Entrepeneur

Abri a agenda da escola da minha filha e me chamou atenção uma anotação "Bisines Plan".

Sorri de canto e puxei uma conversa com ela.

Marina me contou que vem aprendendo sobre minha profissão na escola: "Entrepeneur. Ô palavrinha difícil!"

E que ela está fazendo um plano de negócios para o mercado que a turma vai montar antes de terminar o semestre.

Foram dias de dúvidas sobre qual negócio criar, quem seriam os clientes, quanto custaria montar o empreendimento e "O que é lucro, Papai?"

Pergunta difícil para um Pai que não se identifica nem com a direita nem com a esquerda e que tem crises existenciais profundas em um país tão desigual.

Resposta mais curta e menos sofrida: "É o que sobra entre quanto dinheiro entra e sai em um empreendimento."

Não me fiz muito entender, então partimos para experimentar…

Depois de definirem que ela e as amigas queriam vender bijuterias na BIJUARTS fomos a uma loja comprar as miçangas e elásticos.

Dona Regina tem uma lojinha de presentes perto de casa há mais de 10 anos. Rapidamente ela viu a curiosidade empreendedora da minha filha e explicou que ela mesmo comprava o material de uma loja grande em São Paulo, fazia as pulseiras, e as vendia. Quando contou quanto gastava para fazer e quanto cobrava para vender ouviu da pequena aprendiz "Nossa, a Senhora fica com um dinheirão, hein?!"

Então Dona Regina contou das despesas com aluguel, impostos, funcionários, luz, segurança... E que o tempo dela também era valioso. Eureka!

Dona Regina, que aula! Obrigado!

Desde que criei a MANTIK tenho lembrado todos os dias de uma frase de um sábio mentor - que prefere não ser marcado no artigo - "Empreender é muito mais difícil do que você imagina, Renato!"

Para quem veio de empresas gigantes, super estruturadas, cheias de recursos e muita grana, aprender a estudar, criar, vender e entregar produtos abstratos de desenvolvimento humano e executivo tem sido transformador. A primeira Nota Fiscal emitida já foi para um quadro na parede!

Também como um dos sócios de um pequeno restaurante redescobri o prazer que é ver o resultado do que se faz ali, na hora. Como garçom nunca vou esquecer os rostos e nomes do casal que nos deu 15% de gorjeta em uma noite de pizza. Não esqueço também as reclamações de um cliente bêbado desagradável.

Enfim, empreender é uma luta, uma ultra-maratona, mas um choque de realidade para quem está há muito tempo em cargos e funções corporativas.

Como dica para quem está surfando uma boa carreira em uma grande empresa: não deixe seu lado empreendedor adormecido. Não vire um sedentário corporativo!

Mesmo que seja como voluntário em uma ONG, não perca o contato com a vida real pois afinal, de uma maneira ou de outra a hora de ser "dono do seu negócio" sempre chega. Aposentadoria não é mais um sonho da nossa geração, nem das próximas. Trabalharemos sempre, e isso é ótimo!

Carregue uma caixa de vez em quando, limpe uma prateleira, ande de metrô, faça seu IR, crie conteúdo nas redes sociais, estude, se atualize, se experimente e faça isso acompanhado, em parceria com mentores e empreendedores mais experientes.

Empreender além de difícil é solitário. Não ter sócios tem suas vantagens, e é uma escolha, mas empreender sozinho sem apoio é subir o Everest sem preparação, equipamento e estrutura.

Nem que seja em uma brincadeira sem fins lucrativos entre família e amigos, empreenda sempre.