Conheça a iniciativa que busca proteger a nascente do rio Amazonas
Jornada à nascente do rio Amazonas - Foto: Bruna Martins

Conheça a iniciativa que busca proteger a nascente do rio Amazonas

As encostas do Nevado Mismi, na Amazônia peruana, guardam a origem de um dos rios mais importantes do planeta. É na região dos Andes, a mais de 5.000 metros acima do nível do mar, que surge o rio Amazonas, a princípio como um pequeno curso de água, que vai atravessar a América do Sul, banhar países e desaguar, imenso, no Oceano Atlântico. Essa fonte de vida e biodiversidade é um lugar essencial para a manutenção da natureza e dos modos de vida na Terra, especialmente em tempos de crise climática. E são elas, as alterações no clima, que estão colocando em risco a nascente do Amazonas, ameaçada pelos regimes alterados de chuva e o degelo acelerado das montanhas nevadas do Mismi. Conheça agora o projeto que une Brasil e Peru para criação da primeira área de proteção ambiental na nascente do rio Amazonas. 

Foto: Bruna Martins

A iniciativa é uma mobilização da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), em parceria com o Serviço Nacional de Áreas Naturais Protegidas (SERNANP) do Governo do Peru, e conta o apoio da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia). O objetivo dessa aliança entre organizações é agregar parceiros e apoiar os governos regionais no processo de estabelecimento de uma área protegida no Nevado Mismi, berço da nascente do Amazonas. Esse território de 28 mil hectares, localizado na província de Arequipa, no Peru, é formado por montanhas, geleiras e picos nevados, que, nas últimas décadas, vêm sofrendo com os efeitos da crise climática. 

Segundo dados do Instituto Nacional de Investigación en Glaciares y Ecosistemas de Montaña (INAIGEM), o El Mismi corre o risco de desaparecer em 2027. Nos últimos 50 anos, o monte perdeu 99% de suas reservas glaciais, restando apenas 0,19 quilômetros quadrados. O derretimento das geleiras tem consequências graves para as comunidades locais, como mudanças no regime hídrico das lagoas naturais e riachos, riscos de avalanches e inundações, e a probabilidade de contaminação por produtos químicos presentes na crosta de gelo e montanhas, ameaçando o ecossistema, os sistemas produtivos e as culturas tradicionais das populações que habitam o Mismi. 


Foto: Bruna Martins

 “As geleiras têm uma grande importância na vida das populações andinas, pois é através do derretimento delas que é possível a formação de lagoas e a viabilidade das atividades agrícolas. No entanto, com o derretimento total do gelo no cume das montanhas, está se tornando cada vez mais difícil manter as atividades que dependem da água. O gelo que antes permanecia no topo das montanhas e levava meses para derreter agora desaparece completamente em apenas uma semana”, explica Virgilio Viana, superintendente-geral da FAS. 

“Eu tenho agora 60 anos. Quando tinha uns 8 ou 10 anos, havia neve em nossas montanhas, neve quase perpétua, durante todo o ano. Todo ano havia neve e água. Conforme vão se passando os anos, a quantidade vai diminuindo. Menos e menos neve”, conta Hector Delgado, pecuarista e moradora da região do Mismi. “Hoje em dia, chega a temporada de chuva, termina a temporada de chuva, mais ou menos, em março ou abril. Chega maio e junho e já não há neve, tudo se descongela”. 

Conservar a nascente do Rio Amazonas no Peru é vital não apenas para a região e para o país, mas para todo o ecossistema global. Como o berço do maior rio do mundo em volume de água, a preservação dessa região não apenas mantém a biodiversidade única da Amazônia, mas também protege os serviços ecossistêmicos essenciais que a floresta tropical oferece. Essa área é crucial para mitigar as mudanças climáticas, servindo como um reservatório vital de carbono, além de manter os ciclos climáticos regionais e globais.    

Foto: Bruna Martins

Em outubro de 2023, a FAS e demais organizações parceiras realizaram uma reunião com as autoridades estaduais de Arequipa para apresentar e formalizar a proposta de criação da área protegida na nascente do Amazonas. O encontro também teve o objetivo de construir uma aliança mais ampla para apoiar a iniciativa e mobilizar os recursos necessários para dar seguimento ao processo de criação da área de proteção, além de verificar recursos para proteger e apoiar o desenvolvimento sustentável das comunidades locais. 

“Proteger a nascente do Amazonas é muito simbólico, não só porque é o rio mais caudaloso e um dos mais extensos do mundo. É também um ato de justiça climática”, afirma Virgilio Viana. 

No mesmo período, a aliança empreendeu uma expedição ao Nevado Mismi até à fonte do rio Amazonas, uma jornada que percorreu parte da Amazônia Andina e conectou parceiros do Brasil e do Peru em torno da proteção desse território fundamental para o planeta. O resultado dessa viagem, e do processo de criação da área protegida, foi registrado e transformado em um documentário, que foi lançado nessa terça-feira (05/06), Dia do Meio Ambiente, no canal do YouTube da FAS. Confira:


Mauro Assis

Técnico especialista em mineração, geologia e geoprocessamento.

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