O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 2024-07-01

Post engana ao tratar quantidade de brasileiros no exterior como fluxo migratório recente

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao tratar a quantidade de brasileiros vivendo no exterior como um movimento recente de emigração, sugerindo que isso esteja ocorrendo por conta do governo federal. Os dados mais recentes do Ministério das Relações Exteriores são de 2022 e estimam que, naquele ano, 4,5 milhões de brasileiros viviam fora do país, mas o movimento não é recente. O período de maior saída de brasileiros foi entre 2012 e 2013. Especialista diz que o fluxo migratório depende de questões geopolíticas, dos mercados regionais e da política dos destinos escolhidos pelos emigrantes, não apenas de questões internas do Brasil.

Conteúdo investigado: Publicação no X com um mapa e uma tabela com aqueles que seriam os países com o maior número de brasileiros residentes. A legenda diz que “O movimento de saída de pessoas do Brasil está tão grande que já está sendo considerado uma diáspora”, dando a entender que esses brasileiros deixaram o país no momento atual.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso post no X segundo o qual “o movimento de saída de pessoas do Brasil está tão grande que já está sendo considerado uma diáspora”. Sem mencionar diretamente, o conteúdo sugere que isso seria culpa do atual governo federal. A publicação compartilha um mapa produzido por um perfil especializado em fazer conteúdos a partir de dados, e este, por sua vez, não indica a metodologia utilizada. Embora a lista de países com mais brasileiros esteja bem próxima da realidade, a maior parte dos números difere do dado mais recente, de 2022, divulgado em agosto do ano passado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), que aponta 4,5 milh��es de brasileiros vivendo fora do Brasil.

Diferentemente do que o post leva a crer, os dados não mostram uma saída repentina de brasileiros do país, e sim o número de pessoas que já vivem no exterior no momento da coleta de dados – elas podem ter chegado em outros países há um ano ou há décadas. Esse número acumulado é chamado de estoque por especialistas.

Além disso, segundo a professora Rosana Baeninger, pesquisadora do Departamento de Demografia, do Núcleo de Estudos de População Elza Berquó e Observatório das Migrações em São Paulo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não é possível chamar essa saída dos brasileiros de “diáspora”, porque isso exigiria a formação de uma comunidade politicamente forte em outro país, desencadeada por uma crise, o que não é o caso do Brasil.

O perfil que fez a publicação no X não se identifica por um nome, nem permite o envio de mensagens, de modo que não foi possível contatá-lo. Os responsáveis por produzir o material, Maps Interlude, também não disponibilizam uma forma de contato em seu site.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 29 de junho de 2024, o post tinha 1,9 milhão de visualizações.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, foram acessados documentos do Ministério das Relações Exteriores que registram estimativas de brasileiros que vivem no exterior desde 2009. Também foram consultados dados sobre a população brasileira vivendo fora do Brasil no Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, foi entrevistada a professora doutora Rosana Baeninger, pesquisadora do Departamento de Demografia, do Núcleo de Estudos de População “Elza Berquó” e do Observatório das Migrações em São Paulo da Unicamp.

Qual o tamanho da comunidade brasileira no exterior?

O número mais recente de brasileiros vivendo no exterior é uma estimativa referente a 2022, divulgada em agosto do ano passado pelo MRE: 4,5 milhões de pessoas, distribuídas em 175 países e territórios pelo mundo. “É importante a gente dizer que se trata de um estoque de brasileiros no exterior. Tem pessoas que foram há 60 anos, 50 anos, e estão lá. Não quer dizer que todo mundo saiu em 2022”, explica a professora Rosana Baeninger, da Unicamp.

Esses dados, contudo, não são exatos porque o MRE não tem jurisdição para fazer um censo fora do Brasil. Os números, então, são contabilizados a partir da emissão de passaportes e outros documentos e serviços realizados nas embaixadas, ou por uma matrícula consular – quando um brasileiro se apresenta ao consulado do Brasil no exterior para informar que se mudou, mas essa apresentação não é obrigatória.

O único momento em que houve uma tentativa de contabilizar a população brasileira no exterior foi em 2010. No censo daquele ano, o IBGE perguntou aos moradores se algum integrante daquele domicílio morava fora do país. O número foi de 495.645 brasileiros vivendo fora do Brasil, bastante inferior aos 3,1 milhões que o MRE estimou para aquele ano. Mas, a pergunta não foi incluída na PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, feita ano a ano, nem no Censo de 2022, por isso não há como comparar.

Sobre os dados do MRE, o número estimado para 2022 é ligeiramente superior ao registrado no levantamento de 2021, que mostrava haver 4,4 milhões de brasileiros morando fora do Brasil, uma alta de 4%. O maior aumento, segundo os dados do MRE, ocorreu em 2013, com relação a 2012: naquele ano, 902.487 brasileiros deixaram o Brasil para viver em outros países, 48% a mais do que no ano anterior.

Para Baeninger, essa grande diferença entre 2012 e 2013 pode estar relacionada com uma melhora na coleta dos dados, mas também tem forte influência do acordo de residência do Mercosul, que permite que brasileiros transitem, morem e trabalhem nos países do bloco. O acordo foi firmado em 2009.

Haiti e Colômbia viveram ou vivem diáspora, não o Brasil

A pesquisadora Rosana Baeninger explica que o fluxo migratório de brasileiros para outros países não chega a configurar uma diáspora, diferentemente do que alega a publicação investigada. O site responsável por criar o mapa também chama a saída de brasileiros de ‘diáspora’, mas sem atribuí-la a um governo ou afirmar que o fluxo é recente. “[A diáspora] quando se forma uma comunidade politicamente forte em outros países, e quando tem uma crise. Nós não temos uma diáspora, uma crise em que os brasileiros estão escapando para sobreviver. Não são comunidades políticas fora do Brasil”, afirma.

Ela cita como exemplos de diáspora o que acontece há várias décadas no Haiti e o que ocorreu na Colômbia, quando muitos colombianos foram para a Espanha por causa da violência interna no país. O termo, na realidade, tem um fundo histórico e antropológico. Costuma ser usado para tratar da dispersão dos judeus e dos povos africanos, por exemplo. O dicionário Caldas Aulete define o termo diáspora como a “dispersão de um povo ou de uma classe pelo mundo ao longo dos anos ou dos séculos, por perseguição política, religiosa ou étnica”.

Para Baeninger, a emigração de brasileiros faz parte de um processo histórico. “Antes, a mobilidade social brasileira era muito garantida pela migração interna. Isso vai se decompor a partir dos anos 1990 e começo dos 2000. No século XXI, estamos passando por uma transição. Embora tenhamos muitos postos de trabalho, não temos a qualificação dessas pessoas. E aquela mobilidade social que a migração interna garantia vai se desfazendo”, explica. Por isso, muitos buscam essa mobilidade em outros países

“Não tem a ver com questão ideológica, nem com governo. Essa emigração tem, na ponta, uma questão que é global, dessas novas dinâmicas do emprego. Nesses países de destino, na Europa, Canadá, Estados Unidos, a transição demográfica está avançada e eles não têm mais jovens. Eles vão absorver a mão de obra qualificada deles e, para os serviços secundários, eles vão precisar de uma mão de obra migrante”, afirma a pesquisadora.

Onde os brasileiros mais moram no exterior?

A tabela exibida no post viral lista os 24 países com maior número de brasileiros. Embora a maioria dos países da lista esteja correta, os números são inconsistentes, e não há uma indicação de qual seja a fonte deles. O que se pode dizer é que os Estados Unidos são, há algum tempo, o país com o maior número de brasileiros – 1,9 milhão em 2022 –, seguido de Portugal (360 mil), Paraguai (254 mil), Reino Unido (220 mil) e Japão (206.990), de acordo com os dados do MRE.

Há uma razão histórica para alguns desses destinos receberem muitos brasileiros. Em outros casos, o fluxo migratório tem a ver com geopolítica internacional e com o que os países têm a oferecer aos brasileiros. Segundo Baeninger, já se sabe que os Estados Unidos tinham empresas em Governador Valadares (MG) na Segunda Guerra Mundial, o que ajudou a formar uma rede. O Japão, por sua vez, tinha uma forte política para receber imigrantes.

“Mas, a gente só vai se dar conta dessa dimensão quando chegou ao Primeiro Mundo. Porque já nos anos 1970, quantos brasileiros estavam no Paraguai? Mais de 400 mil. Mas, a gente só vai observar quando começa a ser esse fluxo sul-norte. Os principais destinos eram EUA, Japão e o Paraguai”, aponta.

O número de emigrantes brasileiros partindo para outros lugares começa a aumentar depois de 2010 à medida que a política e o perfil migratório dos países foi mudando: Portugal, por exemplo, tinha uma migração focada em dentistas, e passou a se receber profissionais da construção civil; o Chile costumava empregar estrangeiros em cargos de gerência, mas hoje há brasileiros em diferentes postos de trabalho.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou outros conteúdos que tentavam atacar a situação econômica e política do Brasil: mostrou que um vídeo comparava dados diferentes e enganava sobre déficit das contas públicas; explicou o que é a Selic e porque ela não deve ser analisada a partir de valores médios em cada governo; e mostrou que post enganava ao afirmar que Lula foi afastado de líder em foto oficial do G7.

Saúde

Investigado por: 2024-07-01

Post engana ao afirmar que Índia pediu pena de morte a cientista da OMS contrária ao uso da ivermectina contra covid-19

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso que o governo indiano tenha pedido pena de morte para Soumya Swaminathan, ex-cientista-chefe da OMS, por propagar desinformação contra ivermectina no tratamento de covid-19. Além de a ivermectina ser um remédio contra parasitas e vermes e não ter eficácia comprovada contra o Sars-CoV-2, um vírus, o órgão citado em site cujo texto viralizou não representa o poder público indiano. A Indian Bar Association é uma associação voluntária de advogados e não funciona como uma “OAB indiana”, diferentemente do que afirmam os posts enganosos.

Conteúdo investigado: Matéria do site The People’s Voice reproduzida nas redes sociais afirma que a Índia pediu pena de morte para “cientista da OMS que bloqueou o acesso à ivermectina” para tratamento da covid-19.

Onde foi publicado: X, TikTok e Telegram.

Conclusão do Comprova: Post engana ao apontar que a Índia processou e pediu pena de morte para ex-cientista-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, por desincentivar o uso de ivermectina no tratamento da covid-19. O medicamento, que atua contra parasitas e vermes, não tem eficácia comprovada contra o Sars-CoV-2.

O texto do portal The People’s Voice, site conservador que espalhou a desinformação, afirma que o suposto processo foi movido pela Ordem dos Advogados do país. No entanto, a organização citada, Indian Bar Association (IBA), ou Ordem dos Advogados da Índia em português, não tem ligação com o governo do país.

Embora tenha esse nome, a IBA é uma associação voluntária de advogados e não funciona como uma “OAB indiana”, como indicam posts. Na Índia, a associação que tem papel similar ao da Ordem dos Advogados do Brasil é o Bar Council of India.

A IBA enviou um aviso legal para a cientista em 26 de maio de 2021, em que acusa Swaminathan, que trabalhou como cientista-chefe da OMS durante a pandemia, de propagar desinformação contra ivermectina, e outro em 14 de setembro de 2022, por “divulgar a narrativa de que as vacinas contra a covid-19 são completamente seguras”. Essas notificações, ao contrário do que diz postagem, não equivalem a um processo na Justiça. O conteúdo também foi investigado pelo Estadão Verifica. Ao jornal, a OMS afirmou que não recebeu qualquer processo formal contra a cientista.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 28 de junho, um post no X com a desinformação tinha sido visualizado mais de 95 mil vezes e recebido 9 mil curtidas. No TikTok, post semelhante foi retirado do ar.

Fontes que consultamos: Buscamos pela publicação completa no site que aparece na captura de tela. A partir do texto, procuramos no site da India Bar Association informações sobre processos e outros documentos emitidos pela organização. Também entramos em contato com a OMS e a IBA, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Organização já fez outras notificações contra a cientista

Durante a pandemia, a IBA se mostrou atuante contra a vacinação e a favor de tratamentos sem eficácia comprovada contra a covid, como a hidroxicloroquina e a ivermectina.

A primeira notificação legal contra Soumya Swaminathan foi em 25 de maio de 2021. No comunicado, a associação acusa a autoridade em saúde de “realização de uma campanha de desinformação contra Ivermectina por supressão deliberada da eficácia do medicamento ivermectina como profilaxia e para tratamento de covid-19, apesar da existência de grandes quantidades de dados clínicos compilados e apresentado por médicos conceituados, altamente qualificados e experientes médicos e cientistas”.

O texto se refere a uma postagem no X onde a médica reforça o posicionamento da OMS e compartilha declaração da farmacêutica Merck, responsável pela produção do Stromectol (ivermectina), que alerta para a falta de comprovação científica e dados sobre a segurança do medicamento no tratamento contra a covid. A postagem em questão não está mais disponível.

Na notificação, a IBA cita a Front Line Covid-19 Critical Care Alliance (FLCCC), organização que defende o uso de medicamentos ineficazes, e integrantes da aliança, como os médicos Pierre Kory e Paul E. Marik, que já foram citados em outras checagens do Comprova. O grupo brasileiro Médicos pela Vida também é citado.

Em 13 de junho, menos de um mês depois, os advogados voltaram a emitir notificação legal contra Swaminathan, o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, e o membro da Direção Geral dos Serviços de Saúde (DGHS) do governo da Índia, Sunil Kumar, em que volta a acusar as autoridades de disseminar desinformação contra a ivermectina.

Pouco depois, em 13 de julho, a India Bar Association apresentou uma queixa formal contra autoridades de saúde e outros divulgadores científicos, entre eles a associação de Bill Gates, por “conspiração e ofensas graves cometidas contra a humanidade na pandemia de covid-19”.

O documento pede que os acusados sejam incriminados por “crime contra a humanidade” e que a prisão seja garantida pela Interpol. Os advogados afirmam que Swaminathan, Tedros Adhanom, Bill Gates, Anthony Fauci, Mark Zuckerberg e outros “são culpados de assassinatos em massa e estarão sujeitos à pena de morte” sem direito a fiança.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi verificado por Estadão Verifica e Boatos.org. O uso da ivermectina contra a covid já foi investigado diversas vezes, como quando o Comprova mostrou que um estudo realizado em Itajaí (SC) não provava a eficácia do medicamento e que um post desinformava ao afirmar que pesquisa havia descoberto relação entre a droga e a covid longa.

Política

Investigado por: 2024-06-26

É satírico o vídeo em que homem diz estar indo investigar túmulo de Lula

  • Sátira
Sátira
São satíricos os vídeos sobre uma suposta investigação de um túmulo onde estaria sepultado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os conteúdos foram postados no TikTok por um perfil que afirma publicar “fantasias, sátiras, comédia, sem base na realidade”. No discurso, há elementos fantasiosos, uso de termos de duplo sentido e da imagem de um personagem fictício. Além disso, parte das imagens foi feita em Campo Grande (MS), e não no interior da Bahia, como afirma o autor.

Conteúdo investigado: Série de vídeos em que um homem afirma estar investigando uma denúncia de que existe um túmulo onde estaria sepultado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto outra pessoa estaria governando o Brasil no lugar dele. Um dos vídeos afirma que o túmulo fica em uma cidade no interior da Bahia, outra postagem diz que foi localizado um chip no mausoléu. O autor do conteúdo satírico diz que o resultado da investigação seria exibido na edição de 23 de junho de 2024 do Fantástico, da Rede Globo.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não há qualquer base factual na série de vídeos satíricos publicadas no TikTok, em que o autor afirma estar saindo de São Paulo e viajando em direção a uma cidade no interior do Nordeste para investigar a existência de um suposto túmulo do presidente Lula (PT). A sequência tem oito vídeos e, já no primeiro deles, o autor inclui a seguinte legenda: “Vídeo sem base na realidade humor ficção, feito para gado!” (sic). Mesmo assim, há comentários na publicação indicando que algumas pessoas tomaram o conteúdo como verdadeiro.

Uma mulher diz ter comentado com o marido que Lula morreu antes da posse. Outra diz: “Que a verdade seja mostrada em nome de Jesus. Que assim seja!”. São comentários que parecem ter ignorado a legenda e a descrição do perfil, que afirma publicar “fantasias, sátiras, comédia, sem base na realidade”.

Outro indício de que o vídeo é uma sátira é o fato de ter elementos humorísticos: a suposta fonte da informação sobre o túmulo seria um homem que mora no interior da Bahia chamado Paulo Minoso, um termo de duplo sentido para “pau luminoso”. O autor chega a se queixar do sumiço da fonte no momento da chegada à cidade no interior da Bahia e afirma que será preciso expor o homem. Em seguida, exibe uma fotografia de um personagem de memes chamado Leno Brega – autor de paródias de cunho sexual de músicas sertanejas.

O Comprova conseguiu identificar que parte das imagens dos vídeos foi feita em Campo Grande (MS), e não no interior da Bahia. E não há nenhum registro de óbitos de pessoas chamadas “Luiz Inácio Lula da Silva” em cartórios de registro civil do Estado. O autor afirma também que sua “investigação” seria divulgada em uma reportagem do Fantástico, da Globo, no dia 23 de junho, o que não ocorreu.

Ao Comprova, o autor do conteúdo, o empresário Rod Rocha, afirmou que suas publicações são satíricas.

Sátira, para o Comprova, são memes, paródias e imitações publicadas com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 26 de junho, a sequência de vídeos somava mais de 2,5 milhões de visualizações. Apenas um dos vídeos alcançou 1,3 milhões.

Fontes que consultamos: Para esta checagem, o Comprova acessou os vídeos publicados pelo autor sobre o assunto, utilizou ferramentas de busca reversa de imagens (Yandex) e geolocalização (Google Maps) para identificar o local onde os vídeos foram feitos, além do app Sinesp Cidadão, do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), para identificar o local de registro de placas de carro que aparecem nas imagens.

Também foi acessada a última edição do Fantástico, de 23 de junho de 2024, e a Consulta Pública de Óbitos em Cart��rios de Registro Civil da Bahia. O responsável pelo conteúdo foi procurado e confirmou que o conteúdo é satírico.

Vídeos foram feitos no Mato Grosso do Sul, não na Bahia

Apesar de afirmar que está saindo de São Paulo e indo de carro até uma cidade no interior da região Nordeste – sem especificar qual delas – o autor do vídeo gravou pelo menos uma parte do conteúdo na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Foi possível fazer a identificação a partir da parte 2 da sequência de vídeos, em que ele afirma estar chegando em uma cidade que fica próxima do local onde ficaria o suposto túmulo.

Em outro vídeo, ele diz que o local seria no interior da Bahia, o que não é verdade. Em um momento do vídeo, é possível identificar a placa de um carro Fiat, modelo Mobi 2021, com placa de Campo Grande. No mesmo vídeo, é possível ver do lado direito da imagem uma loja chamada MultiArt. O Comprova identificou o mesmo local na Avenida Manoel da Costa Lima, nº 550, em Campo Grande – bem longe da Bahia.

Mesmo sabendo que o conteúdo é satírico, o Comprova buscou por eventuais registros de óbito em nome de “Luiz Inácio Lula da Silva” em cartórios de registro civil da Bahia. No vídeo, o homem disse que os cartórios não quiseram mostrar os registros, mas eles são públicos. Não há nenhum óbito de um “Luiz Inácio Lula da Silva” em cartórios de registro civil da Bahia, segundo dados do site oficial do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA).

Ao Comprova, o autor do vídeo afirmou que se chama Rod Rocha, é empresário e tem 46 anos. Rod reafirmou que suas publicações são sátiras. “Sempre coloco nomes de pessoas fictícias com duplo sentido como Paulo Minoso, Equipe Iroca, muitas pessoas dão risadas e entendem a brincadeira. Na bio tem a informação de sátira e humor, assim como não capa do vídeo”, disse o autor.

Fantástico não fez reportagem sobre morte de Lula

Em um dos vídeos, o autor afirma que o resultado de sua investigação seria divulgado em uma reportagem no Fantástico, programa da Rede Globo, no dia 23 de junho. Nesta data, a revista eletrônica não divulgou qualquer matéria relacionada a uma suposta morte de Lula. Entre os temas abordados pelas reportagens desta edição estão incêndio no Pantanal, ações relacionadas às enchentes no Rio Grande do Sul, a qualidade dos colchões de espuma vendidos no Brasil e o fim da greve em universidades federais, além de notícias sobre esporte, como Campeonato Brasileiro e Copa América.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A teoria conspiratória sobre a morte de Lula já foi verificada anteriormente. Em dezembro de 2022, o Comprova mostrou que eram falsas as alegações de que o presidente sofreu um AVC, morreu e foi substituído por um sósia. Outros temas relacionados à política brasileira também são alvos de desinformação e já foram verificados, como o post que engana ao afirmar que Lula foi afastado de líder em foto oficial do G7 e outra postagem enganosa que sugere que um secretário do governo confirmou a cobrança de novo imposto sobre o pix.

Política

Investigado por: 2024-06-26

Publicação distorce fala de Lula sobre população carente

  • Enganoso
Enganoso
Vídeos enganam ao utilizar recortes de discursos de Lula (PT) em Teresina (PI) e em Brasília (DF). O presidente não disse que políticos não devem cuidar de pobres porque quando eles ascenderem socialmente deixarão de votar. Os conteúdos enganosos omitem o trecho em que o presidente atribui esse pensamento ao que ele chama de “elite conservadora do Piauí” e tiram de contexto uma reflexão dele a respeito da necessidade de seu partido, o PT, conversar com outras classes sociais.

Conteúdo investigado: Vídeos com recortes de discursos de Lula em Teresina, no dia 21 de junho de 2024, e em convenção do PT, em 8 de dezembro de 2023, em que o presidente teria dito que políticos não deveriam cuidar de pessoas pobres porque quando elas estudam e ascendem socialmente deixam de votar.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeos tiram de contexto trecho de discurso do presidente Lula (PT) realizado em 21 de junho, em Teresina, durante o evento de encerramento da Caravana Federativa, evento itinerante que visa a promover a articulação entre as esferas de governo federal, para discutir programas, políticas e serviços públicos. As publicações recortam falas do presidente e alegam que ele teria dito que os políticos não deveriam tirar pessoas da pobreza porque, se elas estudarem e aumentarem o padrão de vida, não votarão mais.

Os posts exibem o seguinte trecho da fala de Lula: “Então, pobre é pobre, tem que trabalhar, pobre é pobre, a gente ganha o voto de pobre na época da lei, para que cuidar de pobre? Porque na hora que a gente começa a ajudar as pessoas mais humildes e as pessoas vão comendo, as pessoas vão trabalhando, as pessoas vão estudando, as pessoas também ficam mais conscientes politicamente e as pessoas podem não votar, sabe?”.

Na transcrição do discurso e na gravação completa do pronunciamento, disponibilizadas pelo Planalto, é possível ver que as publicações enganosas cortaram a parte em que Lula atribui esse pensamento à “elite conservadora” do Piauí. Nesse momento, ele fazia uma reflexão sobre a dificuldade de fundar o PT, e não ao presente. “Aqui tinha uma elite conservadora muito comprometida com a elite conservadora do Sul do país”, afirmou o petista.

“É que muita gente da elite que governou o Nordeste, eles pensavam como pensava a elite do Sul do país e estavam pouco se lixando para fazer o desenvolvimento dos seus estados, porque eles viviam bem, ele vivia bem, ele não passava fim de semana aqui no Piauí, eles viajavam”, criticou Lula.

Um dos posts analisado pelo Comprova exibe ainda outro recorte de um discurso de Lula feito no dia 8 de dezembro de 2023, durante uma conferência do PT em Brasília (DF), em que o presidente diz que o perfil do eleitor do partido é de classes mais baixas, como mostra a íntegra da fala. Como verificado pelo UOL, o petista não disse que esses eleitores não são inteligentes ou não podem ascender socialmente, porque deixariam de votar no partido. Ele fazia, na verdade, uma reflexão sobre a necessidade da legenda conversar com outras classes sociais.

“Quem vota majoritariamente no PT são pessoas que ganham até dois salários mínimos. Um metalúrgico de São Bernardo, que ganha R$ 8 mil, já não quer mais votar na gente. Pega a pesquisa e vocês percebem que quem ganha acima de cinco salários mínimos já tem dificuldade de votar na gente. É por que essa pessoa ficou ruim? Não, é porque possivelmente essa pessoa elevou um milímetro padrão de vida dela, de aprendizado dela e nós não aprendemos a conversar com ela”, disse Lula durante a convenção do partido em Brasília.

O Comprova entrou em contato com os autores dos post enganosos, mas não houve retorno.

Para o Comprova, enganoso é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Os vídeos analisados somavam até o dia 25 de junho mais de 308,9 mil visualizações, 16,6 mil curtidas e 1,7 mil comentários.

Fontes que consultamos: Fizemos uma busca reversa no Google para encontrar os vídeos na íntegra, procuramos os discursos nos canais oficiais do governo e consultamos outras verificações feitas por outros veículos.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Estadão já verificou o discurso de Lula feito no Piauí e entendeu ser enganosa a afirmação de que o presidente defendia exploração eleitoral da população carente. O Comprova já mostrou casos semelhantes com recorte da fala do ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso e com outra declaração do petista, em que a voz do presidente foi distorcida para alimentar teoria conspiratória.

Política

Investigado por: 2024-06-24

Post engana ao afirmar que Lula foi afastado de líder em foto oficial do G7

  • Enganoso
Enganoso
Publicação engana ao dizer que segurança mandou Lula (PT) se afastar de homem, que seria um rei, no momento da foto com líderes mundiais convidados do G7, na Itália. O homem que interagiu com o petista é o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga. E ele mostrava a posição determinada para Lula para a captação da imagem das autoridades. Já o homem apontado como rei é Mohammed bin Zayed Al Nahya. Na verdade, ele é um sheik e também presidente dos Emirados Árabes.

Conteúdo investigado: Trecho de vídeo que mostra diversos líderes mundiais se posicionando para a foto do G7, na Itália, acompanhado da palavra “Vergonha” e do texto “Lula subiu de penetra e o segurança do rei mandou se afastar e descer o degrau. E, saiu”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Publicação engana ao dizer que Lula (PT) subiu de penetra no local onde era realizada a foto oficial da cúpula do G7 e que o segurança de um rei teria mandado o presidente se afastar e descer da área destinada aos convidados do evento.

O post contém um trecho de um vídeo no qual mostra líderes mundiais se preparando para a foto oficial com os convidados da cúpula. É possível ver que Lula se aproxima do grupo e um homem de turbante vermelho aponta para o chão, orientando o presidente.

Na versão da publicação enganosa, seria uma ordem para que Lula se afastasse do homem de turbante branco, que seria um rei, e deixasse o local, o que não é verdade.

O Estadão e a Reuters também checaram o post e identificaram que o homem que aparece interagindo com o brasileiro era o presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, e não um segurança do evento. Já o homem de turbante branco é o sheik e presidente dos Emirados Árabes, Mohammed bin Zayed Al Nahyan, e não um rei.

O vídeo completo da movimentação das autoridades mostra que Ajay Banga estava indicando o local determinado para o presidente brasileiro se posicionar para tirar uma foto com os demais participantes do evento. É possível ver que há indicações no chão para a posição de cada líder mundial.

Ao contrário do que alega a publicação, Lula posou para a foto com os demais convidados para o G7 e ficou, inclusive, ao lado do presidente dos Emirados Árabes.

Lula foi convidado pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, para a reunião do G7, ocorrida em Borgo Egnazia, na região de Puglia, no sul da Itália. Foi a 8ª vez que o petista participou da cúpula como convidado, seis vezes nos seus dois primeiros governos e uma em 2023, no primeiro ano do terceiro mandato.

Na edição de 2024, o presidente participou de reuniões com Giorgia Meloni; com a representante da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen; com o premiê da Índia, Narendra Modi; com o presidente da Turquia, Recep Erdoğan; com o presidente da França, Emmanuel Macron; além de ter um encontro com o Papa Francisco e com o chanceler alemão, Olaf Scholz.

O autor do post enganoso não permite o envio de mensagens, por esta razão, não foi possível contactá-lo.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 24 de junho, a publicação tinha mais de 910,3 mil visualizações, 37,6 mil curtidas e mais de 8,1 mil comentários.

Fontes que consultamos: Fizemos uma busca reversa no Google para encontrar o vídeo original e a foto oficial do G7. Também procuramos por outras checagens feitas a respeito do tema.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou outras peças de desinformação sobre a viagem de Lula à Europa em junho de 2024 e mostrou, por exemplo, que o presidente não foi excluído de foto do G7 que mostra apenas os líderes dos países membros, explicou também que a visita dele e da primeira-dama Janja ao continente foi para cumprir agenda diplomática e que a diária no hotel onde o casal se hospedou custa até R$ 2,5 mil e não R$ 71 mil.

Contextualizando

Investigado por: 2024-06-22

Hotel em que Lula ficou na Itália tem diárias de até R$ 2,5 mil, e não de mais de R$ 71 mil

  • Contextualizando
Contextualizando
Após ser noticiado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, iriam à Itália participar da Cúpula do G7, postagens foram compartilhadas nas redes sociais afirmando que o casal ficaria hospedado no hotel Borgo Egnazia, com diária acima de R$ 71 mil. Entretanto, conforme a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, Lula se hospedou no hotel Sole in Me, cuja diária é de 423 euros, ou seja, R$ 2.483,98.

Conteúdo analisado: Postagens nas redes sociais e em um blog afirmando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, iriam se hospedar no hotel cinco estrelas Borgo Egnazia, onde a diária passa dos R$ 71 mil, durante viagem à Itália para participar de um encontro do G7. 

Onde foi publicado:  X, Instagram, YouTube, Threads, Facebook, Kwai e TikTok. 

Contextualizando: O presidente Lula (PT) e a primeira-dama Janja estiveram na Itália, nos dias 14 e 15 de junho, para cumprir agenda junto à cúpula do G7, realizada no hotel Borgo Egnazia, na região da Puglia. O casal esteve no resort apenas durante a programação do evento e não ficou hospedado no local. 

O resort é um complexo luxuoso com casas, apartamentos, restaurantes e jardins, com diárias que variam de 2.380 euros (R$ 13.822,00) a 3.520 euros (R$ 20.443,00). A conversão dos valores foi feita pela ferramenta disponibilizada pelo Banco Central seguindo a cotação do dia 20 de junho.

Conforme informado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo federal, o presidente se hospedou no Sole in Me, que se descreve como um resort de luxo cinco estrelas situado na cidade de Ostuni, também na região da Puglia. O órgão se recusou a informar, contudo, o valor pago por cada diária do quarto do casal. Mas o estabelecimento negou ao Comprova que tenha diárias no valor de R$ 71 mil.

O Comprova verificou a diária mais cara no estabelecimento, na Suíte Embaixador, que custava 432 euros no dia 20 de junho, ou seja R$ 2.483,98. A reportagem identificou dois pagamentos feitos pelo Ministério das Relações Exteriores ao hotel, um em maio e outro em junho, para hospedagem de parte da equipe de Lula no contexto da preparação do presidente na cúpula do G7. Os valores somam 60.500 euros (R$ 336.997,10). A Secom e o Itamaraty não informaram quantas pessoas ficaram hospedadas no local e por quantos dias. 

Um terceiro pagamento também foi feito ao hotel, no valor de R$ 27.338,52, para aluguel de equipamentos como computadores e roteadores, além de contratação de cerimonial. 

A reportagem fez a mesma busca no Portal da Transparência por pagamentos ao Borgo Egnazia, mas nada foi encontrado.

Antes da viagem, o jornal Folha de S.Paulo havia noticiado que o encontro da cúpula ocorreria no resort Borgo Egnazia, mas que o presidente brasileiro não ficaria hospedado no local. De acordo com o veículo, a sede do encontro teria sido escolhida pela primeira-ministra Giorgia Meloni, que hospedou no local Joe Biden (EUA), Emmanuel Macron (França), Olaf Scholz (Alemanha), Rishi Sunak (Reino Unido), Fumio Kishida (Japão) e Justin Trudeau (Canadá). 

Lula participou do evento no hotel nos dias 14 e 15, realizando reuniões com diferentes lideranças, a convite de Giorgia Meloni.O G7 é composto por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mas os eventos do grupo costumam contar com a presença de países convidados. 

O colunista Cláudio Humberto e o site Diário do Poder, que também publicou nota sobre a hospedagem de Lula, foram procurados pela reportagem, mas não retornaram até esta publicação. 

Fontes consultadas: A reportagem consultou o Portal da Transparência do governo federal, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) e o Ministério das Relações Exteriores. Também foram feitas tentativas de contato com os hotéis Borgo Egnazia e Sole in Me, além de cotados os preços das diárias do último. Por fim, o Comprova procurou também o colunista Cláudio Humberto e o site Diário do Poder. 

Por que o Comprova contextualizou este assunto: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições. Quando detecta nesse monitoramento um tema que está sendo descontextualizado, o Comprova coloca o assunto em contexto. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Para se aprofundar mais:  O Comprova já explicou outro conteúdo que cita a viagem de Lula à Europa e mostrou que ele e a primeira-dama foram ao continente para cumprir agenda diplomática, e não para festejar o Dia dos Namorados. O projeto também checou anteriormente conteúdo desinformativo sobre valores pagos pelo governo brasileiro em diárias fora do país, informando que, em 2019, a hospedagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um hotel de luxo de Abu Dhabi não foi paga com dinheiro público brasileiro

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-06-20

Enchente em São Leopoldo (RS) não foi causada por rompimento de barragem

  • Enganoso
Enganoso
É enganoso vídeo em que podcaster diz que inundação em São Leopoldo (RS) foi causada pelo rompimento de uma barragem. A inundação foi provocada por precipitações intensas, que levaram ao desligamento de casas de bombas e resultaram na erosão parcial de um dique de drenagem de água.

Conteúdo investigado: Vídeo de entrevista do podcaster Diego Santana Correa Oliveira em que ele afirma que a enchente em São Leopoldo (RS) foi provocada pelo rompimento de uma barragem que estaria há 13 anos sem manutenção. Ele também acusa o estado e o município de processar pessoas que teriam alertado sobre a enchente, e alega ainda que não viu a presença do governo em abrigos.

Onde foi publicado: Tiktok, Instagram e YouTube.

Conclusão do Comprova: O desastre das chuvas em São Leopoldo (RS) não foi causado pelo rompimento de uma barragem, diferentemente do que afirma um post viral. O município foi um dos mais afetados pelas enchentes no estado e emitiu o primeiro alerta para chuvas fortes em 27 de abril. Na data, a prefeitura informou que houve acúmulo de 63 mm de chuva em uma hora.

São Leopoldo fica na região do Rio dos Sinos e já havia sofrido com enchentes em 2023 e em outros anos. Por estar em uma região ameaçada por alagamentos, o município tem um sistema de drenagem composto por diques e casas de bombas espalhadas pelo território.

No mapa interativo do Sistema de Segurança de Barragem (SNISB), da Agência Nacional de Águas (ANA), é possível ver que não há barragens que retêm o fluxo de rios em São Leopoldo. O painel interativo da SNISB lista quatro barragens na cidade, duas de aquicultura, uma industrial e outra para recreação. Nenhuma delas está classificada com dano potencial alto (quanto estrago a barragem poderia provocar se se rompesse).

O que existe na cidade são diques, que chegam a 20,4 km de extensão. Ao Comprova, a Prefeitura de São Leopoldo disse que essas estruturas não se romperam e que “foram vitais para evitar uma catástrofe maior”. Afirmou ainda que os alagamentos foram provocados pelo grande volume de chuvas na região: 966 mm entre 24 de abril a 27 de maio. Apenas entre 30 de abril e 2 de maio foram 304 mm na cabeceira do Rio dos Sinos, na cidade de Caraá, e no Rio Paranhana, em São Francisco de Paula, e seus afluentes. Somente em São Leopoldo foram registrados 700,4 mm de chuva entre 27 de abril a 28 de maio.

Em Novo Hamburgo, a chuva intensa fez o Rio dos Sinos passar por cima do dique, pela primeira vez na história. A estrutura protegia a cidade até o nível de 9,50 metros do rio, mas o nível chegou a quase 10 metros. Foi decidido então que a casa de bombas do bairro Santo Afonso, que joga a água do Arroio Gauchinho para o Rio dos Sinos, seria desligada, pois, na avaliação da gestão municipal de Novo Hamburgo, não faria sentido jogar a água para o rio que estava transbordando.

A alegação do podcaster de que os governos não estão presentes em abrigos e que as vítimas das enchentes são amparadas apenas por voluntários também não procede. Em São Leopoldo, onde vivem mais de 217 mil habitantes, 100 mil pessoas ficaram desalojadas e cerca de 20 mil receberam auxílio em 132 abrigos da prefeitura e entidades parceiras, conforme informado pelo município.

Um balanço divulgado pelo Estadão em 15 de maio, um mês antes de o vídeo enganoso viralizar nas redes sociais, mostrou que o Rio Grande do Sul contava com 830 abrigos em atividade em 103 municípios, criados tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil, em escolas, centros desportivos, universidades, clubes e outros espaços.

É possível constatar a presença governamental nos abrigos, por exemplo, na força-tarefa montada pela prefeitura de São Leopoldo para prestar atendimento de saúde nos albergues montados na cidade, nos serviços de Justiça disponibilizados em um mutirão e no reforço na segurança feito por policiais militares da reserva nos locais de acolhimento.

Também não há evidências de que a Prefeitura de São Leopoldo tenha processado pessoas que teriam alertado sobre os alagamentos. Em buscas na plataforma JusBrasil, o Comprova não encontrou ações judiciais movidas pelo município (1, 2, 3 e 4). A administração municipal negou que tenha movido ações judiciais sobre o tema. “Os alertas foram emitidos pela Defesa Civil do município para prevenir e dar segurança às pessoas em bairros limítrofes ao Rio dos Sinos”, disse.

A reportagem tentou contato com o autor da peça de desinformação, Diego Santana Correa Oliveira, e com a assessoria do Alfa 11 Cast, podcast apresentado por ele, mas não houve retorno.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 18 de junho, o vídeo contabilizava mais de 4,6 milhões de visualizações no TikTok, 237 mil no Instagram e mais de 13 mil vezes no YouTube.

Fontes que consultamos: Uma busca reversa de imagem nos permitiu identificar o homem no vídeo. A partir das redes sociais de Diego Santana Correa Oliveira, encontramos o vídeo original da fala, feita durante entrevista dele ao No Limite Podcast, em 4 de junho.

Também consultamos o mapa do Sistema de Segurança de Barragem (SNISB) e o Google Maps para encontrar barragens na região de São Leopoldo e entramos em contato com a prefeitura local, que informou sobre a situação dos diques. O governo municipal levantou ainda a possibilidade de a barragem mencionada ser a da Usina 14 de Julho, erroneamente atribuída a São Leopoldo. Com base nisso, buscamos manifestação e relatórios de vistoria da empresa que administra o reservatório.

Barragem comprometida fica em Cotiporã

Houve, de fato, o comprometimento da estrutura de uma barragem no estado. No entanto, isso aconteceu na região entre Cotiporã e Bento Gonçalves, a cerca de 150 km de São Leopoldo. E o rompimento parcial da barragem da Usina 14 de Julho não foi a causa da situação de calamidade nos municípios.

O reservatório teve a estrutura comprometida em 2 de maio por conta das fortes chuvas que atingiram o estado e do aumento da vazão do Rio das Antas. No dia 1º de maio, a Defesa Civil e a Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) iniciaram um Plano de Ação de Emergência para retirar a população dos locais de risco.

Ao Comprova, a Ceran afirmou que realiza manutenções periódicas e que mantém contato com os agentes públicos, Defesas Civis e com a população, principalmente em épocas de grandes vazões. A companhia também diz que não moveu qualquer processo contra pessoas que supostamente alertaram sobre os riscos.

A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) do Rio Grande do Sul criou um Grupo de Trabalho em 2019 para monitorar a segurança das barragens. Os relatórios das vistorias podem ser conferidos no site da pasta. Os documentos não citam a Usina 14 de Julho.

Procurada pelo Comprova, a CSC energia, responsável pela barragem da Usina 14 de Julho, afirmou que as manutenções na estrutura são feitas de forma periódica, com equipe de operação e manutenção somente para o local.

Grande volume de chuva levou a colapso em casas de bombas

Em 27 de abril, dia da primeira chuva severa na região de São Leopoldo, o diretor-geral do Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae), Maurício Miorim, esteve em uma das casas de bombas e disse que o equipamento de macrodrenagem funcionava perfeitamente ali e em outros pontos da cidade.

A prefeitura afirmou que a inundação na cidade não foi provocada pelo rompimento do dique, e sim pelo grande volume de chuva que afetou a casa de bombas do bairro Santo Afonso, no limite com a cidade vizinha de Novo Hamburgo, em 3 de maio. Isso ocasionou o desligamento das bombas e o consequente transbordo do dique do Arroio Gauchinho, erodindo parte da estrutura e inundando o bairro Santos Dumont/Vila Brás, em São Leopoldo.

Segundo a prefeitura, o mesmo ocorreu no dique do bairro Vicentina, junto à casa de bombas do Arroio da João Corrêa. Após o transbordo da água, o dique erodiu e os equipamentos precisaram ser desligados devido à grande quantidade de água, atingindo os bairros Vicentina, São Miguel e Vila Paim.

No Arroio Cerquinha, no bairro Campina, houve o transbordo do dique, que acabou ocasionando os alagamentos no bairro Campina e Scharlau. Por medida de segurança, foi necessário o desligamento da casa de bombas do Arroio Cerquinha, devido ao alto nível da água que atingiria a parte elétrica.

O grande volume de água na região fez com que o Rio dos Sinos começasse a refutar o fluxo de seus afluentes, outro fator que contribuiu para os alagamentos.

Sistema Contra as Cheias do Rio dos Sinos está inacabado

O Sistema de Proteção contra Cheias de São Leopoldo foi construído utilizando parâmetros da histórica cheia de 1941 e, segundo a prefeitura, foi importante para que a situação de calamidade não fosse ainda mais severa devido às fortes chuvas. Nas regiões não ocupadas da cidade, no entanto, os diques foram projetados com capacidade menor, como na Avenida João Correa.

Embora a construção dos sistemas de drenagem tenha sido iniciada na década de 1960, as obras nunca foram totalmente concluídas.

Em 2015, a Defesa Civil de São Leopoldo alertou para o que seria uma “tragédia anunciada”. Na época, o coordenador do órgão afirmou que mudanças nos Planos Diretores para urbanização de áreas de preservação na região da bacia do Rio dos Sinos dificultaria o escoamento da água, deixando a área suscetível a alagamentos.

O Ministério Público Federal (MPF), em 2019, se manifestou a favor de uma ação movida pelo município contra a União para o pagamento da última parcela para finalização do Sistema Contra as Cheias do Rio dos Sinos. O processo tramita no TRF4 desde 2017.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já checou diversos conteúdos sobre a atuação das autoridades na calamidade que atinge o Rio Grande do Sul e já mostrou ser enganoso que casa de bombas de Porto Alegre tenha sido sabotada e que estrada foi bloqueada em Canoas para passagem de carretas vazias. Também mostrou que post usa vídeos antigos para minimizar a atuação do Exército nas enchentes.

Pol��tica

Investigado por: 2024-06-20

Lula não foi excluído de foto do G7 que mostra apenas os líderes dos países-membros

  • Enganoso
Enganoso
Lula não foi preterido em foto na reunião do G7, na Itália, em junho. Ele não aparece no registro porque, na tradicional “foto de família” do grupo, só estão os presidentes dos sete países do bloco – o Brasil não é um deles – e os presidentes do Conselho Europeu e da União Europeia. O presidente brasileiro aparece em outra foto, que mostra todos os membros do grupo e convidados do encontro.

Conteúdo investigado: Postagens com a foto de lideranças internacionais sem a presença de Lula e com a legenda: “Cadê o Lula? Ele não seria a grande estrela da reunião do G7, segundo a velha e porca mídia?”.

Onde foi publicado: X e TikTok.

Conclusão do Comprova: O fato de o presidente brasileiro Lula (PT) não aparecer em foto tirada em encontro do G7 não significa que ele foi preterido pelas lideranças que aparecem na imagem. A foto usada em post enganoso — a mesma publicada pelo Financial Times — traz apenas os presidentes dos países que formam o grupo: Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos. Tradicionalmente, também compõem a imagem os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia.

Neste ano, a reunião ocorreu na Itália, entre os dias 13 e 15 de junho. O Brasil foi um dos países convidados. A foto em que Lula aparece é outra, em que figuram, ao lado dos presidentes dos países-membros do G7 e do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, as autoridades convidadas (chefes de países e representantes de organizações). Este registro também é feito todos os anos. Nesta edição de 2024, pela primeira vez, o papa participou do encontro.

Para efeito de comparação, em 2023, na reunião do G7, no Japão, constam igualmente os registros da foto oficial — também conhecida como “foto de família” — e da imagem com todos os participantes. O mesmo aconteceu em 2022, na Alemanha: a foto dos membros do grupo e o registro com os demais convidados. O então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, não aparece na foto, pois o Brasil não foi chamado para o evento.

Na edição de 2024, Lula foi convidado pela primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Nesta transmissão, é possível ver o momento da recepção. Lula chegou à Itália na noite do dia 13. No dia seguinte, sua agenda oficial registra encontros com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o presidente da Turquia, Recep Erdoğan, o Papa Francisco, o presidente da França, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

No dia 15, Lula teve agenda com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e Giorgia Meloni, antes de retornar a Brasília.

Para o Comprova, é enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 20 de junho, a postagem havia alcançado 74,4 mil visualizações no X, com 2 mil compartilhamentos e 6 mil curtidas. Em um perfil no TikTok que fez um vídeo a partir do post verificado aqui, a publicação registrou 99,5 mil visualizações, 7 mil curtidas e 1,8 mil compartilhamentos.

Fontes que consultamos: Reportagens na imprensa brasileira e internacional, site do governo federal e agenda oficial do presidente Lula.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Reuters, Aos Fatos e Estadão Verifica também checaram posts sobre a participação de Lula no encontro do G7. O presidente e seu governo são alvos frequentes de conteúdos de desinformação. O Comprova mostrou que a viagem dele e de Janja à Europa foi para cumprir agenda diplomática, sem relação com o Dia dos Namorados, e que é enganosa a postagem que sugere que um secretário do governo confirmou a cobrança de novo imposto sobre o Pix.

Saúde

Investigado por: 2024-06-17

Post engana ao associar sintomas da covid longa às vacinas

  • Enganoso
Enganoso
Post engana ao afirmar que existe exame clínico capaz de dizer se uma pessoa “está bem” após ser vacinada contra covid-19. A publicação usa uma fala em que um médico relaciona sintomas como fadiga e perda de memória ao imunizante. Órgãos internacionais de saúde, pesquisas e especialistas apontam que estas condições estão ligadas a consequências da doença e não do imunizante.

Conteúdo investigado: Publicação afirma que apenas um exame é capaz de comprovar que uma pessoa está bem de saúde após receber a vacina contra covid-19 e que este exame não é realizado no Brasil. O post é acompanhado pelo recorte de um vídeo no qual um médico afirma que imunizantes provocam uma “síndrome de inflamação crônica”, que levaria a sintomas como fadiga e problemas de memória. O vídeo é sobreposto pela frase “Quais são as sequelas severas das vacinas?”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Sintomas como perda de memória e fadiga são conhecidos no meio científico como consequências da covid-19, ou sintomas da chamada covid longa, covid crônica ou condições pós-covid. Até o momento, não há um exame clínico que possa diagnosticar essa condição. É enganoso, portanto, afirmar que estas reações estariam entre as características de uma doença supostamente provocada por vacinas contra o coronavírus, como faz o post investigado aqui.

O conteúdo se apoia em uma afirmação do médico infectologista Francisco Cardoso, conhecido por defender o “tratamento precoce” e a cloroquina no tratamento da covid-19, como mostra depoimento na CPI da Pandemia, em 2021. Em outras oportunidades (aqui e aqui), o Comprova se debruçou sobre declarações feitas por ele.

Cardoso abordou o assunto em entrevista ao podcast 3 Irmãos, no dia 22 de maio. Na oportunidade, o médico alegou que os imunizantes provocam “síndrome de inflamação crônica”. Ele também relacionou esta condição com a proteína spike, base de parte das vacinas contra a covid-19. Outros sintomas citados foram dificuldade de raciocínio, queda de cabelo e dificuldade para dormir.

Embora ainda esteja em investigação o fator que leva um paciente a ter covid longa, já é de amplo conhecimento científico que esta condição clínica afeta pessoas com histórico de infecção provável ou confirmada pelo vírus SARS CoV-2, que causa a covid-19. Esta condição foi classificada clinicamente pela primeira vez em 2021 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Diferentes órgãos internacionais de saúde reconhecem que os sintomas citados no vídeo pelo médico são associados à covid-19 – isso inclui fadiga crônica, névoa mental, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas, perda de olfato ou paladar entre outros – e apontam que a vacinação, em vez de provocar, ajuda a evitar as condições pós-covid. Entre os órgãos que apontam, com base em evidências científicas, que a covid longa é associada à covid-19, e não à vacina, estão a OMS, o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), os Centers for Disease Control and Prevention (CDC, dos Estados Unidos), o National Institutes of Health, também dos Estados Unidos, e o Ministério da Saúde do Brasil.

Além disso, especialistas consultados pelo Comprova reforçam que os sintomas mencionados no vídeo estão relacionados à condição pós-covid, demonstrando que a alegação feita na postagem é enganosa. Eles reiteram que a proteína spike, citada no vídeo como uma espécie de responsável pela inflamação, é uma partícula do vírus que estudos científicos indicaram como a melhor opção para ser usada na produção das vacinas. Ela é capaz de induzir o organismo de uma pessoa a produzir anticorpos contra a doença, mas é naturalmente eliminada poucos dias após a vacinação, como já mostrou o Comprova. Já o vírus, propriamente dito, tem muito mais proteína spike do que o imunizante.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de junho, a publicação alcançou 251,7 mil visualizações.

Fontes que consultamos: A equipe consultou o vídeo completo da entrevista do médico no YouTube e fez pesquisa por publicações relacionadas ao pós-covid. Foram consultados estudos e protocolos internacionais para a covid longa da OMS, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, do National Institutes of Health (NIH), também dos Estados Unidos, do European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC) e do Ministério da Saúde.

Também foram entrevistados o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, o infectologista Marcelo Daher, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o médico Celso Granato, especialista em Infectologia pela SBI e em Patologia Clínica pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e o farmacêutico-bioquímico Jorge Luiz Joaquim Terrão, diretor da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC).

Covid crônica é o mesmo que covid longa, e não existe “síndrome pós-spike” provocada pela vacina

No vídeo, Francisco Cardoso aponta alguns sintomas, como fadiga crônica, queda de cabelo, enfraquecimento das unhas e névoa mental como uma “síndrome de inflação crônica” que, segundo ele, seria o principal efeito dos imunizantes.

Ele afirma que o nome correto a se dar a essa doença seria “síndrome do pós-spike”, como se fosse uma consequência direta dos imunizantes, e não da covid-19. Não há evidência que possa sustentar essa afirmação. No mês de abril, o episódio 88 do podcast Fake News Não Pod, do Jornal da USP, abordou a alegação de que existiria uma “síndrome pós-spike” causada pelas vacinas. A cientista biomédica Beatriz Calasense disse que não existe a tal síndrome.

A proteína spike, mencionada em diversas alegações mentirosas sobre a vacina, está presente no Sars-COV-2, o vírus da covid-19, e é ela que permite a entrada do vírus no organismo, levando ao desenvolvimento da doença. Algumas vacinas usam material genético para produzir a spike dentro do organismo, mas ela serve apenas para ensinar o sistema imunológico a se defender do vírus. “Ela atua somente como mensageira para as nossas células imunológicas e logo depois é degradada”, afirma Beatriz Calasense.

Para especialistas ouvidos pelo Comprova, apenas apontar a proteína spike presente na vacina como causa da inflamação é controverso. O infectologista Marcelo Daher aponta, inclusive, que a covid-19 produz mais proteínas spike do que contém na vacina, já que se trata de uma parte do vírus. “E o vírus, quando entra no organismo, produz vírus completo e partículas virais, que a gente chama de vírus incompletos. E esses vírus incompletos têm proteína spike”, explicou o consultor da SBI. Renato Kfouri, da SBIm, aponta a mesma conclusão: “O vírus tem muito mais proteína spike do que qualquer vacina”, declarou.

Diferentemente do que aparece em alegações contrárias às vacinas, é de amplo conhecimento no meio científico que os sintomas citados por Francisco Cardoso são da covid longa, covid crônica ou condições pós-covid, associada à própria covid-19, e não às vacinas.

A OMS fez a primeira classificação clínica desse conjunto de sintomas ainda em 2021, quando descreveu que “a condição pós-covid-19 ocorre em indivíduos com histórico de infecção provável ou confirmada pelo SARS CoV-2, geralmente três meses após o início da covid-19 com sintomas que duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo”. O assunto foi novamente discutido pela OMS em 6 de junho de 2024 em sessão do G20 em Salvador (BA).

Essa classificação foi feita após a realização de estudo, ainda em 2021, utilizando a metodologia Delphi, que consiste na discussão de um assunto complexo a partir de grupos de especialistas selecionados de forma anônima e estratégica, que devem ser selecionados em países diferentes, para se ter um panorama representativo.

Os especialistas levaram em conta definições de covid longa feitas por publicações e órgãos renomados, como as revistas Lancet, Nature e Scientific American, a Haute Autorité de Santé (França), e os Centers for Disease Control and Prevention, dos Estados Unidos. Nenhum deles menciona que as condições aparecem após a vacina, e sim após a infecção pelo Sars CoV-2, o vírus que causa a covid-19.

O National Institutes of Health, dos Estados Unidos, define a covid longa como “problemas de saúde que algumas pessoas enfrentam alguns meses após um diagnóstico de covid-19” e aponta que alguns podem ser iguais ou diferentes daqueles da covid, mas elenca a síndrome da fadiga crônica como um deles.

O Portal Europeu de Informações Sobre Vacinação, mantido pela União Europeia, e o European Centre for Disease Prevention and Control classificam a covid longa como “efeitos a longo prazo da infecção de Sars CoV-2” e cita entre os sintomas a perda de olfato ou paladar, cansaço, fraqueza geral, falta de ar e déficit cognitivo. Segundo a Anvisa, o termo “inflamação” é genérico e as próprias bulas das vacinas citam eventos adversos que podem ser considerados inflamação, desde os mais comuns, como dor no local, até os raros, como a miocardite. “É importante destacar ainda que a própria covid é uma doença que pode desencadear cenários de inflamação generalizada ou mesmo crônica”, diz o órgão brasileiro.

Segundo o NIH, que reúne pesquisas sobre a covid longa, ainda estão em curso os estudos para apontar com clareza o que causa as condições pós-covid, mas já existem algumas pistas: a reativação de partículas do vírus SARS CoV-2, que podem fazer com que os sintomas reapareçam; a liberação de altos níveis de substâncias inflamatórias por parte de células imunológicas hiperativas; e a produção de autoanticorpos que atacam os próprios órgãos e tecidos, desencadeada pela infecção.

O NIH aponta que a melhor maneira de se prevenir contra a covid longa é evitar pegar a covid-19, mantendo-se vacinado. Para aqueles que já estão com a covid, o órgão faz recomendações para tentar reduzir as chances de contrair a covid longa:

“Se você não estiver vacinado, a vacinação após a recuperação da covid-19 pode ajudar a prevenir a covid longa. A vacinação contra a covid-19 também pode reduzir a probabilidade de contrair a síndrome inflamatória multissistêmica (MIS-C) [uma complicação tardia grave da infecção por SARS CoV-2] em jovens de 12 a 18 anos”, diz uma página específica do órgão sobre o assunto.

Em nota, o Ministério da Saúde também apontou que estudos clínicos e de farmacovigilância, conduzidos por instituições e organizações de saúde respeitadas mundialmente, refutam a alegação de que a suposta “síndrome da inflamação crônica” esteja associada à vacinação. A pasta citou entidades como OMS, CDC, e a Anvisa entre os responsáveis por estas pesquisas.

Condições citadas no vídeo são associadas à covid, não às vacinas, dizem especialistas

Especialistas ouvidos pelo Comprova reforçam o que os órgãos internacionais e as pesquisas científicas já dizem: os sintomas citados no vídeo são associados à covid, não aos imunizantes. “Hoje, o termo mais aceito internacionalmente e adotado pelo próprio Ministério da Saúde chama-se ‘condições pós-covid’, porque a doença dá tudo isso. A doença dá uma fraqueza, dá fadiga crônica, dá essa névoa cerebral, perda de cabelo, queda das unhas. São mais de 200 sintomas relatados nessas condições pós-covid e que realmente têm assolado um número expressivo de pessoas, não só aqui no Brasil, mas em todo o mundo”, explica Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm.

Ele diz que a fala feita durante o podcast tenta atribuir aos imunizantes uma série de sintomas que, na verdade, são causados pela covid-19. “Não há nenhuma evidência de que as vacinas possam trazer essas condições. Os eventos adversos relacionados às vacinas são muito bem conhecidos, já estão muito bem descritos. Há vários estudos demonstrando que as vacinas previnem as condições pós-covid, não causam condições pós-covid. Então é muito mais frequente condições pós-covid em não-vacinados do que em vacinados”, completa Kfouri.

O infectologista Marcelo Daher também nega que a covid crônica, longa, ou as condições pós-covid sejam causadas pela proteína spike presente na vacina, e concorda com Kfouri ao apontar que os sintomas citados no vídeo são provocados pela covid-19: “O que é bem caracterizado e bem documentado é a doença causando isso. Não tem trabalho mostrando a vacina causando isso”, afirma.

Inflamação celular é complexa e ainda não há teste específico para diagnosticar covid longa

No vídeo, Cardoso menciona a existência de “um exame americano que mede a proteína spike dentro do macrófago humano”, que seria capaz de mostrar a inflamação que ele alega ser causada por vacinas contra a covid-19. Este exame seria de análise de citoquina – ou citocina, termo mais usado no Brasil.

Diferentemente do que diz o médico, as análises de citocinas são feitas em laboratórios brasileiros, segundo o farmacêutico-bioquímico Jorge Terrão, diretor da SBAC, mas é preciso saber a quais delas Cardoso se referia, o que não fica claro no vídeo.

Além disso, o médico Celso Granato, especialista em infectologia e em patologia clínica e associado à SBPC/ML – entidade ligada à área de diagnóstico laboratorial – observa que citocinas e proteína spike são coisas diferentes, e que a fala do médico acaba confundindo as pessoas.

“Ele fala que tem um exame americano que chegou a fazer aqui [no Brasil] e que dosa a citocina, e que lá se encontra a spike. Isso é esquisito, porque para usar um produto de laboratório, tem que ter aprovação da Anvisa. Eu nunca soube de aprovação da Anvisa nesse sentido. Realmente desconheço esse exame”, disse Granato.

Procurada, a Anvisa disse que “não regulamenta protocolos ou procedimentos para exame e diagnóstico de pacientes”, o que cabe às sociedades médicas e científicas. A Anvisa atua na regulamentação dos produtos e dispositivos utilizados nos procedimentos. No entanto, a agência disse que precisaria de mais informações sobre os insumos e dispositivos para responder se eles existem ou não no Brasil.

Quanto à declaração de Cardoso sobre existir um exame nos Estados Unidos, o CDC, órgão oficial do país para controle de doenças, publicou no último dia 10 de junho que “atualmente, nenhum teste laboratorial pode ser usado para diagnosticar definitivamente a covid longa ou para distinguir a covid longa de condições com etiologias diferentes”.

Em setembro do ano passado, um estudo publicado na renomada revista científica Nature disse ter encontrado diferenças entre exames de sangue de pessoas com covid longa e outras sem as condições pós-covid, mas isso não significa que já existe um exame para diagnosticar essas condições, e sim que os resultados representam um passo importante para encontrar uma forma de diagnóstico. Outros estudos avaliam a possibilidade, mas ainda estão em fase de pré-print, ou seja, não foram revisados pelos pares.

SUS faz atendimento de pacientes com pós-covid

Durante a entrevista, Francisco Cardoso diz que não existe tratamento no SUS para o que ele chama de covid crônica. Em nota, o Ministério da Saúde informou que recomenda que a avaliação de pacientes com condições pós-covid sejam realizadas na Atenção Primária à Saúde (APS). De acordo com a pasta, em alguns casos, é recomendado o encaminhamento para os serviços multidisciplinares, de reabilitação e/ou atenção especializada, visando otimizar os recursos disponíveis na Rede de Atenção à Saúde (RAS) e potencializar a resolução de problemas mais complexos.

No texto, o ministério mencionou que, segundo dados do Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab), entre março de 2022 e abril de 2024, foram realizados mais de 228 mil atendimentos a pessoas com condições pós-covid no âmbito do SUS. A pasta destacou que a organização dos cuidados em saúde no País é coordenada por estados e municípios, levando em consideração os protocolos e diretrizes do SUS e a rede de atenção disponível.

Para Renato Kfouri, da SBIm, ainda não há, de fato, algo a ser feito especificamente contra as condições pós-covid. “Não há nada a ser feito por enquanto, a não ser reabilitar essas condições crônicas e tratar os sintomas e as doenças que vierem a aparecer”, diz. Segundo ele, esse tratamento precisa ser multidisciplinar. Na nota, o Ministério da Saúde também citou a existência de equipes multiprofissionais nas APSs.

Kfouri explica que esta é uma das razões pelas quais a fala de Cardoso é perigosa: faz as pessoas atribuírem um conceito errado às suas condições de saúde e ainda acreditarem que há um tratamento diferente daquele que é feito para as condições pós-covid.

No vídeo, Cardoso ainda é questionado sobre a possibilidade de “tirar o efeito do imunizante do corpo” e o médico afirma que não existe detox de vacina (tratando das doses de forma geral e não de uma marca específica). Daher também argumenta que não existe medida como esta. Outras verificações publicadas pelo Comprova já abordaram o assunto, mostrando, por exemplo, que não há evidência que a proteína spike cause ferimentos nas pessoas imunizadas, nem que medicamentos poderiam eliminá-la do organismo.

Procurado pelo Comprova, Francisco Cardoso argumentou que sua fala foi editada e disse que não conhece o autor da publicação. A postagem traz recorte de 6 minutos e 45 segundos da participação do médico no podcast, que teve duração de mais de uma hora e meia. Apesar do recorte, a fala do médico não foi editada e ele realmente associou os sintomas da covid longa à vacina. O médico alegou ainda que fez declarações sobre sintomas de pós-covid, que ocorrem, segundo ele, após a infecção pelo vírus ou exposição à proteína spike. Cardoso disse que existe “farta evidência científica” sobre a síndrome, mas não indicou suas fontes.

O perfil responsável por compartilhar trecho da entrevista no X não permite o envio de mensagens diretas e, por isso, não foi possível entrar em contato.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Desde 2020, quando os primeiros casos de covid-19 foram diagnosticados no Brasil, o assunto é alvo de desinformação no País. No último mês, o Comprova mostrou, por exemplo, que é enganoso afirmar que miocardite e pericardite ocorrem apenas em pessoas vacinadas e que postagens exageram peso de declaração da Astrazeneca, já que o efeito adverso de vacina já era conhecido.

Mudanças climáticas

Investigado por: 2024-06-13

Casas de bombas de Porto Alegre não foram sabotadas para causar as enchentes de maio

  • Enganoso
Enganoso
Ao contrário do que alega vídeo que circula nas redes sociais, a interrupção de funcionamento da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais 5 de Porto Alegre (Ebap 5), no dia 29 de maio, não ocorreu de forma proposital para provocar as enchentes do início do mês. O Departamento Municipal de Água e Esgotos esclareceu que o equipamento deixou de operar devido a um problema momentâneo no abastecimento de óleo diesel do gerador. A situação foi resolvida no mesmo dia. As enchentes foram causadas pelo volume recorde de chuvas aliado a falhas em estruturas do sistema de proteção contra inundações da cidade.

Conteúdo investigado: Vídeo de um homem visitando uma casa de bombas com problemas em Porto Alegre. Ele caminha pelo local mostrando equipamentos sem funcionar. Sobre o vídeo originalmente postado por ele, foi inserida a frase “Será que foi mesmo a chuva essa inundação, ou vingança, genocídio?”. Esta versão viralizou nas redes sociais.

Onde foi publicado: TikTok e Instagram.

Conclusão do Comprova: Uma falha em um gerador causou a interrupção momentânea de parte da Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (Ebap 5), que atende o bairro de Humaitá, em Porto Alegre. O problema foi constatado em 29 de maio e resolvido no mesmo dia, segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos da capital gaúcha.

Na ocasião, um técnico do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) explicou, neste vídeo, que foi identificada uma falha nas bombas que abastecem de óleo diesel os geradores do local. Em outro post, o próprio departamento explicou que o desligamento não foi proposital. “Tivemos um problema no gerador e as equipes já estão no local resolvendo. Em seguida a flutuante e a CB 5 retomam a operação.”

Mais cedo, naquele mesmo dia, um empresário gravou um vídeo andando pela Ebap 5 e mostrando os equipamentos sem funcionar, sugerindo que teriam sido desligados de forma deliberada. Afirma, ainda, que um dos motores está sem operar desde o início das enchentes na cidade.

Ao Comprova, o DMAE explicou que a Ebap 5 perdeu a vazão naquele dia também por causa do acúmulo de lixo na região. Por isso, apenas um grupo motobomba funcionava naquele momento, como mostra o vídeo aqui verificado.

Além disso, a bomba flutuante que aparece do lado externo da Ebap 5, também afetada, foi emprestada pela Sabesp, sem custo à prefeitura de Porto Alegre, ao contrário do que alega o autor do vídeo. “Tanto a casa de bombas quanto a flutuante estavam ligadas através de gerador. No momento deste vídeo, foi uma falha no gerador que ocasionou a parada momentânea do bombeamento”, explicou o departamento.

Atualmente, a estação já opera na rede elétrica e está com três grupos de motobomba em funcionamento, cada um com capacidade para bombear dois mil litros de água por segundo, segundo a prefeitura. Todas as 23 Estações de Bombeamento de Águas Pluviais da cidade estavam em funcionamento antes da inundação, de acordo com o DMAE.

Procurado, o homem que gravou o vídeo não retornou o pedido de esclarecimento do Comprova.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Não há relação entre bombas de escoamento e causas da inundação

Devido ao alto volume de chuvas no Rio Grande do Sul no início de maio, o Rio Guaíba, que fica na região metropolitana de Porto Alegre, atingiu o nível histórico de 5,35 metros no dia 5. Segundo levantamento divulgado pelo g1, as chuvas de maio foram mais intensas e concentradas do que a cheia histórica de 1941.

Sendo assim, não faz sentido sugerir que a não operação das bombas de escoamento de águas pluviais foram a causa das enchentes. Segundo o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aliado ao volume recorde das chuvas, o que contribuiu para as enchentes em Porto Alegre foram falhas no sistema de proteção contra enchentes da cidade.

“As casas de bombas servem para tirar a água de dentro da cidade para fora, especialmente a água da chuva. Mas elas não são uma barreira motorizada para tirar a água para fora durante a ocorrência do evento”, explica o professor Fernando Fan. “O que deveria ter segurado as águas são os diques, as comportas, os muros. Mas as águas acabaram entrando por falhas nessas estruturas, que formam a linha de frente do sistema de proteção. A causa da inundação foi que a barreira de defesa foi vencida”.

Segundo ele, alguns dos problemas estruturais foram a passagem das águas por vãos nas comportas e por cima dos diques de contenção, além de casos em que as águas retornaram por bombas de escoamento. “As causas disso têm a ver, claramente, em alguns locais, com falta de manutenção. Outros locais precisam ser investigados um pouco mais a fundo para entender exatamente o que aconteceu. Essas falhas são resultado de décadas de negligência com o sistema de proteção contra enchentes, não necessariamente algo que vem de agora”, acrescenta o professor.

A Ebap 5 não foi a única a apresentar problemas em meio à enchente, considerada a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul. No auge da crise, apenas 17% das casas de bomba de Porto Alegre estavam funcionando e 19 tiveram de ser desligadas por causa de inundações ou falta de energia elétrica. Ao Comprova, o DMAE confirmou que das 23 casas de bombeamento da capital gaúcha, apenas a da Vila Minuano estava com os motores em manutenção até a data da publicação desta checagem, em 13 de junho.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No TikTok, o vídeo soma 210 mil visualizações e mais de 15 mil interações. No instagram, a gravação foi vista mais de 168 mil vezes e tem mais de 16 mil interações.

Fontes que consultamos: Entramos em contato com a prefeitura de Porto Alegre e o Departamento Municipal de Água e Esgotos e com o homem que gravou o vídeo. Também consultamos o professor Fernando Mainardi Fan, pesquisador da UFRGS.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Publicações com desinformação sobre a tragédia no Rio Grande do Sul têm sido frequentes desde o início das inundações. O Comprova já explicou, por exemplo, que uma estrada foi bloqueada em Canoas para a passagem de carretas com material de construção, que o fluxo do abastecimento de aeronaves civis com doações no estado foi alterado por segurança e que um vídeo engana ao dizer que Anvisa impediu o transporte de medicamentos aos gaúchos.