Conforme noticiado pelo Olhar Digital, uma mancha solar gigantesca com 15 vezes o tamanho da Terra explodiu uma longa sequência de erupções solares de classe X (o tipo mais poderoso) no início de maio. Como consequência, entre os dias 10 e 12, nosso planeta enfrentou a maior tempestade geomagnética dos últimos 20 anos.

De acordo com a plataforma de meteorologia e climatologia espacial Spaceweather.com, um dos efeitos mais graves sentidos pela Terra foi um deslocamento conjunto de cerca de cinco mil satélites em órbita, caracterizando a maior migração em massa de espaçonaves da história.

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Gráfico ilustra a dinâmica de deslocamento de satélites, comparando os eventos extremos de 2003 e 2024. Crédito: William Parker via Spaceweather.com

Esses satélites precisaram ajustar suas altitudes para escapar dos efeitos da intensa tempestade geomagnética de classe G4 (considerada severa em uma escala que vai de G1 a G5) que ameaçava derrubá-los. Esse evento histórico foi detalhado em um artigo aceito para publicação pelo Journal of Spacecraft and Rockets.

“A maioria desses satélites eram da constelação Starlink, da SpaceX”, explicou William Parker, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), EUA, principal autor do estudo. Segundo ele, cada satélite Starlink tem capacidade autônoma para manter sua posição e evitar colisões. “Quando sentiram os efeitos da tempestade, milhares de satélites decidiram manobrar para evitar problemas”.

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O aumento repentino no arrasto atmosférico foi o motivo dessa movimentação. A tempestade solar causou um acúmulo massivo de energia na atmosfera da Terra, fazendo com que ela se expandisse. Como resultado, camadas de ar aquecido atingiram o espaço e começaram a puxar os satélites para baixo.

“A supertempestade atingiu uma potência máxima de 2,63 terawatts”, afirmou Martin Mlynczak, cientista aposentado do Centro de Investigação Langley, da NASA. Usando dados infravermelhos da espaçonave TIMED, da agência espacial norte-americana, Mlynczak estimou a quantidade de energia térmica liberada na alta atmosfera. “Foi energia suficiente para abastecer minha casa por 10 milhões de anos”.

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A órbita da Terra é lotada de satélites, e essas espaçonaves estão sujeitas ao clima espacial e aos eventos solares que atingirem o planeta. Crédito: satellitemap.space

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Embora a atmosfera da Terra já tenha sido aquecida por eventos solares extremos antes, a última ocorrência de grande escala foi durante as tempestades de Halloween, em 2003. Naquela ocasião, no entanto, havia menos de mil satélites em órbita, o que evitou uma migração em massa.

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“A tempestade geomagnética de maio de 2024 foi a primeira grande tempestade a ocorrer em um novo paradigma de operações de satélites em órbita baixa, dominadas por pequenos satélites comerciais”, escreveram os autores no artigo. Desde o lançamento da Starlink, em 2019, a quantidade de satélites ativos na órbita da Terra aumentou para quase 10 mil, o que é 10 vezes mais do que em 2003.

Quando uma fração significativa desses satélites decide mudar de curso simultaneamente, os operadores enfrentam um grande desafio para rastreá-los e evitar colisões. Isso cria um risco desconhecido para todos os satélites, mesmo aqueles que não estão se movendo.

A situação tende a piorar nos próximos anos. “Grandes tempestades são mais prováveis ao longo de 2024-2025, durante o pico do Ciclo Solar 25”, disse Parker, “e a população de satélites continua a crescer”.

Esse evento destaca a necessidade urgente de desenvolver novas estratégias para gerenciar o tráfego de satélites e atenuar os riscos associados às tempestades geomagnéticas, que estão se tornando cada vez mais comuns com o aumento da atividade solar.