probabilidade 21% maior de ter margem EBIT superior, além de possibilidade 27% maior de criar valor no longo prazo. E não se trata apenas de resultado financeiro, mas também de impacto positivo, já que negócios femininos são reconhecidos por possuírem maior engajamento social.

Um dos exemplos de programas que trabalham pelo fortalecimento da autoestima feminina e o aprimoramento das habilidades de gestão empresarial é o Aceleração Itaú Mulher Empreendedora, desenvolvido em parceria com a Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para mulheres já com negócios estruturados. O objetivo é oferecer todas as ferramentas – incluindo treinamento em finanças, acesso a capital e a serviços financeiros – para que elas se apropriem da gestão financeira de suas empresas e vislumbrem oportunidades reais de crescimento. O Aceleração faz parte do Itaú Mulher Empreendedora (IME), criado em 2013 para conectar, capacitar e inspirar empresárias, aumentando a presença feminina nos negócios. Hoje são 21 mil participantes, com acesso a vídeos e outras ferramentas gratuitas, além de encontros presenciais para networking e parcerias.

São aspectos fundamentais para o fomento do empreendedorismo feminino no Brasil oferecer visibilidade ao tema, inspirando inclusive a participação das novas gerações, oferecer ferramentas para que as mulheres assumam de forma confortável a gestão financeira de seus negócios, além de incentivar o trabalho em rede, por meio de parcerias que possibilitam uma visão estratégica. A soma de todos esses fatores leva ao empoderamento das mulheres e seus impactos positivos na sociedade, um movimento poderoso que precisa ser fortalecido.

*Denise Hills,  Chief Sustainability Advisor no Itaú Unibanco e Maria José Tonelli, coordenadora do programa Aceleração Itaú Mulher Emprendedora na FGV.

 

 

Entre para ver ou adicionar um comentário

Conferir tópicos