Mortalidade por covid-19 em pacientes com insuficiência cardíaca: quase 1 em 4

Debra L. Beck

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8 de janeiro de 2021

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Pacientes com insuficiência cardíaca (IC) que são infectados pelo SARS-CoV-2 apresentam risco elevado de complicações, com quase um a cada quatro pacientes morrendo durante a hospitalização, de acordo com uma análise de um grande banco de dados que incluiu mais de 8.000 pacientes com insuficiência cardíaca e covid-19.

A mortalidade intra-hospitalar foi de 24,2% para pacientes com história de IC que foram hospitalizados por covid-19, em comparação com 14,2% para indivíduos sem história de IC que foram hospitalizados por covid-19.

Para dar perspectiva, os pesquisadores compararam os pacientes com IC e covid-19 com os pacientes com história de IC que foram hospitalizados por um episódio de piora aguda: O risco de morte foi cerca de 10 vezes maior entre aqueles com covid-19.

"Esses pacientes realmente enfrentam um risco extremamente alto e, ao compararmos isto com o risco de morte intra-hospitalar por algo que estamos muito mais familiarizados – a insuficiência cardíaca aguda –, observamos que o risco foi cerca de 10 vezes maior", disse o primeiro autor do estudo, Dr. Ankeet S. Bhatt, médico do Brigham and Women's Hospital e da Harvard Medical School, nos Estados Unidos.

Em um artigo publicado on-line em 28 de dezembro no periódico JACC Heart Failure, um grupo liderado pelo Dr. Ankeet e pelo médico e autor sênior do trabalho, Dr. Scott D. Solomon, relatou uma análise de dados administrativos sobre 2.041.855 hospitalizações registrados no Premier Healthcare Database entre 1º de abril e 30 de setembro de 2020.

O Premier Healthcare Database reúne dados de mais de 1 bilhão de atendimentos a pacientes, o que equivale a aproximadamente uma a cada cinco altas de todos os pacientes internados nos Estados Unidos.

Dos 132.312 pacientes hospitalizados com história de insuficiência cardíaca, 23.843 (18,0%) foram hospitalizados com IC aguda, 8.383 (6,4%) foram hospitalizados com covid-19 e 100.068 (75,6%) foram hospitalizados por outros motivos.

Os desfechos e a utilização de recursos foram comparados com 141.895 hospitalizações por covid-19 de pacientes sem insuficiência cardíaca.

Foi considerado que os pacientes tinham história de insuficiência cardíaca caso tivessem sido hospitalizados pelo menos uma vez por IC entre 1º de janeiro de 2019 e 21 de março de 2020 ou se tivessem comparecido a pelo menos duas consultas ambulatoriais por IC durante esse período.

Em comentário para o Medscape, o Dr. Scott observou alguns prós e contras dos dados utilizados nesse estudo.

"A Premier é um grande banco de dados, abrangendo quase um quarto das unidades de saúde nos Estados Unidos e um quinto de todas as consultas ambulatoriais, então, com isso, fomos capazes de observar questões muito difíceis de perceber em sistemas hospitalares menores. Mas os dados também são limitados, então não se tem tantos detalhes como em bacos menores", disse o Dr. Scott.

"Algo a se reconhecer é que nossos dados se iniciam no momento da admissão hospitalar, então estamos avaliando apenas indivíduos que cruzaram esse limiar, em termos de adoecimento, e foram admitidos", ele acrescentou.

O uso de recursos hospitalares foi significativamente maior para pacientes com insuficiência cardíaca hospitalizados por covid-19 em comparação com pacientes hospitalizados por IC aguda ou por outros motivos. Isso incluiu taxas mais elevadas de necessidade de terapia intensiva (29% versus 15%), ventilação mecânica (17% versus 6%) e inserção de acesso venoso central (19% versus 7%; P < 0,001 para todos).

A proporção de pacientes que precisaram de ventilação mecânica e terapia intensiva no grupo com covid-19 sem insuficiência cardíaca foi semelhante à proporção de pacientes que tinham ambas as doenças.

As chances de mortalidade hospitalar entre pacientes com insuficiência cardíaca e covid-19, comparadas com indivíduos com IC hospitalizados por outros motivos, foram maiores em abril, com uma razão de chances (OR, sigla do inglês Odds Ratio) ajustada de 14,48, comparada aos meses seguintes (OR ajustada para maio a setembro de 10,11; P < 0,001 para interação).

"Obviamente, nós não fomos capazes de dizer com certeza o que estava acontecendo em abril, mas eu penso que talvez muitos pacientes que eram mais vulneráveis à covid-19 podem estar mais representados nessa população, como os pacientes com comorbidades, imunossuprimidos ou outros", disse o Dr. Ankeet em uma entrevista.

"Também pensamos que pode ter havido uma curva de aprendizado em termos de como cuidar de pacientes com sintomas respiratórios agudos. Isso inclui um aumento do conhecimento institucional – como o uso da ventilação em prona –, mas também de terapias cujo benefício foi demonstrado em seguida em ensaios clínicos randomizados, como a dexametasona", ele acrescentou.

"Esses resultados devem nos lembrar de sermos inovadores e conscientes ao cuidarmos de pacientes com insuficiência cardíaca enquanto tentamos manter a equidade e saúde de todos", a Dra. Nasrien E. Ibrahim, médica do Massachusetts General Hospital; a Dra. Ersilia DeFillipis, médica da Columbia University; e o Dr. Mitchel Psotka, Ph.D., médico do Innova Heart and Vascular Institute, escreveram em um editorial que acompanhou o estudo.

Os dados enfatizam a importância de fornecer acesso igualitário a serviços como telemedicina, consultas virtuais, visitas domiciliares e monitoramento remoto, eles observaram.

"Na medida em que a pandemia de covid-19 afeta desproporcionalmente comunidades em desvantagem socioeconômica, nós deveríamos focar nossos esforços em estratégias que minimizam essas inequidades", escreveram os editorialistas.

O Dr. Scott observou que, embora pacientes negros e hispânicos estejam sobrerepresentados na população de pacientes com insuficiência cardíaca hospitalizados com covid-19, uma vez no hospital, a raça não é um preditor de mortalidade intra-hospitalar ou da necessidade de ventilação mecânica.

O Dr. Ankeet recebeu honorários por palestras da Sanofi Pasteur e apoio de um fundo de treinamento de pós-doutorado dos a National Institutes of Health/National Heart, Lung, and Blood Institute. O Dr. Scott recebeu suporte financeiro e/ou honorários para palestras de diversas companhias e dos National Institutes of Health/National Heart, Lung, and Blood Institute. Os editorialistas informaram não ter conflitos de interesses.

J Am Coll Cardiol Heart Fail. Publicado on-line em 28 de dezembro de 2020. Texto completo, Editorial

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