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Por Manuela Tecchio — Santa Clara, Califórnia


O longo inverno que vive o mercado de capitais no Brasil, marcado por uma seca de IPOs que já dura mais de um ano e aportes mais tímidos em startups, simboliza bem a cautela que tomou conta do investidor desde que os juros voltaram a subir no país.

Mas diz o velho ditado que nas crises surgem as melhores oportunidades. Para quatro gestores de peso que participam do Brazil at Silicon Valley (BSV), este deveria ser o mantra para quem investe ou empreende em economias emergentes como a brasileira: em vez de esperar um mar de rosas para finalmente tirar o dinheiro do bolso, explorar o que existe de ineficiência.

Para Luis Lora, sócio da Globo Ventures, quem tem de tomar a frente nesses cenário é o venture capital. Instabilidades na bolsa e chacoalhões nas empresas de tecnologia não devem impedir ou atrasar o ritmo dos aportes. “Do ponto de vista de um investidor, a quantidade de capital alocada para oportunidades em uma determinada região não deve ser limitada pelo potencial econômico local, mas pelo grau de empreendedorismo”, disse ontem Lora, ao fim do primeiro dia da BSV.

Ao terminar o ano passado sem nenhuma abertura de capital na bolsa, algo que não ocorria desde 1998, o Brasil assistiu à desistência de 12 empresas que estavam na fila, como a Vero, de internet e fibra ótica, e o Madero, passando pela Cantu, em melhor situação financeira que a hamburgueria. O ritmo de M&As, que vinha quente na pandemia, também retraiu com o aumento do custo de capital. O venture capital acompanhou no desânimo, mas talvez não devesse.

Ainda que a bolsa sirva de parâmetro para a precificação de empresas fechadas e seja a porta de saída para os fundos, Antoine Colaco, sócio da Valor Capital, questiona a ideia de que é preciso ter um mercado de capitais pronto e sólido para fazer investimentos. No Brasil, pelo menos, a Valor Capital não espera estabilidade para fazer aportes.

“Todos nós sabemos que há muita ineficiência que enfrentamos diariamente que são oportunidades de criar empresas incríveis em resultados, que resultam em M&As que podem ser surpreendentes. É quase uma questão do ovo e da galinha, de certa forma, se deveríamos nos limitar à situação do mercado”, disse.

O Softbank, de Alex Clavel, investe em companhias da América Latina como Petlove, Rappi, Unico, Afya e Hashdex — Foto: Reprodução
O Softbank, de Alex Clavel, investe em companhias da América Latina como Petlove, Rappi, Unico, Afya e Hashdex — Foto: Reprodução

O CEO do Softbank, Alex Clavel, à frente do grupo desde a metade do ano passado, também prefere seguir de olho nas oportunidades e se diz “otimista” com o cenário - ainda que o fundo seja a referência na turbulência recente, tendo reduzido consideravelmente seu ritmo de aportes efeito ajustes em marcação de carteira, resultando em perdas. Clavel assumiu em meio a uma profunda reestruturação do grupo, após a saída de Marcelo Claure diante da revisão estratégica e um corte de 25% de funcionários.

"Ainda há muito espaço para investir. As empresas que estamos financiando na América Latina têm mercados endereçáveis muito óbvios para os quais estão caminhando", disse Clavel, destacando a participação do fundo em follow-ons de startups do portfólio. "Há também muitos grandes desafios, claro, e é por isso que o espaço existe em primeiro lugar. Mas são iniciativas muito raras, dessas empresas que você pode explicar para alguém que não é especialista e imediatamente entende-se o valor do produto.”

No portfólio latino-americano do grupo estão startups como Petlove, Rappi, Unico, Afya e Hashdex. O Softbank, historicamente, investe em grandes tendências transformadoras, "em um esforço para tornar possível o impossível", ressaltou o executivo.

Clavel contou sobre uma conversa que teve com Masayoshi Son, fundador do Softbank, em seu primeiro dia no grupo. "Estávamos na Índia. Ele havia se comprometido a investir US$ 10 bilhões em 10 anos. E alguém perguntou a ele: o que acontece se você tiver que redimensionar? E ele respondeu: neste caso, eu escalo.” Os últimos meses têm sido um tanto diferente para o padrão Softbank, mas Clavel não entrou nessa questão.

Sócia da Lightspeed que completava o quarteto do painel sobre investimentos, Mercedes Bent lembrou que os emergentes seguem apresentando oportunidades raras em alguns segmentos diante de mercados mais estruturados. “Felizmente, investimos em muitos emergentes ao redor do mundo, na Índia, sudeste da Ásia, China. Muitas vezes é preciso esperar algum tempo para que a janela do IPO se abra, para que as empresas cresçam o suficiente para serem listadas nos EUA”, ressaltou. “O Brasil é o melhor mercado de crédito do mundo, por exemplo, mas oportunidade vem com risco.”

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