The First Republic Bailout

The First Republic Bailout

Nos dias que antecedem as decisões dos bancos centrais em reverem a sua política monetária há necessidade de resgatar bancos.

No passado mês de março e na sequência da falência do Silicon Valley Bank, os 11 maiores bancos americanos emprestaram através de uma linha de emergência 30 biliões de dólares ao 15º maior banco americano (o First Republic Bank) por forma a garantir estabilidade e confiança aos seus depositantes. De lá para cá, o banco perdeu 70 biliões de dólares em depósitos (mais de 40%) e viu o seu marketcap passar de 23 biliões para 650 milhões de dólares.

Os bancos aplicam o dinheiro que os depositantes lá colocam de uma forma objetiva. Ou concedem crédito a uma taxa de juro (em regra variável) que reflita o risco da operação esperando o reembolso da operação sem que tal agrave as imparidades ou aplicam em obrigações (cuja taxa é fixa e genericamente obrigações do tesouro) que classificam como held to maturity (ou seja permanecerão no balanço até à sua maturidade e reembolsadas na integra).

Com a inversão da política monetária por parte dos bancos centrais, a subida da taxa de juro faz cair o preço das obrigações no mercado aumentando a yield das mesmas e abre-se uma pergunta. Será preferível tomar risco de um qualquer banco europeu que remunera depósitos a 1% ao ano (e na certeza de que os depósitos apenas estão “garantidos” até determinado limite) ou comprar agora no mercado obrigações de dívida pública alemã a dois anos com yields atuais de 3%?

Ora, foi exatamente isto que originou a corrida aos depósitos e a necessidade de salvar o First.

Isto, e uma deficiente política de imunização do risco taxa de juro. O banco fechou o ano de 2022 com unrealized losses (perdas potenciais em obrigações held to maturity) na carteira de acima de 22 biliões de dólares, e viu-se na contingência de vender com prejuízo tais obrigações (que se mantidas até à maturidade não resultariam em perda nenhuma) para satisfazer as saídas massivas de depósitos (a esta altura todos compreendem a razão pela qual não é possível a mobilização antecipada de alguns depósitos).

O First foi resgatado pelo JP Morgan e é simples perceber porquê. Mais de 20 biliões de dólares em depósitos do First não estão cobertos pelo fundo de garantia aos quais se somam os 30 biliões que os 11 maiores bancos americanos lá colocaram e que teriam de ser resgatados dentro de 90 dias.

Caso o First não fosse resgatado (e como isso salvaguardados todos os depósitos e sem que os contribuintes americanos tivessem de pagar 13 biliões de dólares) é fácil adivinhar o que fariam grande parte dos titulares de sete triliões de dólares de depósitos não cobertos pelo fundo de garantia amanhã. Passariam as suas poupanças de bancos to big to save para bancos to big to fail, criando pura e simplesmente o caos no sistema financeiro.

Este é o reflexo da política monetária dos bancos centrais. Ao mesmo tempo que se aumentam as taxas de juro para combater a inflação injetam biliões para salvar bancos para evitar que outros bancos tenham de ser salvos, criando liquidez e com isso inflação, que obrigará os bancos centrais a subir as taxas. E sempre que sobem as taxas, os bancos registam mais unrealized losses e maiores imparidades nas suas carteiras de crédito.

E na verdade nem o resgate do Silicon Valley Bank nem o resgate do First trouxeram calma ao sistema na medida em que outro banco (Pacwest Corp) está em vias de seguir o mesmo caminho.

Sabendo-se que a perda potencial na carteira de obrigações dos quatro maiores bancos americanos é de 212 biliões de dólares, é tempo de os bancos centrais entenderem que nem sempre os fins justificam os meios.

Muito bem António! Análises sempre muito cuidadas ao sistema financeiro. Gostaria de conhecer a sua opinião sobre a evolução daqui para a frente, até porque os efeitos contágio muitas vezes perduram por tempo indeterminado. Ao mesmo tempo, com a aparente acalmia na inflação (parece-me que q tendência de redução está para continuar) e consequente estabilização das taxas de juro, acha que o pior já terá passado? Também as Treasury Bonds parecem já ter invertido a tendência de subida o que pode ser um sinal de otimismo para o futuro…

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