De 11 a 14 de julho, participei do 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji - Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. É a maior conferência do gênero na América Latina. Mas não é apenas isso. O Congresso da Abraji é onde a gente troca e se renova. É onde a gente se encanta. Para mim, é a época mais esperada do ano.
Nesta edição, dei quatro oficinas. Em todas elas, apresentei técnicas de jornalismo investigativo. É o quarto ano consecutivo em que participo como palestrante. Mas a minha história com o Congresso vem de longe. Já perdi as contas de quantas vezes fui como espectador. A primeira delas, em 2010, eu tinha apenas um ano e meio de formado. Até então, nunca havia tido uma aula de jornalismo investigativo.
Ao longo de todos esses anos, venho me forjando como jornalista investigativo em grande parte graças à Abraji. Não apenas nos Congressos, mas também nos cursos online oferecidos pela entidade, nas trocas de "figurinhas" com os associados e também na época em que trabalhei na associação. Fui editor de uma newsletter, dei cursos e ainda trabalhei como curador do Google Pinpoint da Abraji.
Em 2020, o Congresso foi online. Eu estava aflito com os rumos da minha carreira. Um ano e meio antes, havia trocado um emprego estável na TV Brasil, no qual era concursado, para buscar meu sonho de viver do jornalismo investigativo. Mas os freelas não estavam pagando as contas...
Aquela edição, feita de forma remota por causa da pandemia, talvez tenha sido uma das mais emblemáticas para mim. Se a minha vida fosse um filme, certamente o evento de 2020 seria um "turning point".
Foi na edição de 2020 que vi um painel com Dom Phillips. A fala dele me marcou muito, pois ele disse que a cobertura do meio ambiente era o tema de nossa geração. Terminei de ver essa palestra com a certeza de que me enveredaria em investigações ambientais. Naquele mesmo dia, recebi uma ligação de um colega, o Hyury Potter, que me convidou para participar do projeto Amazônia Minada, da InfoAmazonia. Obviamente, topei.
Corte seco para o último mês. Nas últimas semanas, ganhei meus dois primeiros prêmios jornalísticos. Ambos por investigações relacionadas ao meio ambiente. Um sobre contrabando de ouro da Venezuela para o Brasil. O outro foi graças ao "Bruno and Dom Project".
Após os assassinatos do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira em junho de 2022, o veículo francês Forbidden Stories organizou um consórcio jornalístico para continuar o trabalho deles expondo a destruição da Amazônia. Entre os participantes do projeto, estava o OCCRP, veículo do qual sou editor, e a Abraji. As investigações, publicadas em três idiomas, abordaram pesca ilegal, mineração, pecuária e seus vínculos com o tráfico de drogas.
Serei eternamente grato à Abraji e ao Dom Phillips. Não o conheci pessoalmente, mas aquele seu brilho no olhar me encantou, e permanece vivo em mim. Viva, Dom Phillips. Viva a Abraji. Viva o jornalismo investigativo.
Editor de Brasil no OCCRP
1 mhttps://www.occrp.org/en/37-ccblog/ccblog/17676-how-venezuelan-gold-is-trafficked-through-brazils-borderlands-to-the-us