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Desmatamento recorde na Amazônia: 2021 teve pior abril da série histórica, mostra Inpe

Área desmatada foi de 580 km² e quantidade de alertas foi a maior para o mês desde 2016; Observatório do Clima diz que dados 'desmentem governo federal'
Abril de 2021 bateu recorde de desmatamento para o mês, segundo dados do Deter Foto: Infoglobo
Abril de 2021 bateu recorde de desmatamento para o mês, segundo dados do Deter Foto: Infoglobo

RIO — O desmatamento na Amazônia atingiu em abril o pior índice para o mês já registrado na série histórica desde 2015, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os alertas abrangeram uma área de 580,55 km², equivalente a 58 mil campos de futebol, conforme medições do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).

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Os dados mostram que o desmatamento na região em abril cresceu 42% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram detectados alertas numa área de 407 km².

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, afirma que os dados mostram que as promessas de combater o desmatamento feitas pelo presidente Jair Bolsonaro Cúpula do Clima, em abril, foram “absolutamente vazias”.

— Os relatos que a gente ouve no chão da floresta é que a Amazônia virou uma espécie de parque de diversões de criminosos ambientais. Não existe fiscalização, plano de combate, nem ao menos uma postura que intimide — diz Astrini. — Pelo contrário: os sinais do governo que chegam para o crime organizado, madeireiros ilegais e grileiros é de que eles nunca tiveram um momento tão favorável.

Ele chama atenção também para o prejuízo na imagem internacional do Brasil. A alta no desmatamento pode atrapalhar o país a acessar verbas bilionárias, como da iniciativa “leaf”, promovida por Reino Unido, Noruega, e grandes empresas privadas.

— Com essa política de devastação, o governo impulsionando o desmatamento, o Brasil fica fora do jogo internacional do meio ambiente e perde recursos importantes. Além disso, essa postura atrapalha negócios, tanto que o acordo do Mercosul com a União europeia está parado — afirma o especialista.

A engenheira florestal Janaína Dallan, que é membro do time de especialistas da ONU para Mudanças Climáticas e CEO da Carbonext, afirma que o aumento do desmatamento impacta também as metas brasileiras de diminuir em 43% as emissão de gases do efeito estufa até 2030.

— O Brasil deveria começar a reduzir uma média de 5% ao ano de emissões. Com as altas taxas de desmatamento, sendo que o desmatamento representa grande parte das emissões brasileiras, realmente a gente não conseguiria atingir essa meta em 2021 — projeta Dallan. —Vamos chegar a COP-26 ( Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática ), em novembro, com uma imagem ferida, ruim, e passando um recado contrário ao que deveríamos passar pras outras nações

Dados desmentem governo

Em nota, o Observatório do Clima (OC) diz que os dados "desmentem o governo federal", que comemorou a queda de cerca de 15% nos alertas verificada entre agosto de 2020 e abril de 2021 (em relação ao mesmo período anterior), como resultado da ação do Exército na Amazônia.

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"Os alertas têm oscilado mês a mês para cima e para baixo, o que mostra que não existe uma política consistente ou uma ação sustentada da administração federal para controlar a devastação", afirma o OC.

"Em 2021, não há nenhum esforço federal de controle do desmatamento acontecendo na Amazônia. A fiscalização do Ibama está parada devido a mudanças impostas por Ricardo Salles nos procedimentos de autuação. O processo de punição a crimes ambientais também foi inviabilizado pelo ministro", prossegue a nota da rede composta por 63 organizações não governamentais e movimentos sociais.

O Greenpeace destacou que a impunidade no campo e na floresta vem gerando grandes polígonos de desmatamento com áreas de mil, 3 mil e até 5 mil hectares, trazendo à cena taxas anuais não observadas desde 2008.

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"Não será uma promessa vazia de duplicar o orçamento para fiscalização e controle na Amazônia na cúpula climática, o uso do peso político e o apoio do centrão para aprovar leis que legalizam grilagem e desmatamento ocorridos recentemente, a abertura de Terras Indígenas para mineração e apropriação do agronegócio e a liberalização geral do licenciamento ambiental, que vão diminuir essa destruição", disse a ONG.

O território analisado na medição é o da faixa da Amazônia Legal que corresponde a 59% do território brasileiro e engloba a área dos estado do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão.

Segundo recorde consecutivo

Em março, o Deter detectou perda de 367 km² de floresta, um aumento de 12,5% em relação ao mesmo período de 2020 e maior área da série histórica para o mês. Já os meses de janeiro e fevereiro de 2021 registraram índices de devastação menores ante o notificado no mesmo período no ano passado.

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O Deter proporciona levantamentos sobre alteração na cobertura florestal, e envia informações para órgãos de fiscalização como o Ibama. Seus índices são divulgados mensalmente.

O Inpe também conta com outra ferramenta, o Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), que faz levantamento anual da devastação do bioma.

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Em 2020, o desmatamento anual atingiu 11.088 km², índice recorde desde 2008.