Em meio a uma crise financeira e operacional que exigiu o fechamento de 89 lojas no ano passado, a Lojas Marisa deve mais uma vez recorrer ao capital dos acionistas controladores — a família Goldfarb. Depois de terem feito duas injeções na financeira da companhia em 2023, os controladores agora estão se comprometendo a subscrever pelo menos R$ 195 milhões em uma potencial oferta primária de ações ou aumento de capital privado da varejista.
Para analisar a viabilidade de qualquer um desses dois cenários, a Marisa contratou o BTG Pactual, o Itaú BBA e a BR Partners. No mercado, há ceticismo sobre as condições da empresa de colocar uma oferta na rua. Como a reestruturação da Marisa ainda está em curso e não há clareza sobre quando o negócio voltará a ser sustentável, o aumento de capital privado tem maior probabilidade, dizem fontes.
Seja com oferta ou aumento de capital, os R$ 195 milhões dos controladores representam o montante mínimo que será movimentado, segundo a empresa. Pode haver ainda um volume adicional de R$ 90 milhões que seria usado para permitir a conversão de debêntures detidas pelos controladores em equity — e assim diminuir a alavancagem da companhia. Com isso, a empresa não precisaria mais pagar o que deve aos controladores, que aumentariam sua fatia no negócio ao custo de R$ 285 milhões.
Em 2023, em um esforço para reenquadrar a financeira MPagamentos nos limites operacionais estabelecidos pelo Banco Central, os controladores aportaram R$ 90 milhões em abril por meio da subscrição de debêntures da varejista. Em agosto, fizeram um segundo aporte, de R$ 26 milhões. Os controladores chegaram a cogitar uma recuperação judicial no ano passado, apurou o Pipeline, mas por conta da financeira encontraram impedimento no Banco Central.
![Marisa: em reestruturação, empresa fechou 89 lojas no ano passado — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-pipelinevalor.glbimg.com/CCwpwhJ5JUpWt5dGboWPxm9PpCs=/0x0:2685x1790/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_b3309463db95468aa275bd532137e960/internal_photos/bs/2021/N/y/vuavtAQBAJJ3Fl4ROgHQ/marisa.jpg)
Enquanto analisa a capitalização, a Marisa também suspendeu o seu guidance, alegando a necessidade de realinhamento da política de divulgação de projeções junto com seus seus consultores no contexto da potencial oferta.
Para 2024, a empresa previa receita bruta de R$ 2,3 bilhões a R$ 2,5 bilhões, margem bruta de 50% a 52% da receita líquida e Ebitda de R$ 100 milhões a R$ 130 milhões. Em prévia divulgada ontem para o quarto trimestre, a empresa anotou queda de 41% na receita líquida ante igual período do ano anterior, para R$ 409 milhões. No critério mesmas lojas, o recuo foi de 28%.
Antes da crise da Americanas, as varejistas chegaram a conversar sobre um potencial M&A. A situação crítica da Marisa vem se arrastando há anos. Um executivo de banco especializado em varejo diz que, na prática, o que vai se desenhando na Marisa é uma 'OPA silenciosa'. "Não faz o menor sentido hoje essa companhia ser aberta, mas uma vez que o negócio precisa de caixa, também não há como os controladores usarem dinheiro para comprar ações ao invés de injetar capital. A cada rodada de equity e conversão de dívida, é uma nova diluição e o float vai encolhendo", analisa. Os controladores têm 53,83% da Marisa atualmente.