Saúde
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Por , Em The New York Times

As doses da vacina contra a cólera estão sendo administradas na mesma velocidade em que são produzidas e as reservas globais acabaram, à medida que surtos mortais da doença continuam a se espalhar. No entanto, o cenário não é surpreendente para especialistas em emergência às epidemias, porque essas reservas têm estado precariamente baixas há anos.

A surpresa – a boa notícia, que por si só é surpreendente, uma vez que “cólera” e “boas notícias” raramente são usados ​​em conjunto – é que três novos fabricantes de vacinas estão desenvolvimento linhas de produção e irão se juntar ao esforço para reabastecer as reservas. Uma quarta empresa, a única que fabrica atualmente a vacina, que é administrada por via oral, tem trabalhado a um ritmo que os especialistas descrevem como “heroico” para expandir a sua produção.

No entanto, mesmo com tudo isto, o fornecimento global total da vacina que estará disponível este ano será, na melhor das hipóteses, um quarto do que é necessário.

No final de fevereiro, os países já tinham notificado 79.300 casos e 1.100 mortes por cólera apenas este ano. Como não existe um sistema uniforme para a contagem de casos, esse número provavelmente é bastante subestimado.

Em outubro de 2022, a organização que gere a reserva global de vacinas de emergência contra a cólera fez uma recomendação inédita para que as pessoas recebessem apenas uma dose da vacina, em vez de duas, num esforço para aumentar a oferta. Uma única dose da vacina contra a cólera proporciona entre seis meses e dois anos de imunidade, enquanto o regime completo de duas doses, administradas com um mês de intervalo, confere caos adultos cerca de quatro anos de proteção.

No ano passado, os países enviaram pedidos de 76 milhões de doses da vacina para “campanhas reativas” de dose única – esforços para vacinar pessoas em locais com surtos ativos. Havia apenas 38 milhões de doses no estoque, então apenas metade das solicitações foram atendidas, e essas eram com dose única.

Não sobraram vacinas para campanhas preventivas, que idealmente seriam realizadas em locais como Gaza, onde existem todas as condições para grandes surtos, ou em locais onde a cólera é endêmica.

A corrida para produzir mais vacinas contra a cólera ilustra todas as razões pelas quais é tão difícil responder às epidemias, mesmo com a participação de fabricantes de medicamentos empenhados, que não se assustam com as estreitas margens de lucro numa imunização que se destina principalmente às pessoas pobres.

A cólera pode causar a morte por desidratação em apenas um dia, enquanto o corpo tenta expelir bactérias virulentas em torrentes de vômito e diarreia. A doença é transmitida através de água potável contaminada.

Os atuais surtos são impulsionados pela propagação de conflitos e catástrofes climáticas que forçam as pessoas a viverem em situações de superlotação, sem sistemas de saneamento adequados. Nos últimos meses, foram registrados surtos em 17 países, incluindo Afeganistão, Zâmbia e Síria. Deste estão, a demanda só cresceu.

Atualmente, a empresa sul-coreana EuBiologics é a única que fabrica a vacina contra a cólera. A empresa já sabia que haveria pressão no fornecimento da vacina porque a única outra empresa que a fabricava, uma subsidiária indiana da farmacêutica Sanofi, havia anunciado em 2018 que encerraria a produção da vacina, o que aconteceu em 2023.

Para cobrir a lacuna na produção, Rachel Park, diretora de negócios internacionais da EuBiologics, explica que a empresa decidiu tentar simplificar a fórmula da sua vacina para poder produzir mais doses, com mais rapidez. Deu tão certo que a empresa estava produzindo mais princípio ativo do que podia envasar e precisou contratar uma segunda empresa coreana para ajudar.

A EuBiologics também investiu na construção de uma segunda unidade de produção que duplicaria a quantidade de vacina produzida. Quando a nova fábrica começar a produzir, a empresa poderá produzir até 46 milhões de doses por ano.

— A EuBiologics é realmente a heroína desconhecido da história — disse a médica Julia Lynch, diretora do programa de vacina contra a cólera do Instituto Internacional de Vacinas, uma organização apoiada pelas Nações Unidas com sede em Seul. — Eles estão fazendo tudo o que podem para aumentar os volumes o mais rápido possível.

Juntas, estas medidas deverão aumentar a produção para um total de cerca de 46 milhões de doses este ano, e para cerca de 90 milhões de doses de 2025 em diante. Mas isso provavelmente ainda será significativamente menor do que o que o mundo exige.

— As doses estão sendo distribuídas antes mesmo de serem produzidas — disse a médica Daniela Garone, coordenadora médica internacional dos Médicos Sem Fronteiras, que faz parte do comitê que decide quais países receberão as doses e quantas. — Não esperávamos que fosse melhor este ano, mas não pensávamos que seria tão pior.

Há mais esperança no horizonte distante: mais três empresas farmacêuticas têm vacinas contra a cólera em desenvolvimento. O Instituto Internacional de Vacinas licenciou a sua vacina à Biological E, uma empresa indiana, e está a partilhar a fórmula e o equipamento para a sua produção. Se tudo correr bem, essa vacina poderá chegar ao mercado até ao final de 2026 porque a Biological E é uma grande empresa, que já fabrica muitos produtos pré-qualificados pela OMS.

Na África do Sul, uma empresa chamada Biovac iniciará em breve ensaios clínicos daquela que poderá eventualmente ser a primeira vacina produzida do início ao fim na África Subsariana. A Biovac espera concluir os testes até 2027. Depois disso, provavelmente levará pelo menos um ano para que a vacina seja seja pré-qualificada pela OMS, disse a médica Morena Makhoana, executiva-chefe da Biovac. Esse processo permite que a vacina seja aplicada sem que cada país tenha que fazer seu próprio trâmite regulatório.

A Bharat Biotech, outra grande empresa indiana com grande capacidade de produção, está desenvolvendo sua própria vacina oral contra a cólera. A expectativa é que ela chegue ao mercado até o final de 2025.

Para estimular as empresas a investirem na produção de vacinas contra a cólera, a Gavi, organização internacional que fornece imunizações a países de baixo e médio rendimento, indicou a possibilidade de compromissos antecipados de mercado – a promessa de encomendas futuras que encorajariam os fabricantes de medicamentos a investir na produção da vacina contra cólera. A Gavi paga à EuBiologics, por exemplo, US$ 1,53 por dose da vacina, o equivalente a cerca de R$ 8.

A Bharat e a Biological E planejam produzir inicialmente cerca de 15 milhões de doses por ano, disse Lynch – “quantidades modestas” pelos padrões dessas grandes empresas indianas, que poderiam produzir mais se o mercado continuar a crescer.

A demanda potencial é difícil de prever, disse ela.

— Essa é realmente a questão: o que o mundo está passando agora é uma espécie de fenômeno de alguns anos desencadeado por alguma coisa ou é um novo normal? — questiona Lynch.

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