Viver o câncer
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Por — São Paulo

A editora de livros Gabriela Gasparin, de 38 anos, encontrou nos exercícios físicos um importante aliado para lidar com o diagnóstico e o tratamento de câncer de mama, com metástase óssea, quadro do qual está em remissão há dois anos.

— Lembro-me de um sábado nublado em que eu estava meio deprê em casa, tomei a decisão de que o tratamento não me impediria de andar de bicicleta, algo que sempre amei fazer. Decidi sair para pedalar e na volta me senti muito melhor — rememora. — Nunca quis ser vista como alguém cuja vida acabou ao longo do tratamento do câncer. Hoje eu sei que me alimentar bem e fazer exercício faz parte da cura. Atualmente(após o tratamento), não deixo nada vir antes do meu bem-estar.

Esse foco na autoestima e no conforto dos pacientes tornou-se um importante fator no tratamento dos mais diversos tipos de tumores, dentro dos consultórios de oncologia.

No caso de Gabriela, foi fundamental a liberação de sua médica para que ela pudesse pedalar sem medo, mas os especialistas em todo o país têm se preparado para falar sobre assuntos ainda mais diversos, a exemplo de cosméticos sem contraindicação, libido e até a possibilidade de pintar os cabelos, tudo como uma forma de transformar a rotina em algo mais amigável para quem passa por um momento delicado de saúde. Trata-se de um assunto urgente, explica Roberta Sant’Annna, a diretora-geral da área de beleza dermatológica L’Oréal, departamento que, entre outras frentes, estuda o impacto dos tratamentos oncológicos na pele.

— Um estudo internacional com mais de 10 mil pacientes mostrou que 82% dos pacientes com câncer têm uma baixa qualidade de vida. Alguns falam sobre o impacto físico e também emocional. Por isso, é de suma importância o tratamento holístico quando se trata da doença— avalia. — Os pacientes oncológicos desejam que os profissionais médicos possam dar suporte emocional e que suas abordagens sejam mais empáticas e menos técnicas, pois o tratamento impacta na vida social, no trabalho e até no relacionamento.

Diante de um cenário como esse, cada vez mais os especialistas miram em abordagens que vão além do tratamento medicamentoso (fundamental, diga-se) e dão pistas de como o paciente pode viver certa normalidade em meio ao diagnóstico, levando em consideração seus gostos e vontades. Esse tipo de negociação com o paciente, dizem os médicos, pode trazer benefícios aos tratamentos em todos os estágios, inclusive os que a cura pode não ser atingida.

— No contexto de doenças incuráveis, há ganhos no desfecho e no andamento do caso, se levamos em consideração esse bem-estar físico, social e psicológico. O ganho é considerado na sobrevida. Também recebe um contorno importante a importância da autoiomagem, coisa que os pacientes querem muito saber — afirma Andreia Melo, médica do Grupo Oncoclínicas. — Conforme a oncologia passou a ter mais resultado, o que inclui mais tempo de sobrevida, esses tópicos passaram a ter cada vez mais importância na rotina de quem está em tratamento.

Mudanças estéticas

Ana Carolina Melo, da oncologia D’Or, diz que o alcance da autoestima e do bem-estar precisa levar em consideração diversos fatores para que seja efetivo, o que inclui a fadiga decorrente das sessões de quimioterapia, assim como as mudanças estéticas que podem ser causadas por cirurgias, por exemplo. Esse tipo de tema, embora pareça bastante particular, tem ganhado espaço importante nas consultas. A escuta atenta aos aspectos desafiadores do tratamento que podem ser amenizados, dizem os médicos, é fundamental para que o paciente se sinta de fato amparado pelo especialista que o acompanha.

— Pedimos que os próprios pacientes fiquem à vontade para perguntar tudo o que quiserem. Em alguns casos de quimioterapia, por exemplo, há touca que congela o couro cabeludo e ajuda a reduzir a queda. Em outros casos, dá para indicar uma henna para preencher a sobrancelha antes da perda dos fios, assim ela não precisa ver tanta mudança e poder fazer o desenho perfeito, no lugar certo — afirma a especialista.

Para se ter uma ideia do quanto a preocupação com a autoimagem e a aceitação ainda são temas iniciantes no país, foi só em 2013 que o Brasil passou a ter uma lei que garante a reconstrução mamária, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), para mulheres que sofreram de mutilação total ou parcial dos seios em tratamentos de saúde — o que inclui o câncer de mama. Somente no ano passado, porém, foi sancionada a lei que permite a troca de próteses, sem custo, caso ocorra algum efeito adverso.

E há mais mudanças. Os próprios oncologistas explicam que essa busca por tornar o tratamento mais tolerável para o paciente, tendo em vista seus gostos, limitações e vontades, mudou a tônica das consultas. Há, por exemplo, médicos que perguntam sobre hobbies, ou outras atividades para saber se o tratamento terá impacto nesse aspecto da vida do paciente. Se, por exemplo, a pessoa sob cuidados de saúde faz alguma atividade manual como tocar piano e o tratamento pode tirar a sensibilidade das mãos, isso é amplamente conversado (e, se possível, contornado).

Mesmo crenças individuais passaram a ser consideradas como um trunfo nos cuidados com os pacientes. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), por exemplo, tem se posicionado de maneira recorrente sobre a importância da espiritualidade do paciente ao longo do tratamento.

Em uma cartilha sobre o tema lançada recentemente a entidade pondera que a abordagem da espiritualidade pelo médico pode “fortalecer o vínculo, a confiança e a empatia. É fundamental buscar entender as crenças do paciente, identificar aspectos que podem interferir nos cuidados de saúde, e avaliar a força espiritual individual, familiar ou social que lhe permitirá enfrentar a doença”, aconselha o material.

Sexo

A libido também figura como um assunto valioso na conversa com o oncologista. Para as mulheres, em alguns casos, há uma perda drástica da lubrificação — o que pode ser revertido — e para eles, tratando-se do câncer de próstata, há episódios em que o bloqueio hormonal (da testosterona) necessário para o manejo do tumor, também impede a prática sexual. Para ambos os gêneros, a conversa com o especialista é fundamental. Há, contudo, de se tratar esses temas com cautela e delicadeza.

— No caso do bloqueio androgênico (o tratamento hormonal para o câncer de próstata) é possível discutir a duração do tratamento com o paciente, por exemplo, para que ele tenha que lidar menos tempo com os efeitos indesejáveis — afirma André Berger, urologista e especialista em cirurgia robótica no Hospital Moinhos de Vento. — Em todos os casos, quem tem hábitos saudáveis consegue ter mais qualidade de vida. Isso vai desde a atividade física ao consumo adequado de água ao longo do dia.

Em geral, o atalho para entender as dificuldades, dores e dúvidas dos pacientes está na conversa e na criação de uma relação transparente dentro do consultório, em que se cria confiança entre o especialista e quem passa pelo tratamento.

— A jornada do paciente oncológico requer um grande vínculo entre ele, seu médico e a equipe assistencial. É preciso romper barreiras para construir confiança e chegar aos temas sensíveis. E o sexo não é o único, há outras preocupações. É preciso criar o ambiente de confiança, para que haja a conversa sem julgamento — afirma o oncologista Henrique Braga, da Dasa. — Ter uma boa comunicação, um bom entendimento, é fundamental.

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