Alzira Soriano

Altiva, destemida, mandona – assim costumavam descrever Alzira Soriano, a primeira mulher a ser eleita prefeita de um município da América Latina.

Filha mais velha de uma tradicional família potiguar, Luiza Alzira Teixeira Soriano nasceu em Jardim de Angicos, um distrito de Lajes/RN, em 29 de abril de 1897.

Como era comum na época, ela se casou cedo, aos 17 anos, com o promotor de justiça pernambucano Thomaz Soriano. Também enviuvou jovem: Thomaz morreu de gripe espanhola cinco anos depois, deixando-a sozinha com as três filhas do casal.

Alzira voltou a morar com os pais na fazenda onde se criou. Ali, revelou sua vocação para comandar, controlando com pulso firme a casa e as atividades da propriedade. Também começou a se interessar pela vida pública, participando das reuniões promovidas pelo pai, importante líder político da região.

O ingresso na política

Foi numa dessas reuniões, no início de 1928, que Alzira foi convencida a se candidatar à prefeitura de Lajes pelo Partido Republicano. Entre seus apoiadores, estavam o governador potiguar, Juvenal Lamartine, e a bióloga e líder feminista Bertha Lutz, que a conheceu na ocasião.

Na campanha eleitoral, Alzira sofreu todo tipo de ofensas misóginas – insinuaram que ela tinha um caso com o governador e até que era prostituta (já que era “mulher pública”). Mas ela não se intimidou. E, para desgosto de seu adversário político, venceu a eleição com 60% dos votos válidos, tornando-se a primeira prefeita mulher não só do Brasil, como também da América Latina.

Mas podia?

A eleição de Alzira Soriano em 1928 só foi possível graças à Lei Estadual 660, de 25 de outubro de 1927, que autorizava a participação das mulheres na política potiguar. O artigo 77 determinava que “No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distinção de sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por esta lei”.

Na época, o governador José Augusto Bezerra de Medeiros justificou a assinatura da lei com base em uma leitura atenta da Constituição vigente, de 1891. “A Constituição fala apenas em cidadãos, não distinguindo se é homem ou mulher”, afirmou ele.

Um breve mandato

Alzira assumiu a prefeitura de Lajes em 1929 e permaneceu no cargo até a Revolução de 1930. Ao tomar o poder, Getúlio Vargas substituiu todos os prefeitos do País por interventores. Alzira até foi convidada para continuar à frente de sua cidade, mas não aceitou, acreditando se tratar de uma afronta à democracia.

Durante o seu breve mandato, Alzira investiu na construção de escolas e mercados públicos; em obras de infraestrutura, como estradas que conectavam a sede do município aos distritos; e em melhorar o abastecimento de iluminação pública a gás.

Ela voltaria à política muitos anos mais tarde, após a redemocratização do País, em 1945, elegendo-se vereadora em Lajes por três mandatos consecutivos.

Ela morreu de câncer em Natal/RN, em 28 de maio de 1963, aos 66 anos de idade.

Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós

Em 2018, Alzira Soriano recebeu, postumamente, o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós, da Câmara dos Deputados. A homenagem é concedida a mulheres que tenham contribuído para o pleno exercício da cidadania e para a defesa dos direitos da mulher e das questões de gênero no Brasil.

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