Nesta quarta-feira (10), a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, ou Proteste, trouxe um estudo que mostrou que várias marcas de pão de forma conhecidas do consumidor levam, em sua receita, alto teor de álcool.

Em três destas marcas, o teor de álcool empregado poderia fazer com que motoristas fossem flagrados no teste do bafômetro, sem contar que gestantes, idosos e crianças estão consumindo álcool sem saber.

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Pão de forma tem álcool demais na fórmula (Imagem: New Africa/Shutterstock)

Pesquisa aponta: pão de forma tem (muito) álcool

  • O Proteste estudou o teor alcoólico de dez marcas de pão de forma que encontramos nos supermercados. São elas:
    • Pulmann;
    • Visconti;
    • Bauducco;
    • Wickbold 5 zeros;
    • Wickbold sem glúten;
    • Wickbold leve;
    • Panco;
    • Seven Boys;
    • Wickbold;
    • Plusvita.
  • Destas, seis poderiam ser consideradas alimentos alcoólicos. Por exemplo, o pão da Visconti tem teor de 3,37%, ante 1,17% da Bauducco;
  • O Brasil exige que bebidas com teor de etanol tenham mais que 0,5% de concentração do líquido em sua fórmula para serem classificadas como alcoólicas. Logo, os pães de forma analisados estão bem acima do mínimo.

A seguir, confira o teor alcoólico encontrado em cada marca estudada, em ordem do mais alcoólico para o menos alcoólico:

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Teor de álcool encontrado em pães de forma

PosiçãoMarcaQuantidade de álcool (%)
Visconti3,37
Bauducco1,17
Wickbold 5 zeros0,89
Wickbold sem glúten0,66
Wickbold Leve0,52
Panco0,51
Seven Boys0,50
Wickbold0,35
Plus Vita0,16
10ºPulmann0,05
Fonte: Proteste

Isso sifgnifica que gestantes, idosos e crianças estão consumindo álcool sem saber (Imagem: GEORGII MIRONOV/Shutterstock)

Entenda por que há álcool no pão

Naturalmente, a fermentação do pão produz álcool, mas sua maioria se evapora quando o pão é assado. Contudo, o alto teor encontrado pela Proteste se dá porque as fabricantes tentam conservar os produtos por mais tempo.

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É bem provável que você já tenha se deparado com a seguinte cena: apenas poucos dias após comprar um pão de forma, ele já está sem condições de consumo, mofado. Isso não é “anormal”: a associação aponta que 10% da produção de pães no Brasil se perde graças ao mofo.

Sendo assim, as fabricantes costumam adicionar um antimofo diluído em álcool (já notou como a data de validade desses pães de forma aumentou consideravelmente nos últimos anos? Eis a razão).

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Mas a quantidade, que deveria ser limitada, de modo que evaporasse até o pão chegar ao consumidor, está superando (demais) o nível esperado. A pesquisa indicou que isso tem a ver com a quantidade de produto usada pelas fabricantes.

A Proteste alerta que os pães chegam à mesa do consumidor com teor alcoólico, em sua maioria, de bebida, mas que não há nenhum aviso às pessoas sobre isso. Vale salientar que a dose de álcool permitida para crianças é superada nas marcas analisadas.

Por isso, a associação enviou ofício com os resultados do estudo ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), solicitando regulamentações em cima disso.

Leia mais:

E o bafômetro? Quais marcas efetivamente podem dar falso positivo?

A lei indica que o motorista não pode ter 0,04 mg/l de álcool no sangue. Entre 0,05 mg/l e 0,33 mg/l, configura-se infração gravíssima e, acima disso, crime de trânsito.

A Proteste considerou, ao realizar o teste, o risco de ser flagrado no bafômetro no caso de consumo de duas fatias desses pães. Três marcas apresentam risco: Visconti, Bauducco e Wickbol 5 zeros, que possuem, em duas fatias, respectivamente, as seguintes quantidades de álcool: 1,69, 0,59 e 045.

Nesta quinta-feira (11), a Anvisa abriu processo para estudar medidas a serem adotadas com relação às marcas avaliadas pela associação. Contudo, o órgão entende que medidas deverão ser adotadas somente se consideradas necessárias.

Teor alcoólico no alimento pode fazer um motorista ser flagrado no teste do bafômetro (Imagem: Korawat photo shoot/Shutterstock)

O que dizem as empresas envolvidas

A Pandurata (dona de Bauducco e Visconti), a Panco e a Wickbold se pronunciaram sobre o resultado da pesquisa. Confira, a seguir, na íntegra, as respectivas notas enviadas à imprensa:

A Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, esclarece que adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento. A empresa possui a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida como referência global em boas práticas na indústria alimentícia, e segue toda a legislação e regulamentações vigentes.

Pandurata Alimentos, dona de Bauducco e Visconti, em nota

A Panco é uma empresa com mais de 70 anos de presença no mercado brasileiro e que sempre teve sua atuação pautada pela conduta ética e compromisso com a qualidade de seus produtos, bem como com a saúde e segurança de todos os seus públicos.

A companhia atesta a adoção de práticas totalmente alinhadas aos mais rigorosos padrões de mercado e o cumprimento de todas as normas e legislações específicas vigentes para a produção de alimentos. Para assegurar esses padrões, a companhia possui rígidos controles de qualidade (internos e envolvendo fornecedores externos), além de estabelecer mecanismos criteriosos de homologação de seus fornecedores de matérias-primas.

A respeito do estudo da Proteste, a Panco informa que não foi notificada em nenhum momento pela responsável pelo levantamento, desconhecendo, portanto, sua metodologia. Além disso, esclarece que não utiliza etanol na fabricação do pão, mas que ele pode resultar do processo de fermentação, sendo que os resíduos não intencionais são aceitos pelas normas e legislações vigentes.

A empresa reitera o seu compromisso com a qualidade de seus produtos e está empenhada em realizar análises complementares para entender os pontos levantados e avaliar a necessidade de eventuais adaptações em seus processos. A Panco também esclarece que seus produtos chegam, nas grandes lojas, até no máximo 48 horas depois de produzidos, garantindo a maciez, frescor e sabor que os consumidores merecem.

Panco, em nota

O Grupo Wickbold, que detém a marca de mesmo nome e a Seven Boys, reforça que todas as receitas de produtos, assim como todas as áreas da empresa, seguem protocolos de segurança e qualidade, com o mais alto teor de controle, bem como cumpre toda a legislação vigente, dentro dos parâmetros impostos pelas normas estabelecidas. Como a fabricante não foi notificada sobre o referido estudo e a metodologia utilizada, não é possível qualquer manifestação sobre ele. Contudo, após ter acesso ao mesmo e a metodologia empregada, poderá prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários, confirmando o legado de ética, transparência e respeito às pessoas que mantém há 86 anos.

Wickbold (que possui marca de mesmo nome e dona da Seven Boys), em nota