O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-24

Fluxo do abastecimento de aeronaves civis com doações no RS foi alterado por segurança

  • Contextualizando
Contextualizando
Não há dificuldade generalizada para abastecimento de aeronaves carregadas com donativos para vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, ao contrário do que sugere vídeo do deputado estadual Bim da Ambulância (Avante-MG), gravado na Academia da Brigada Militar de Porto Alegre. A Defesa Civil gaúcha explicou que o alto volume de tráfego aéreo no dia da gravação forçou um ajuste temporário no abastecimento de aeronaves civis. Além disso, uma mudança na regra de abastecimento, ocorrida em 12 de maio, quando foi feita a gravação, afetou momentaneamente as operações naquele dia. Até então, o combustível de helicópteros civis era pago pelo governo estadual, mas passou a ser bancado por doações.

Conteúdo analisado: Vídeo gravado pelo deputado estadual de Minas Gerais Bim da Ambulância (Avante) em que o parlamentar afirma que não estava conseguindo decolar um helicóptero com doações para vítimas da enchente no Rio Grande do Sul (RS) de uma base da Brigada Militar em Porto Alegre. Segundo ele, não foi dada autorização para abastecer a aeronave, mesmo com uso de recurso próprio.

Onde foi publicado: X, Instagram e TikTok.

Contextualizando: Em vídeo postado nas redes sociais, o deputado estadual Bim da Ambulância (Avante-MG) relatou que não conseguia decolar com um helicóptero no Rio Grande do Sul porque não recebeu autorização para abastecer a aeronave por ser um veículo civil. A postagem sugere que se trata de um problema generalizado. No entanto, o governo estadual e a Tri Aviation, empresa responsável pelo fornecimento do combustível, informaram que a dificuldade foi momentânea. Bim conseguiu comprar combustível, pago por pix, com recurso próprio, naquele mesmo dia.

“Não estamos conseguindo decolar, pois não temos autorização de utilização do combustível particular. É, até por pagar tá tendo guerra do lado de cá”, afirmou Bim no vídeo. Ao Comprova, o parlamentar disse que as imagens foram gravadas no dia 12 de maio, na Academia da Brigada Militar, em Porto Alegre.

O governo gaúcho negou, em nota, que aeronaves civis estejam sendo preteridas em detrimento das militares. O órgão apontou que, no dia em que o vídeo foi gravado, a Academia da Polícia Militar, utilizada como ponto de abastecimento, contava com elevado volume de tráfego aéreo, incluindo 21 helicópteros militares.

“Devido ao intenso volume de operações aéreas e por questões de segurança, houve uma necessidade de ajuste temporário na frequência de abastecimento para aeronaves civis. Esta medida foi essencial para garantir a segurança de todas as operações aéreas na área, levando em consideração o risco associado ao tráfego intenso de aeronaves militares e civis”, informou o governo.

Também em nota, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, responsável pelo controle do tráfego de aeronaves na Academia da Brigada Militar, informou que o veículo em questão, com código PR-BPR, recebeu 460 litros de combustível ao todo em dois dias (09/05: 120 litros; 09/05: 120 litros; 09/05: 100 litros; e 12/05: 120 litros), “evidenciando que não houve qualquer impedimento ao abastecimento da aeronave mencionada”.

Ao Comprova, o deputado Bim da Ambulância disse que foi informado pelos militares de que o abastecimento não havia sido autorizado por “ordem superior”, sem entrar em detalhes. Segundo Bim, o problema durou o período da manhã. O parlamentar afirmou, ainda, que conseguiu realizar apenas um voo com ajuda humanitária naquele dia por causa da burocracia e também por questões climáticas.

De acordo com o coordenador de operação de combustível da Tri Aviation, Márcio Irion, até o dia 12, a empresa estava abastecendo aeronaves militares e civis na Academia da Brigada Militar e o combustível era pago pelo governo estadual. No dia 12, diz Irion, a Defesa Civil informou que não iria mais fornecer combustíveis para as aeronaves civis.

Segundo o coordenador, empresas particulares passaram a fazer doações para pagar pelo abastecimento de helicópteros civis, que se concentraram no Centro de Treinamento Esportivo (CETE). Irion afirmou que o vídeo de Bim foi gravado logo após a reunião em que a decisão foi tomada, e que a “informação chegou distorcida a ele [o deputado]”. O coordenador também confirmou que Bim conseguiu abastecer seu helicóptero na mesma data da gravação e pagou a Tri Aviation pelo combustível usando recurso próprio.

Questionado sobre a decisão de não pagar pelo abastecimento de aeronaves civis, o governo do Rio Grande do Sul não respondeu. Na nota, a gestão informou que “as aeronaves civis são abastecidas com combustível disponibilizado por doações de empresas. Para as aeronaves militares e de outros estados que estão auxiliando o Rio Grande do Sul, o abastecimento é fornecido pelo governo do Estado”.

Fontes que consultamos: A verificação foi feita a partir de questionamentos enviados ao governo do Rio Grande do Sul e ao deputado Bim da Ambulância. Com um recorte do vídeo, foi possível identificar o logo da empresa Tri Aviation, que também foi contatada pela reportagem.

Por que o Comprova contextualizou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: Outros assuntos relacionados à tragédia no Sul também foram verificados pelo Comprova, como um post que usou vídeos antigos para minimizar atuação do Exército e um vídeo que engana ao dizer que a Anvisa impede transporte de medicamentos no estado.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-23

Homem minimiza volume de chuvas e alega falsamente que abertura de comportas causou alagamentos

  • Falso
Falso
É falso vídeo em que morador de Arroio dos Ratos (RS) atribui inundações à suposta abertura de cinco comportas de barragens e afirma que não houve chuva suficiente para causar tamanho estrago, apenas uma “garoa forte”. Não há indícios de que a abertura de comportas de barragens no estado tenha desencadeado as inundações. No dia 2 de maio, a Usina 14 de Julho abriu duas comportas apenas para evitar danos na estrutura, porque o modelo não permite aumentar o fluxo de água nos rios. No dia 3, a Usina de Passo Real operou com vazão acima do máximo, mas o volume voltou ao esperado no dia 7. Enquanto isso, o local onde o vídeo foi gravado acumulou cerca de 420 mm de chuva em quatro dias e teve decretada situação de emergência de nível II – por chuvas intensas e inundações.

Conteúdo investigado: Vídeo em que homem questiona quem autorizou abertura simultânea de cinco comportas de barragens e alega que foi essa suposta decisão que causou a enchente no Rio Grande do Sul. Ele também alega que a água subiu muito rápido no local onde ele mora, mesmo tendo havido apenas uma “garoa forte” e não havendo rios no lugar.

Onde foi publicado: TikTok e Instagram.

Conclusão do Comprova: É falso o conteúdo de um vídeo gravado por um morador da zona rural do município de Arroio dos Ratos, na região metropolitana de Porto Alegre (RS), em que ele atribui a enchente que afeta o estado desde o fim de abril a uma suposta abertura simultânea de cinco comportas de uma barragem. Para reforçar o argumento, ele afirma que mora em um lugar onde não há rios e onde houve apenas uma “garoa forte”, mas que, mesmo assim, a água subiu rapidamente, cobrindo um açude que fica em frente à casa.

Não é verdade que cinco comportas de barragens tenham sido abertas simultaneamente durante as chuvas recentes. No dia 2 de maio, houve um rompimento parcial da barragem da Usina 14 de Julho, no Vale do Taquari, e dois dias depois optou-se por uma abertura gradual e controlada das duas comportas da barragem, apenas para evitar danos na estrutura. Como esta é uma barragem do tipo “fio d’água”, que usa apenas o fluxo normal de água do rio, a abertura de comportas não influencia na vazão das águas do rio. Mesmo que houvesse influência, a região onde o vídeo foi gravado não é afetada pela barragem.

No dia 3 de maio, a Usina de Passo Real operou com vazão acima do máximo por conta do grande volume de água. Enquanto isso acontecia, a Usina de Jacuí, que acabou inundada, foi desligada. No dia 7, o reservatório em Passo Real atingiu o nível esperado, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). De qualquer forma, essas operações foram feitas depois de 1º de maio, data em que o autor publicou os primeiros vídeos mostrando que a fazenda já estava alagada, e as usinas ficam distantes de Arroio dos Ratos – mais de 260 quilômetros.

Além disso, o argumento de que não houve chuva intensa na região não tem base factual. A propriedade rural onde o vídeo foi gravado fica no Rincão dos Américos, que foi incluído no decreto de emergência de nível II publicado pela Prefeitura de Arroio dos Ratos em 1º de maio. Segundo a Defesa Civil do município, choveu 420 mm em Arroio dos Ratos de 29 de abril a 2 de maio. A Agência Nacional de Águas (ANA) não tem dados específicos do dia 1º de maio para o local.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A postagem publicada no TikTok tem 581 mil visualizações, 49,6 mil curtidas, 11,8 mil compartilhamentos e foi salva 4,8 mil vezes até 23 de maio de 2024.

Fontes que consultamos: O Comprova procurou, inicialmente, o autor do conteúdo, para tentar identificar o local exato onde o vídeo foi feito, a data da inundação e questionar a quais barragens ele se referia quando falava de abertura de comportas. Também foram acionados o governo do Rio Grande do Sul, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a ANA, a Companhia Energética do Rio das Antas (Ceran), onde ficam três barragem no Vale do Taquari, e dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico.

Foram consultados ainda a Defesa Civil de Arroio dos Ratos, dados meteorológicos e de precipitação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e da ferramenta Weather Spark, além de decretos municipais e federais sobre situação de emergência pelas chuvas e inundações. Para encontrar o local onde o vídeo foi gravado, foram utilizadas as ferramentas Sinesp Cidadão, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, CruzaGrafos, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), e o Google Maps.

Vídeo foi gravado em Arroio dos Ratos, onde choveu 420 mm em quatro dias

O vídeo investigado mostra o autor em uma propriedade rural, onde é possível ver uma casa, alguns galpões, uma cerca e uma espécie de açude alguns metros adiante. Quando as imagens investigadas são publicadas, em 18 de maio, não há mais alagamento, mas há vídeos anteriores, a partir de 1º de maio, que mostram uma inundação em frente à casa. Há marcas nas paredes que mostram que a água chegou a pelo menos dois palmos dentro do imóvel. Durante a inundação, ele se abrigou em um cerro ao lado da propriedade.

O responsável pela publicação não diz onde o vídeo foi feito, mas ele responde a um comentário na postagem no TikTok dizendo ser de Eldorado do Sul. Ao Comprova, o autor do vídeo, identificado como João Alves, confirmou ser desta cidade, mas não respondeu com detalhes sobre a localização da fazenda. Ele se limitou a responder que tudo estava documentado na rede social e que a água havia subido “de repente”.

Na realidade, o vídeo não foi gravado em Eldorado do Sul, e sim na zona rural do município vizinho de Arroio dos Ratos que, diferentemente do que afirma o autor do vídeo, foi fortemente afetado por chuvas intensas. A fazenda onde as imagens foram feitas figura como sede de uma microempresa de construção civil que tem João Alves como sócio. O local fica na Estrada Rincão dos Américos, e uma comparação entre o local no Google Street View e outros vídeos publicados pelo autor no TikTok comprovam se tratar do mesmo lugar.

| Após a chuva, autor gravou vídeo na propriedade mostrando casa ao fundo. Imagem: Reprodução/Tik Tok.

| Apesar da diferença na cor, imagem captada pelo Google Street View em julho de 2023 mostra a mesma casa na zona rural de Arroio dos Ratos. Ao fundo, o cerro onde o autor disse ter se abrigado, que também aparece no vídeo dele. Imagem: Reprodução/Google Street View.

O bairro Rincão dos Américos foi incluído pela prefeitura em um decreto de emergência de nível II no mesmo dia em que os primeiros vídeos começaram a ser publicados pelo autor do material. No decreto municipal, foram citadas apenas as “áreas comprovadamente afetadas pelo desastre”.

De acordo com a coordenadora da Defesa Civil de Arroio dos Ratos, Juliana Silveira de Abreu, entre os dias 29 de abril e 2 de maio, choveu 420 mm na cidade. Segundo a ferramenta Weather Spark, a média de precipitação em todo o mês de maio em Arroio dos Ratos é de 100,2 mm, o que desmente a alegação de que não houve chuvas fora do normal. Na realidade, choveu em quatro dias quatro vezes mais do que a média para o mês inteiro.

A Prefeitura de Arroio dos Ratos tem uma página dedicada ao desastre e publicou que, no dia 1º de maio, a cidade foi afetada por uma “calamidade natural de proporções históricas”: “Uma enchente avassaladora, desencadeada pelas intensas chuvas dos últimos dias, deixou a comunidade à beira do limite. Ruas se transformaram em rios, casas foram alagadas e a população enfrentou um cenário de desespero e destruição”.

O Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, do governo federal, reconheceu a situação de emergência na cidade por chuvas intensas, e o reconhecimento ainda está em vigor.

O autor do vídeo argumenta ainda que não existem rios por lá. Na realidade, bem próximo da cancela de entrada na fazenda passa o Arroio dos Ratos, um córrego que margeia por boa parte do município e que, durante as chuvas intensas, recebeu um grande volume de água da própria cidade – segundo a Defesa Civil, bairros da zona urbana foram inundados devido às cheias dos arroios que banham o município, atingindo também a zona rural.

Abertura de comportas não foi responsável pelo desastre

O autor do vídeo não fala nas imagens sobre quais comportas de barragens teriam sido abertas simultaneamente, nem respondeu ao Comprova quando questionado sobre isso. No entanto, não há registros de aberturas deliberadas de cinco comportas de barragens durante os eventos climáticos dos últimos dias. Esta mesma alegação aparece em um vídeo antigo, já desmentido pelo Estadão Verifica, que mostrou que as barragens citadas não têm comportas capazes de armazenar e regular o fluxo de água.

É o que explica a Agência Nacional de Energia Elétrica, segundo a qual existem 125 usinas hidrelétricas no Rio Grande do Sul, com 143 barragens. Das 125 usinas, apenas quatro possuem reservatório com capacidade de regularização: são as usinas hidrelétricas Passo Fundo, Passo Real, Barra Grande e Machadinho.

Todas as outras são usinas do tipo “fio d’água”, que operam apenas com o fluxo natural dos rios. A Aneel explica que essas usinas não possuem capacidade de armazenar e regular água de cheias, por isso a abertura de suas comportas não pode agravar casos como o que está ocorrendo no Rio Grande do Sul.

No dia 2 de maio, o grande volume de chuva fez romper parcialmente a barragem da Usina 14 de Julho, no Vale do Taquari, e no dia 4, a Companhia Energética do Rio das Antas (Ceran), que gere a usina, optou por abrir, de forma gradual e controlada, duas comportas da usina. Isso aconteceu para preservar a estrutura.

Não houve impacto significativo na vazão do Rio das Antas justamente porque a barragem é do tipo “fio d’água”. A Ceran explicou, quando as comportas foram abertas, que não haveria variação relevante no nível do rio e nem alterações para as comunidades abaixo da barragem.

Além do baixo impacto, a Companhia explicou ao Comprova que as cidades de Arroio dos Ratos e Eldorado do Sul – citada pelo autor do vídeo – não seriam afetadas mesmo que houvesse um aumento da vazão porque não estão abaixo da barragem e não fazem parte da chamada Zona de Autossalvamento (ZAS) – área de impacto imediato em caso de emergência envolvendo uma barragem. A Defesa Civil de Arroio dos Ratos disse que não há comportas de barragens no município.

Já o governo do Rio Grande do Sul monitora diariamente a situação das barragens do Estado e divulgou, em nota do dia 4 de maio, que as ações de resposta para as duas barragens sob risco naquele dia – 14 de Julho e Bento Gonçalves – já estavam em andamento e tomadas de modo a não alterar o nível do rio Taquari-Antas. Os dados mais recentes são de 22 de maio e apontam que há uma barragem em situação de emergência: a de Salto, da Usina Hidrelétrica de Bugres, em São Francisco de Paula.

Em nota, o governo do Rio Grande do Sul disse que, nos reservatórios que são de sua competência fiscalizatória, as questões que envolvem abertura e fechamento de comporta são operações que podem fazer parte do funcionamento normal de uma barragem e são de responsabilidade do empreendedor. “No RS, a maior parte das barragens possuem o maciço de terra com vertedouro do tipo soleira livre. O vertedouro é considerado um dos principais dispositivos de segurança e tem como função manter o nível adequado de água na barragem”, diz o texto.

Autor cita teoria da conspiração envolvendo caixões americanos

Além das falas sobre a chuva e as barragens, o autor do vídeo recorre a uma teoria conspiratória antiga para sugerir que as mortes já eram esperadas. Segundo ele, o Brasil comprou, pouco antes das chuvas, caixões da FEMA: urnas pretas, feitas em fibra de carbono, com capacidade para corpos de até quatro homens adultos. A FEMA é a Federal Emergency Management Agency, a agência federal de gestão de desastres dos Estados Unidos, e o que ele descreve não são caixões, e sim túmulos usados para colocar os caixões no solo e evitar que ele desmorone.

As teorias da conspiração sobre os “caixões da FEMA” se tornaram constantes durante o governo de Barack Obama, sob a alegação de que o presidente havia secretamente investido US$ 1 bilhão em caixões plásticos com capacidade múltipla. Publicações conspiratórias diziam que o governo estava se preparado para um desastre biológico, ou para matar “dissidentes”. Durante a pandemia da covid-19, essa mesma teoria voltou a circular, como uma suposta prova de que os teóricos da conspiração de 2010 estavam corretos.

Na realidade, como mostrou o PolitiFact, os caixões da FEMA não são necessariamente caixões, e sim túmulos de plásticos que são colocados no solo para proteger os caixões e para evitar que o solo desmorone. A maioria dos cemitérios dos Estados Unidos exigem estes túmulos, explicou o PolitiFact. O Comprova questionou a FEMA se houve venda de túmulos para o Brasil e se essa prática é comum, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A tragédia provocada por enchentes no Rio Grande do Sul tem sido alvo de peças de desinformação publicadas na internet. O Comprova já mostrou que detentos em abrigos são do semiaberto e não têm relação com crimes de violência sexual e que sete deputados do Estado foram contra anistia, mas votaram a favor de suspensão de dívida do estado.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-21

Janja não combinou cena com militar e cachorro para divulgar vídeo nas redes sociais

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao dizer que Janja teria pedido para um militar da FAB encenar a entrega de um cachorro para ela com o objetivo de viralizar a imagem nas redes sociais. A reportagem do site Poder360 estava no local na hora da gravação e constatou que foi uma brincadeira não combinada entre a primeira-dama e o militar. Além disso, o animal que aparece na foto é a cadela Resistência, que foi adotada por Janja em 2018.

Conteúdo investigado: Post com vídeo da primeira-dama, Janja Lula da Silva, interagindo com cachorro e militar. Na legenda, autor afirma que ela teria encenado a entrega do animal para que a gravação fosse divulgada nas redes sociais.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Publicação engana ao dizer que a primeira-dama, Janja Lula da Silva, pediu que um militar da Força Aérea Brasileira (FAB) entregasse nas mãos dela um cachorro para que a cena viralizasse nas redes sociais. O post enganoso usou um vídeo publicado originalmente pelo portal Metrópoles. A equipe de reportagem do site Poder360 também estava no local onde a gravação ocorreu e viu que se tratou de uma brincadeira não combinada entre Janja e o militar. O animal que aparece no vídeo é a cadela Resistência, que foi adotada pela primeira-dama em 2018 e subiu a rampa do Palácio do Planalto na posse do presidente em 2023.

A cena foi gravada em 18 de maio, na Base Aérea de Brasília, durante o evento de envio de donativos para animais domésticos afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A aeronave estava com o compartimento de carga aberto, ainda sendo carregada. Janja entregou Resistência nas mãos de um militar, que fingiu levá-la para dentro do avião. A primeira-dama, então, gritou, em tom de brincadeira, para que o militar devolvesse a cadela.

No mesmo dia, Janja compartilhou nas redes sociais fotos de sua participação no evento em Brasília. Nas imagens é possível ver que a primeira-dama está acompanhada das cadelas Resistência e Paris, também adotada por ela e Lula, mas que não tem tantas aparições públicas. “A convite do Brigadeiro Damasceno, comandante da Força Aérea Brasileira, estive na Base Aérea de Brasília com Paris e Resistência para acompanhar essa ação repleta de afeto”, declarou Janja na ocasião.

Ao todo, Lula e Janja têm três cadelas. A mais recente é Esperança, adotada no dia 5 de maio durante visita do casal ao Rio Grande do Sul. O animal foi resgatado em Canoas (RS), após o temporal que devastou o estado gaúcho.

O Comprova entrou em contato com o autor do post enganoso, mas não obteve retorno até o fechamento do texto.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 21 de maio, a publicação tinha 2,7 milhões de visualizações, 39 mil curtidas, 12 mil compartilhamentos e 3 mil comentários.

Fontes que consultamos: Buscamos o vídeo original, que mostra a logo do portal Metrópoles, nas redes do portal. Procuramos por notícias sobre a ação do vídeo envolvendo a primeira-dama e o militar, e encontramos registro no site Poder 360. Em seguida, consultamos o site oficial da FAB e as redes da primeira-dama.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Assuntos relacionados às enchentes no Rio Grande do Sul se tornaram alvo de desinformação nas redes sociais. O Comprova já explicou a discussão sobre a dívida do estado com a União, em que sete deputados gaúchos foram contra a anistia, mas votaram a favor da suspensão, e mostrou ser enganoso o vídeo em que um médico afirma que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede o transporte de medicamentos aos gaúchos.

Contextualizando

Investigado por: 2024-05-20

Detentos em abrigos do RS são do semiaberto e não têm relação com crimes de violência sexual

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Detentos que foram abrigados em locais de acolhimento em Porto Alegre são apenados em regime semiaberto com monitoramento de tornozeleira eletrônica. Presos em regime fechado continuam nas unidades prisionais. Também não há registros de crimes cometidos pelos abrigados.

Conteúdo analisado: Postagem mostra vídeo em que o prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), afirma que abrigos para vítimas das enchentes estão “contaminados” pela presença de pessoas em cumprimento de pena. Na legenda, o perfil diz: “Estão colocando PRESIDIÁRIOS criminosos junto com pessoas e famílias nos abrigos! Kd o ministro dos direitos humanos? Kd o Ministério Público? O desgoverno Luladrão vai dizer que é FakeNews? Vão censurar o prefeito que denunciou essa (sic) descalabro?”.

Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Contextualizando Com as enchentes que atingiram grande parte do Rio Grande do Sul, o sistema carcerário do estado também foi afetado, fazendo com que pessoas em cumprimento de pena fossem transferidas para locais seguros. Com isso, presos que estavam em regime semiaberto foram acolhidos em abrigos municipais, em suas casas ou nas de conhecidos.

As adaptações do sistema penitenciário gaúcho provocaram intensa discussão nas redes sociais, levando o governo do Rio Grande do Sul, por exemplo, a desmentir que detentos de uma unidade prisional de regime fechado tivessem sido soltos. Outras publicações citam que presidiários estariam deixando as prisões danificadas pela chuva e sendo levados para abrigos públicos com famílias vítimas das enchentes.

É o caso de um post publicado no X, no dia 15 de maio, que usa uma declaração dada pelo prefeito de Porto Alegre (RS), Sebastião Melo (MDB), no dia 12, em que o chefe do Executivo municipal afirmou que abrigos para vítimas das enchentes estão “contaminados” pela presença de pessoas que estão em cumprimento de pena.

De acordo com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, o gestor manifestou preocupação sobre o assunto após reunião com as forças de segurança estaduais. O governo do município destacou ainda que não tem “gestão sobre o sistema penal e socioeducativo, que é administrado pelo Governo do Rio Grande do Sul”. A prefeitura afirma que contratou forças de segurança privadas e que a Guarda Municipal faz rondas em 84 dos 151 abrigos. Nenhuma ocorrência foi registrada por essas equipes.

Ao Comprova, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) explicou que a medida vale apenas para pessoas privadas de liberdade que utilizavam tornozeleira eletrônica e que ficaram desabrigadas por conta das enchentes. O número de apenados e o motivo das condenações não foram divulgados por motivos legais e de segurança. Como notou o Estadão Verifica, ao jornal Correio do Povo o Sindicato da Polícia Penal (Sindppen) informou que “mais de 250 presos” receberam o benefício.

Segundo a Susepe, esses detentos do semiaberto estão em residências de pessoas conhecidas ou em abrigos disponibilizados nos municípios para o acolhimento de pessoas. O órgão ressalta ainda que o Judiciário concedeu prisão domiciliar com monitoramento eletrônico em caráter emergencial para os detentos em regime semiaberto em Charqueadas (Susepe). A decisão ocorreu porque os apenados “corriam risco de vida em função do rápido avanço no nível da água na unidade”.

As críticas ao abrigamento de apenados aumentaram após denúncias de violência sexual em abrigos no estado. No entanto, de acordo com a Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), não há registro de envolvimentos de apenados com crimes cometidos nos locais. A Secretaria reforça ainda que esses detentos são monitorados pela Polícia Penal, que entrou com pedido para que essas pessoas deixem a monitoração e retornem para estabelecimentos prisionais compatíveis.

Detentos do regime fechado não ganharam liberdade

O governo do Rio Grande do Sul emitiu comunicado no dia 5 de maio negando que presos do regime fechado de Charqueadas tenham sido soltos. No estado, existem 83 unidades prisionais de regime fechado, 17 unidades de semiaberto, dois centros de custódia hospitalar, um instituto psiquiátrico, um centro de triagem e nove institutos penais de monitoramento.

Desde o início do período de enchentes, algumas unidades foram atingidas. Em Júlio de Castilhos, o presídio foi destelhado e, segundo a Susepe, o trabalho de reposição já foi iniciado. Há duas semanas, quatro estabelecimentos prisionais sofreram com alagamentos no Complexo Prisional de Charqueadas:

  1. Penitenciária Estadual do Jacuí (JEC);
  2. Penitenciária Estadual de Charqueadas;
  3. Instituto Penal de São Jerônimo;
  4. Instituto Penal de Charqueadas (abriga apenados do semiaberto).

Na JEC, 1.057 presos precisaram ser transferidos para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e os demais foram transferidos para galerias superiores da própria unidade prisional. Conforme boletim divulgado pela SSPS no dia 8, todos os detentos transferidos naquele momento puderam retornar para a JEC.

Segundo a Susepe, o sistema prisional está regular, com fornecimento de alimentação e água potável para os servidores e as pessoas privadas de liberdade. Além disso, a Polícia Penal monitora eletronicamente aqueles que utilizam tornozeleira, além de promover fiscalização presencial nos abrigos.

CNJ emitiu orientações para o período emergencial

Devido à situação nos presídios do estado, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas, emitiu diretrizes para orientar decisões do Poder Judiciário local nos âmbitos penal e socioeducativo. As diretrizes do Conselho não são de caráter obrigatório e servem para orientar a atuação do Judiciário.

Em relação ao uso de tornozeleira eletrônica, o CNJ estabeleceu orientações que levam em consideração “infraestrutura afetada, a falta ou fornecimento irregular de energia elétrica imprescindível ao seu carregamento, a possível necessidade de deslocamento, eventuais riscos à saúde da pessoa monitorada e a possibilidade de avaria do equipamento”.

Em 15 de maio, o Ministério Público do Rio Grande do Sul pediu ao CNJ, em reunião online, a reavaliação de orientações do conselho. De acordo com o procurador-geral de Justiça, Alexandre Saltz, a adoção do desencarceramento pode afetar a segurança pública do estado. O magistrado ainda alegou que os detentos estão “bem assistidos, melhor do que as pessoas que estão aqui fora, molhadas, desabrigadas, sem futuro, sem perspectiva, e tendo que dividir os abrigos com apenados”.

Já a Defensoria Pública da União (DPU) informou que está em diálogo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) para tratar sobre essa situação.

Fontes consultadas: Consultamos a Susepe e a SSPS para informações sobre o estado das unidades e o encaminhamento de detentos. Também entramos em contato com a Prefeitura de Porto Alegre, bem como com órgãos do poder judiciário.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já mostrou ser enganoso que doações enviadas pela população afetada pelas chuvas estejam sendo reembaladas com o selo do governo federal e que a Anvisa tenha impedido o transporte de medicamentos na região. Também publicou que post usa vídeos antigos para minimizar atuação do Exército nas enchentes e que deputado desinforma ao omitir que número de mortes dito por ministro foi corrigido.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-17

Sete deputados do RS foram contra anistia, mas votaram a favor de suspensão de dívida

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O Congresso Nacional aprovou e o governo federal já sancionou a lei que suspende por três anos a dívida do Rio Grande do Sul e de municípios do estado com a União. Durante a tramitação da matéria, foram apresentadas emendas ao projeto de lei na tentativa de anistiar os entes em relação às dívidas, mas as sugestões foram rejeitadas, inclusive com votos de parlamentares gaúchos. Por outro lado, todos os deputados federais do Rio Grande do Sul foram favoráveis à suspensão da dívida por três anos.

Conteúdo analisado: Postagem do deputado federal Maurício Marcon (Podemos-RS) acusa parlamentares do Rio Grande do Sul de votarem “contra o seu próprio povo” por terem se posicionado contra a anistia de parcelas de dívidas do Estado e dos municípios gaúchos com a União por três anos.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Uma publicação do deputado federal do Rio Grande do Sul Maurício Marcon (Podemos-RS) apresenta a lista de parlamentares que votaram contra o perdão de dívidas do estado em meio à tragédia provocada pelas enchentes. Sete deputados federais gaúchos foram, como ele escreve, contrários à anistia da dívida (perdão definitivo), mas votaram a favor da suspensão do pagamento das parcelas por três anos, conforme constava no texto original enviado pelo governo federal. Diante das dúvidas que o post gerou, o Comprova traz mais detalhes sobre o caso.

A Câmara dos Deputados aprovou, em 15 de maio, o projeto de lei do Executivo que suspendeu por três anos os pagamentos de 36 parcelas mensais da dívida do Rio Grande do Sul com a União, para que o recurso seja aplicado no enfrentamento aos estragos provocados pelas fortes chuvas das últimas semanas. A matéria foi aprovada com 404 votos favoráveis e apenas dois contrários. Todos os deputados federais do Rio Grande do Sul se posicionaram a favor da proposta.

Durante a tramitação da matéria, o deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) apresentou duas emendas ao projeto: Emenda 3 (que pedia anistia das parcelas das dívidas do estado e seus municípios com a União por 36 meses) e Emenda 4 (pedido de anistia de toda a dívida do RS e seus municípios com União).

Ambas as emendas foram rejeitadas no Plenário da Câmara. A Emenda 3 teve 226 votos “não” e 215 “sim”. Já a Emenda 4, 223 votos “não” e 184 votos “sim”.

A postagem do deputado Mauricio Marcon se refere à Emenda 3. Ele escreve: “Deputados do RS acabaram de ajudar a derrubar uma emenda que ANISTIAVA as parcelas da dívida do RS nós próximos 36 meses, ou seja, mesmo com o estado DESTRUÍDO votaram CONTRA seu próprio povo”. Em seguida, lista os deputados: “São eles: Afonso Motta (PDT), Bohn Gass (PT), Denise Pessôa (PT), Lindenmeyer (PT), Marcon (PT), Maria do Rosário (PT), Reginete Bispo (PT)”.

De fato, os deputados gaúchos citados votaram contra a Emenda 3, como mostra a votação nominal disponível no site da Câmara dos Deputados.

Justificativa de rejeição da Emenda

Relator do Projeto de Lei na Câmara, o deputado Afonso Motta (PDT-RS) deu parecer rejeitando a Emenda 3, assim como todas as outras apresentadas, devido ao “desatendimento dos pressupostos financeiros e orçamentários”. Em seguida, foi aprovado recurso de Van Hattem contra a inadmissibilidade das emendas. Com isso, as emendas voltaram a ser avaliadas pelos deputados.

No momento da reavaliação da Emenda 3, tema do tuíte do deputado Marcon, analisado neste ‘Contextualizando’, a orientação do governo foi “não” à proposta. Integrante da bancada do governo, a federação PT-PCdoB-PV justificou o “não” em fala do deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). Segundo ele, a emenda não acrescentaria valor no caixa do Rio Grande do Sul nos próximos anos além do previsto no texto original do PL.

“Para mim esse destaque é quase uma fake news. As pessoas dizendo ‘eu quero ajudar mais o Rio Grande do Sul’. O impacto esse ano, no próximo ano e no outro, vai ser zero. Vai entrar um centavo em algum município do Rio Grande do Sul se este destaque for aprovado? Não. O impacto vai ser em 40, 50 anos, vai ser para o estoque da dívida”, disse o deputado durante a votação.

Aprovação no Senado

Depois de passar pela Câmara, o projeto foi aprovado no Senado por unanimidade. Na Casa, também houve tentativa de anistiar o Rio Grande do Sul das dívidas, por meio de emenda apresentada pelo Partido Liberal (PL). No entanto, a sugestão também foi rejeitada. A lei foi sancionada pelo presidente Lula (PT) nesta sexta-feira (17).

Apesar de ter sido aprovada no contexto das enchentes no Rio Grande do Sul, a nova lei também pode beneficiar, no futuro, qualquer ente federativo (estados e municípios) que passe por calamidade pública provocada por eventos climáticos. Isso ocorrerá após reconhecimento do Congresso Nacional e por meio de proposta do governo federal.

A estimativa do governo federal é que, na prática, a suspensão da dívida deve provocar alívio de R$ 11 bilhões à gestão estadual. O recurso deve ser aplicado em um fundo para ações de enfrentamento às enchentes e de reconstrução das áreas afetadas.

A proposta da suspensão da dívida

A decisão do governo federal de suspender a dívida do RS com a União por três anos foi anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no dia 13 de maio . Com isso, explicou o ministro, o valor de R$ 11 bilhões passará a ser aplicado em um fundo para a reconstrução do Estado a partir de um plano de trabalho a ser elaborado pelo governo do RS. A proposta foi encaminhada ao Congresso Nacional por meio do Projeto de Lei Complementar 85/2024.

A proposta prevê também que os juros do pagamento da dívida, que correspondem a R$ 12 bilhões no período suspenso, serão zerados. Em Regime de Recuperação Fiscal com vigência até 2030, a dívida total do Rio Grande do Sul com a União é de cerca de R$ 100 bilhões.

Ao Estadão Verifica, a economista Carla Beni, professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), explicou que a medida parte do pressuposto de que o governo do RS “já tinha que ter no seu orçamento o planejamento para pagar a dívida”. Segundo explicou, com a proposta, a União está abrindo mão de receber esses valores pelo prazo de três anos. “O Rio Grande do Sul tinha que ter no seu planejamento o pagamento da dívida. No lugar de pagar a dívida, ele vai usar a verba para reconstruir o Estado”, explicou a economista.

Fontes consultadas: Para a produção deste material, foram consultados os registros de votação no site da Câmara dos Deputados, textos institucionais divulgados pela Casa e pelo Senado e reportagens publicadas na imprensa.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: O Comprova já fez outras publicações relacionadas às enchentes no Rio Grande do Sul, como o ‘Contextualizando’ que mostrou que caminhões com doações ao RS não são retidos por falta de nota fiscal. O projeto também mostrou que o governo atua no resgate de vítimas no RS desde o dia 30, ao contrário do que afirma mulher em vídeo publicado nas redes sociais.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-17

Fotos de alagamento no Maranhão são antigas e não retratam atual situação do estado

  • Enganoso
Enganoso
Post utiliza imagens antigas de enchentes registradas em 2018 e 2023 no Maranhão como se fossem atuais e que não condizem com a atual situação dos alagamentos causados pela chuva no estado.

Conteúdo investigado: Post sobre desabrigados pelas chuvas no Maranhão traz quatro fotos de alagamentos.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Post viral engana ao usar imagens de outras situações para tratar dos alagamentos no Maranhão, que já fizeram 31 cidades decretarem situação de emergência em 2024. A publicação enganosa traz quatro imagens, mas apenas uma retrata as consequências das chuvas que estão inundando o estado em 2024.

A primeira foto mostra dois adultos e um adolescente navegando em uma canoa. O Comprova verificou que ela já foi utilizada pelo UOL em reportagem sobre as chuvas que atingiram o Maranhão e o Pará em março de 2023. Segundo o portal, a imagem que retrata cena em Bacabal (MA), é uma reprodução do Instagram.

As outras três imagens foram publicadas em diferentes momentos pelo G1 Maranhão. A segunda foto, um registro aéreo de uma ponte destruída pela força da água, é a única das quatro registrada em 2024. A imagem foi veiculada em uma reportagem da TV Mirante, afiliada à Rede Globo no Maranhão, e portal G1 Maranhão mostrando um trecho da BR-222 que foi cortado pela força da água.

A terceira imagem, de moradores em meio a um alagamento tentando salvar um freezer, estampa reportagem de 2018 sobre chuvas no estado maranhense. Segundo o G1, foi clicada na cidade de Tulum e o autor é Paulino Silva.

A quarta imagem, de dois garotos em uma rua alagada, é uma captura de tela de uma reportagem exibida pela TV Mirante em março de 2023, durante uma cobertura sobre as enchentes no estado.

Atual situação do Maranhão

Ao Comprova, a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do Maranhão informou que, até esta sexta-feira (17), 31 municípios decretaram situação de emergência, segundo dados inseridos pelas prefeituras no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD), e um decretou situação de calamidade pública devido às chuvas.

No Maranhão, segundo o Governo do Estado, foram contabilizadas 3.940 famílias afetadas pelas chuvas e não há, atualmente, registro de famílias em abrigos.

Pelo X, o Comprova procurou o perfil Astronomiaum, responsável pelo post, mas não conseguiu contato, pois a conta só pode receber mensagens de perfis verificados. O Comprova fez contato também pelo Instagram do Astronomiaum e até a última atualização desta verificação não obteve resposta.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de maio, a publicação teve 1,9 milhão de visualizações. Depois, ela foi apagada por seu autor.

Fontes consultadas: Buscamos por notícias de portais de notícias sobre os impactos das chuvas recentes no Maranhão. Em seguida, procuramos o Governo do Estado do Maranhão e a Secretaria Municipal de Segurança Cidadã (Semsec) do município de Barreirinhas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão Verifica também checou o post verificado aqui e a agência Lupa verificou conteúdo semelhante, que também usa imagens de outras situações para falar do Maranhão. O Comprova também acompanha a situação dos alagamentos no Rio Grande do Sul e explicou recentemente que caminhões com doações ao RS não são retidos por falta de nota fiscal e multas por excesso de peso serão anuladas.

Contextualizando

Investigado por: 2024-05-17

Post usa vídeos antigos para minimizar atuação do Exército nas enchentes no RS; autor diz que era teste de fake news

  • Contextualizando
Contextualizando
Publicação alega que o Exército Brasileiro “está na retaguarda” e não na linha de frente nos resgates às vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul. Dois vídeos utilizados no post são de anos anteriores e não de ações recentes no estado. Na quinta-feira (16), o jornalista que fez a publicação reconheceu que os vídeos eram antigos e que o objetivo da postagem era fazer um “teste de fake news” no TikTok.

Conteúdo analisado: Post afirma que Exército Brasileiro não tem atuado diretamente no resgate às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul e está na retaguarda. É feita uma comparação entre um vídeo, no qual militares passam donativos de uma mão para outra em um corredor humano, com uma gravação de voluntários na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), alegando que os militares não estariam animados, nem sendo ágeis. É apresentada ainda uma gravação com um tanque de guerra tombado e outro vídeo em que uma mulher cai no chão ao tentar descer de um caminhão do Exército.

Onde foi publicado: TikTok.

Contextualizando: Uma postagem feita no perfil de TikTok do jornalista Orestes de Andrade Jr. e que usa um recorte do programa Poder RS, apresentado por ele na Ulbra TV e exibido em 10 de maio, alega que o Exército Brasileiro “está na retaguarda” e não tem ajudado diretamente no salvamento das vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Para provar a alegação, o jornalista mostra e comenta três vídeos em que militares aparecem em situações diferentes. Dois deles, porém, são vídeos antigos e que não tratam de ações de resgate no Rio Grande do Sul.

Seis dias depois, o jornalista voltou a afirmar que os militares estão na retaguarda nas ações de resgate no estado, mas reconheceu que os vídeos apresentados no programa eram antigos e foram escolhidos por ele com o objetivo de fazer um “teste de fake news” no TikTok.

“Apesar de eu criticar o Exército, eu não posso utilizar vídeos antigos para fazer isso”, declarou. “Eu queria mostrar que é assim que nascem as fake news”, justificou.

Orestes afirmou ainda que esse foi o vídeo de maior alcance em sua conta no TikTok e que, no teste realizado por ele, identificou que poucos comentários alertavam que os vídeos utilizados na publicação eram antigos.

O “teste de fake news”

Na postagem feita por Orestes Andrade Jr. no dia 10 de maio ele diz: “Depois de eu criticar aqui o Exército por não estar na linha de frente do salvamento dos gaúchos, claro, o Exército está na retaguarda, essa é a ordem recebida pelos militares. Mas eu recebi imagens do que os militares brasileiros estão fazendo”. Na sequência, é exibida uma série de três vídeos com militares do Exército.

No primeiro vídeo, os militares aparecem passando donativos de mão em mão, de um avião até um caminhão próximo. O jornalista então critica o entusiasmo com que os militares atuam e faz uma comparação com uma gravação em que aparecem voluntários na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), também em um corredor humano, ajudando no transporte de alimentos de forma mais ágil.

“Olha a animação dos nossos militares, olha a agilidade deles, a velocidade com que eles estão fazendo, passando aqui os donativos de uma mão pra outra”, questiona Orestes.

A Agência Lupa verificou que esse vídeo é verdadeiro. O capitão Freitas, da Comunicação do Comando Militar do Sul, explicou à reportagem que o caminhão ficou distante do avião, pois se subisse no gramado, que era a pista dos aviões, poderia danificar o local de pouso das aeronaves. Ao Poder360, o Exército Brasileiro afirmou que já advertiu os militares envolvidos na ação.

Na sequência, é apresentado um segundo vídeo em que um tanque de guerra está tombado e, ao ser desvirado, acaba puxando e tombando o caminhão guincho que atuava no resgate. “Parece aquele quadro dos Trapalhões, viu, que tinha lá com o Didi, o Dedé com o Zacarias, com o Mussum”, critica o jornalista.

O Comprova já havia verificado anteriormente que o vídeo com o blindado tombado foi gravado em 2018, em uma rodovia no Mato Grosso do Sul.

O último vídeo apresentado a pedido de Orestes mostra uma mulher caindo no chão ao tentar descer da carroceria de um caminhão do Exército. Como verificado pela Reuters, essa gravação também não foi feita durante as ações de resgate no Rio Grande do Sul, mas sim em Santa Catarina, e circula nas redes sociais desde outubro de 2023.

Fontes que consultamos: Procuramos pelos vídeos no Google através da busca reversa e encontramos reportagens contextualizando desde quando as gravações circulam nas redes sociais. Também entramos em contato com o Exército e com o jornalista por meio da UlbraTV. A emissora, que é afiliada à TV Cultura, enviou o link para o programa em que o jornalista fala do “teste de fake news” feito por ele.

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais: As enchentes no Rio Grande do Sul se tornaram alvo de desinformação na internet. O Comprova já mostrou que a Anvisa não tem impedido o transporte de medicamentos, que não há evidências de que doações aos gaúchos tenham sido reembaladas com o selo do governo federal e que as Forças Armadas atuam no estado do Rio Grande do Sul desde o dia 30 de abril.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-16

Deputado omite que número de mortes dito por ministro foi corrigido

  • Enganoso
Enganoso
Vídeo de deputado federal engana ao dizer que o ministro Paulo Pimenta espalha desinformação ao negar que nove pacientes de UTI em Canoas morreram por conta dos alagamentos. O post do deputado, feito em 11 de maio, mostra vídeo do momento em que o prefeito de Canoas (RS), Jairo Jorge (PSD), conta a Pimenta que nove pessoas haviam morrido. Mas essa conversa foi em 4 de maio e, no dia 5, Jorge corrigiu a informação, dizendo que haviam sido duas vítimas.

Conteúdo investigado: Vídeo do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) com a chamada “Prefeito de RS escancara mais uma fake news do ministro do Lula – Mortes na UTI”. A publicação traz trecho do programa Estúdio I, da Globonews, de 10 de maio, em que Paulo Pimenta comenta casos de desinformação relacionados à tragédia no Sul e cita alerta para a morte de 9 pacientes em UTI, informação que depois foi desmentida. Em seguida, é exibida conversa entre o prefeito de Canoas e Pimenta em que o primeiro conta que nove pacientes de UTI morreram devido aos alagamentos no Sul. O vídeo de Gayer usa também reportagem do Poder360 intitulada “Prefeito de Canoas (RS) confirma morte de 9 pacientes em UTI inundada pelas chuvas”.

Onde foi publicado: YouTube e Kwai.

Conclusão do Comprova: Gustavo Gayer engana ao dizer, em vídeo, que o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT), espalhou desinformação sobre mortes em UTI decorrentes da tragédia no Rio Grande do Sul. Para chegar à conclusão enganosa, Gayer publica dois vídeos, de momentos diferentes. No primeiro, Pimenta conversa com o prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD), que diz que nove pacientes que estavam em UTI haviam morrido por conta dos alagamentos na cidade. No segundo, um trecho do programa Estúdio I, em 10 de maio, da Globonews, o ministro diz: “Surgiu uma fake news de que nove pessoas tinham ido a óbito em um hospital de uma cidade da região metropolitana”.

Gayer também usa reportagem do site Poder360 sobre Jairo Jorge ter confirmado, em conversa por telefone com Pimenta, a morte de nove pessoas. Esse diálogo, por telefone e filmado, ocorreu em 4 de maio e o prefeito de Canoas corrigiu o número de mortes no dia seguinte. Duas pessoas morreram, e não nove. “Tivemos, na verdade, dois óbitos. Um óbito de uma pessoa que estava em morte cerebral e que nessa transferência veio a falecer, e de uma outra pessoa que se jogou do quarto andar de um prédio e em razão das múltiplas faturas, pela gravidade da situação, nessa transposição acabou falecendo”, disse Jairo Jorge. O Poder360 publicou texto sobre a retificação no mesmo dia. Já o vídeo de Gayer é de 11 de maio, ou seja, seis dias após o número ser corrigido.

O deputado foi procurado pelo Comprova, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No YouTube, até 14 de maio, o vídeo do deputado já contava com mais de 317 mil visualizações. O conteúdo replicado tem 7,5 mil curtidas, 1,3 mil comentários e 3,1 mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Procuramos os vídeos originais do deputado e das declarações do ministro Paulo Pimenta, publicadas, respectivamente, em 11 e 10 de maio. Também buscamos as matérias do Poder360 e a correção feita nas redes sociais do prefeito Jairo Jorge.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: As chuvas no Rio Grande do Sul se tornaram alvo frequente de desinformação. O Comprova já mostrou que é enganoso que governos não estão atuando no resgate das vítimas e que Luciano Hang não tem mais aeronaves apoiando os trabalhos no estado do que a Força Aérea e já explicou que caminhões com doações à região não são retidos por falta de nota fiscal.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-15

Vídeo engana ao dizer que Anvisa impede transporte de medicamentos no RS

  • Enganoso
Enganoso
Live realizada no Instagram por médico engana ao afirmar que o transporte de medicamentos feito por aviões particulares ao Rio Grande do Sul está sendo impedido devido à burocracia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que pessoas morreram por conta disso. Ao Comprova, a assessoria do médico confirmou que os medicamentos chegaram ao destino final, e disse que a frase sobre mortes de pessoas foi dita “no calor do momento”. A Anvisa emitiu comunicado no qual diz que a afirmação é falsa e publicou duas portarias que facilitam o acesso de produtos e flexibilizam receituário para remédios no estado.

Conteúdo investigado: Live no Instagram do médico Victor Sorrentino, na qual ele alega que medicamentos levados em aviões particulares ao Rio Grande do Sul estão tendo o transporte impedido no estado devido à burocracia da Anvisa.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: São enganosas as afirmações feitas em uma live do médico Victor Sorrentino de que medicamentos transportados em aviões particulares não estão chegando às vítimas da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul devido à burocracia por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Segundo ele, isso estaria “matando pessoas”. Em contato com o Comprova, a equipe do médico negou que ele tenha conhecimento de mortes causadas por este motivo e confirmou que os medicamentos em questão foram enviados. 

Na live, Sorrentino cita a existência de “medicações paradas nos aeroportos” e afirma que aviões carregados de medicamentos não estavam conseguindo voar em três aeroportos por conta das regras da agência. O médico não mostra, no entanto, quais seriam os aviões barrados, nem em quais locais teriam ocorrido as retenções.“Entendemos a necessidade dessa regulação, mas não no estado em que estamos, porque senão nenhuma aeronave particular vai conseguir transportar esses medicamentos”, disse ele na live.

Na noite de quarta-feira 8, a Anvisa afirmou que as alegações eram falsas e garantiu ainda que “não efetuou qualquer restrição ao transporte de medicamentos destinados ao Rio Grande do Sul”.

No mesmo dia, a agência publicou duas Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC) para o enfrentamento às enchentes no estado. A RDC nº 863 suspende por 90 dias os prazos processuais para pedidos de liberação de responsabilidade da Anvisa e prioriza petições que pedem o acesso a produtos estratégicos para o enfrentamento da situação de calamidade pública na região. A RDC nº 864 flexibiliza o receituário para medicamentos de uso controlado para os municípios localizados no estado.

A agência diz que essas medidas vão permitir o acesso a produtos prioritários e necessários para a manutenção e proteção da saúde da população com mais agilidade. Afirma ainda que o objetivo é facilitar o acesso aos medicamentos controlados e evitar a interrupção de tratamentos, diante da dificuldade de emissão de receitas especiais.

“Acredita-se que os agentes estavam cumprindo protocolo como se fosse um dia normal, o que [Sorrentino] entende e concorda”, escreveu a equipe do médico. Ainda segundo a assessoria, as “medicações foram enviadas”.

Perguntado sobre a afirmação de que pessoas estariam morrendo por falta de medicamentos, a equipe argumentou que o vídeo foi feito “em uma situação de apelo e de desespero”, e pediu que não fosse levado “tão ao pé da letra tudo o que foi dito no calor do momento”.

Na segunda-feira 13, o Ministério da Saúde publicou atualização sobre o estoque de medicamentos nos hospitais do Rio Grande do Sul. Segundo o comunicado do secretário de Atenção Primária à Saúde, Felipe Proenço, a pasta tem garantido o envio regular de medicamentos e vacinas para o Rio Grande do Sul.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alteraç��es; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de maio, a live contabilizava mais de 13,3 milhões de visualizações.

Fontes que consultamos: Procuramos por publicações sobre possíveis retenções de medicamentos no Rio Grande do Sul e por declarações da Anvisa sobre o tema.

Médico teve registro suspenso por divulgar assunto médico com sensacionalismo

Em março de 2024, Victor Sorrentino teve o registro profissional suspenso temporariamente por violação de quatro artigos do Código de Ética Médica, após decisão do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). Entre os artigos violados, está a divulgação de assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico.

Com a determinação, o médico ficou por 30 dias impedido de exercer a medicina, até 23 de abril. O motivo do processo é mantido sob sigilo e foi originado no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul em 2019.

O médico tem mais de 1,3 milhões de seguidores no Instagram e, além da atuação na área da saúde, se apresenta como escritor, professor e palestrante.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão também verificou que a Anvisa não impediu a entrega de medicamentos enviados por médicos ao Rio Grande do Sul. Outras peças de desinformação sobre a enchente no estado também foram checadas pelo Comprova, que já mostrou ser enganosa a alegação de que o Haarp, sistema de ondas eletromagnéticas, seria o causador da chuva intensa na região, e já explicou que caminhões com doações aos gaúchos não são retidos por falta de nota fiscal.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-05-15

Não há evidências de que doações ao Rio Grande do Sul tenham sido reembaladas com selo do governo federal

  • Enganoso
Enganoso
Não há evidências de que doações enviadas pela população ao Rio Grande do Sul estejam sendo reembaladas pela prefeitura de Canoas (RS) com o selo do governo federal. Os alimentos colocados em sacolas com a logomarca da gestão atual fazem parte da compra de cestas básicas feita pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Também não é verdade que um decreto permitiu que a prefeitura de Canoas se apropriasse das doações.

Conteúdos investigados: Publicação com foto de alimento alega que o prefeito de Canoas editou um decreto de apropriação de donativos e está reembalando com selo do governo federal. Por cima da imagem, a frase “as doações do povo sendo apreendidas e reembaladas como se fossem doações do PT”. Já um vídeo acusa o prefeito de Canoas de impedir o envio das doações aos abrigos e reforça que os rótulos estão sendo adulterados.

Onde foi publicado: X e TikTok.

Conclusão do Comprova: Não há evidências de que as embalagens das doações enviadas pela sociedade civil às vítimas das enchentes em Canoas, no Rio Grande do Sul, estejam sendo substituídas pela logomarca do governo federal, como afirmam publicações nas redes sociais. Os alimentos colocados em sacolas com o selo do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome fazem parte da compra de 52 mil cestas básicas pela pasta para atender desabrigados e desalojados no estado.

Ao Comprova, a prefeitura de Canoas disse que a informação que circula na internet não procede, e que não é feita nenhuma identificação da gestão municipal nos rótulos dos donativos. A administração esclareceu apenas que “algumas doações que chegam em sacolas mais frágeis são colocadas em sacos mais resistentes, todos genéricos”.

Os alimentos enviados pelo governo federal ao município são distribuídos a partir da Unidade Armazenadora da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De lá, os kits são encaminhados para as cozinhas emergenciais montadas para atender 49 mil vítimas das enchentes. Cada cesta tem 21,5 kg de alimentos e é composta de dez itens: arroz, feijão-carioca, leite em pó integral, óleo de soja, farinha de trigo ou farinha de mandioca, macarrão, fubá de milho, açúcar cristal, sardinha em óleo e sal.

A prefeitura de Canoas também nega que esteja confiscando as doações. O decreto 174, publicado em 2 de maio, dispensa a necessidade de processos licitatórios, que podem durar até sete dias. O objetivo é facilitar a aquisição de cestas básicas, materiais de limpeza, higiene pessoal, ração, colchões, cobertores, entre outros itens.

Um dos posts investigados traz apenas uma foto de um pacote com alimentos que leva o selo do governo federal para embasar a acusação. A imagem foi publicada originalmente pelo vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, em 11 de maio para destacar as ações do governo, como mostrou o Estadão Verifica. O outro conteúdo investigado é um vídeo, que usa a mesma foto, também sem apresentar evidências. Ambos acusam a prefeitura de confiscar as doações.

Uma das publicações também engana ao afirmar que o prefeito de Canoas é petista e que estaria reembalando as doações para simular uma ação do PT no Rio Grande do Sul. Apesar de ter sido membro do partido entre 1984 e 2016, Jairo Jorge é, desde 2020, filiado ao PSD.

O Comprova não conseguiu entrar em contato com os responsáveis pelas publicações pelos perfis no TikTok e no X, que não admitem envio de mensagens para contas que não se seguem mutuamente. Enviamos pedido de esclarecimento à responsável por uma das postagens pelo seu perfil no Instagram, mas não recebemos retorno até a publicação desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No X, a publicação aqui verificada somava mais de 364 mil visualizações, além de 24 mil interações até 14 de maio. No TikTok, o vídeo contabiliza quase 12 mil visualizações e mais de seis mil interações.

Fontes que consultamos: Solicitamos informações à prefeitura de Canoas e ao governo federal. Também consultamos as redes sociais oficiais de ambas as administrações e encontramos informações já esclarecidas sobre o assunto em sites oficiais.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo assunto foi verificado por Aos Fatos, Estadão Verifica e Boatos.org. O Comprova checou outras peças de desinformação relacionadas à tragédia no Rio Grande do Sul, como a de que caminhões com doações ao RS estariam sendo retidos por falta de nota fiscal e que Luciano Hang teria mais aeronaves atuando no RS do que a Força Aérea Brasileira.