Os dois filhos de Beto Simas (e de dona Ana Paula) não vêm do “Brasil profundo” nem cresceram no campo ouvindo música caipira. Mas, assim como Chitãozinho (Rodrigo Simas) e Xororó (Felipe Simas), que interpretam na série "As aventuras de José e Durval", estreia do Globoplay nesta sexta-feira (18), são irmãos e sonharam juntos a vida artística. Na conversa com o GLOBO, os atores refletem sobre a parceria e o sentimento de darem as mãos e não largarem mais desde que foram escalados para contar a história de uma das maiores duplas sertanejas do Brasil.
Ajudou o fato de vocês também serem irmãos?
Rodrigo: Fez toda a diferença para a gente, desde o início. Já nos testes, nos olhamos e pensamos: “Ainda bem que é você aqui comigo”. Nos demos as mãos. Tivemos um resgate pessoal e uma experiência artística inéditas. Há coisas que você vive... só com irmãos. A cumplicidade que os dois têm nós também temos.
Quando vocês fizeram os testes, encontraram semelhanças de bate-pronto com Chitãozinho e Xororó ou podia ter sido um vivendo o outro?
Rodrigo: Nunca!
Felipe: Quando analisamos as características de cada um, é engraçado, mas a gente tava tudo ali. A relação que eles têm é muito parecida com a nossa. Eu sou muito Xororó. O Rodrigo, o Chitão. Desde o avião antes dos testes detectamos isso...
Como assim?
Felipe: Eu tava querendo bater o texto no voo. E o Rodrigo: “Relaxa, agora é a hora da calma”. Eu queria treinar até o fim. Xororó é mais cricri com a profissão. O Chitão é mais sereno.
Rodrigo: É claro que são circunstâncias, épocas e dimensões artísticas diferentes, mas o encaixe foi impressionante. E não estou falando só do que já estava no texto. Já estava lá nas muitas entrevistas que devoramos deles (a produção optou por evitar que os atores não conversassem extensamente com Chitãozinho e Xororó). Vimos tudo, foi nosso maior norte, já que vivemos eles antes da fama. A fonte documental foi crucial.
Felipe: Nós os encarnamos justamente no momento em que eles estão sendo pressionados pelos dois lados. A cidade não os deixa entrar, e o interior cobra tradição em algo que estão decididos a transformar.
Rodrigo: Não focamos nos trejeitos, não queríamos imitá-los, mas tentamos pegar a energia deles, dos shows que faziam, e para isso os vídeos nos ajudaram muito. O que mais me chamou a atenção foi a simplicidade honesta deles. Eles sabiam bem o que queriam fazer, mas não tinham segurança de que aquilo iria dar certo ou de como a vida mudaria. E nas entrevistas um zoava o outro de forma leve e simples, é legal de ver.
E a cena do 'Tente outra vez'? Vocês também tiveram algum momento em que pensaram em fazer outra coisa da vida?
Rodrigo: É minha cena favorita, me emociono muito ali. Muito. Com todas as especificidades, nos identificamos muito com o lugar artístico deles. O de quem trabalha com o sentimento e com o corpo. E que, às vezes, é legítimo desistir, não querer. E nas cenas de show, a gente se olhava: “Olha o que a gente tá vivendo!”
Ouvimos a voz de vocês cantando na série?
Rodrigo: Canto um trecho de “Colcha de retalhos”, de Cascatinha e Inana, na cama, para uma personagem. Achei que iria colocar a voz em estúdio, mas foi ao vivo mesmo. Intenso, e só ali.
Felipe: No início, a gente ficava receoso de responder essa questão. Mas hoje estamos muito confiantes no que fizemos e sabemos que seria prepotência tentar encaixar a simplicidade de nossas vozes nas de Chitãozinho e Xororó. Não faria sentido algum, tiraria o encantamento. Eles receberam o dom da voz. Estamos contando a história deste dom. Seria um crime excluí-lo.
As cenas de palco, ao vivo, devem ter sido especialmente intensas…
Felipe: Sim. Pois tinha que ser a gente cantando na hora, ainda que a voz final fosse a deles. Nunca vivi nada como cantar “Evidências” no palco ao lado do meu irmão. Saí da gravação e liguei para o meu pai para dizer que havia vivido algo de fato extraordinário.
Rodrigo: A equipe inteira ficou, atrás das câmeras, cantando junto, aos prantos.
Felipe: Foram uns 25 takes. A gente entregando tudo, pois sabíamos que na manhã seguinte não subiríamos no palco novamente e jamais tocaríamos de verdade “Evidências” de novo.
Rodrigo: Mas vou entregar o Felipe, ele só tá falando a parte boa (risos). Ele tinha, na pele do Xororó, de atingir aquele lugar da voz, lá em cima. Depois da segunda passagem, ele me olhou com cara de desespero: “Não sei se vou terminar o dia assim, se vai acontecer”. E eu: “Calma, já tá acontecendo”.
Felipe: Brilhantemente, Hugo (Prata, diretor) não deixou a gente ensaiar antes. Foi “Evidências” assim, na hora. O soco na boca do estômago, a surpresa, tá ali também.