Saúde
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Por — Rio de Janeiro

A cirurgia bariátrica realizada por Ana Paula Santana da Cunha em agosto de 2022 representou não apenas a perda de 60 kg, mas o desenvolvimento de uma anemia severa. A auxiliar administrativo de Rio Claro, interior de São Paulo, precisou passar por outras três cirurgias devido a complicações em seu sistema digestório. Assim, foi recomendado pelos médicos que ela fizesse o raro procedimento de reversão da bariátrica.

Para receber a indicação de fazer a bariátrica ela estava com IMC maior que 40, outros fatores foram a pressão alta e uma lesão preexistente no joelho.

De acordo com Jacqueline Rizzoli, coordenadora do Departamento de Cirurgia Bariátrica da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), este é um caso grave e extremamente atípico.

— Eu trabalho com uma equipe de bariátrica, já fizemos 6 mil cirurgias em 24 anos e até hoje nunca tivemos reversão de cirurgia por desnutrição. Até nas publicações científicas isso é raro, têm poucos casos descritos na literatura — avalia Rizzoli.

Três meses depois da intervenção cirúrgica, Ana Paula não conseguia mais manter no organismo o que comia, principalmente por conta de crises constantes de vômito. A auxiliar chegou a pesar 36 kg, pelo menos 20 kg a menos do peso considerado saudável para sua altura de 1,52 m, de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC).

O quadro piorou até se tornar uma anemia — baixa quantidade de hemoglobinas, responsáveis pelo transporte do oxigênio no sangue —, condição causada pela baixa ingestão de nutrientes e minerais. Por conta disso, ela desenvolveu problemas tanto na fala quanto nos movimentos do corpo.

— As anemias não são incomuns em pacientes que fazem bariátrica, mas na maioria das vezes são corrigidas com comprimidos e com ferro endovenosos. É raríssimo um paciente precisar de uma transfusão de sangue, por exemplo — explica a endocrinologista.

O bypass gástrico, no qual o estômago é grampeado aliado a um desvio no tubo digestivo, de Ana Paula foi desfeito no mês passado. Atualmente, ainda se recuperando da intervenção, ela conta em entrevista ao GLOBO sobre as dificuldades enfrentadas no que, para ela, seria a realização do sonho de estabilizar a balança.

Leia o relato de Ana Paula:

“Sempre briguei com a balança, desde a minha adolescência. Mas nunca fui uma pessoa sedentária, gosto de fazer exercícios e caminhar. Por isso, eu emagrecia e engordava constantemente. Isso me fez sofrer pressão alta, também comecei a ter um problema no joelho. Foi quando decidi buscar opinião de um gastroenterologista para confirmar se meu peso estava apto para a bariátrica.

Constatei que meu IMC sinalizou que estava obesa, o que permitiria que eu fizesse a cirurgia. Na época, eu pesava 96 kg e tinha 1,52 metros de altura. Como conhecia muita gente que já tinha feito e que estava super bem, eu resolvi fazer.

Era o ano de 2022. Fiz todos os exames que o médico pediu e no dia 31 de agosto foi marcada a minha cirurgia. Deu tudo certo. Depois que saí do hospital, começaram as fases de alimentação: líquida, pastosa branda e por último, a sólida. Quando eu entrei na última, passei a vomitar tudo que comia. Foi então que resolvi procurar o médico novamente e questionei: “Tem alguma coisa errada, né?”

Havia um líquido acumulando no meu estômago e os resíduos da comida ficavam lá. Precisei então passar por uma cirurgia para fazer um espaçamento no intestino. Mas ela não adiantou de nada.

Depois de ser internada porque continuava vomitando e não conseguia segurar nada de comida no organismo, fiz outro procedimento, um outro desvio no intestino. E foi aí onde começou meu pesadelo de fato. Voltei para o quarto, comecei a vomitar sangue. Precisei ser internada para receber sangue e me encaminharam para outra intervenção cirúrgica. Resumindo, em dez dias, eu fiz três cirurgias.

Esse período foi quando eu perdi a maior parte da minha massa muscular, por conta de uma desnutrição severa, chegando a pesar 36 kg. Contando todos os períodos de internação, fiquei 92 dias internada (já era 2023), até ser encaminhada para fazer a reversão da bariátrica.

Hoje ainda tenho sequelas de tudo isso mas sei que vou melhorar. É uma questão de tempo. Tenho pouca autonomia. Antigamente eu era uma pessoa muito proativa, uma pessoa super independente. Então isso daí me afetou assim muito mesmo. Não consigo andar direito, não consigo falar direito, não escrevo mais, porque meus braços perderam a força.

Preciso de ajuda para tudo atualmente, nem estou mais na minha casa. Durante todo esse período voltei a morar com a minha mãe porque durante o dia meu marido trabalha e o meu filho estuda.

Agora estou usando sonda para comer. Sinto falta de cuidar da minha casa, do meu marido, do meu filho, de poder fazer uma refeição de verdade com eles dois. Então, o meu maior desejo é voltar a ter a vida que eu tinha antes. Mas fiz a reversão da bariátrica e a partir de agora é me recuperar porque vai ser um processo longo. Mas logo logo eu estou de volta.”

*Em depoimento à repórter Raquel Pereira

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