Saúde
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Por — São Paulo

As doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti têm um ciclo natural de aumento e redução que segue variáveis sazonais e, pela média do que ocorreu na última década, o Brasil está hoje bem no meio do período anual mais crítico para essas enfermidades, revela uma análise independente.

O período entre a 15ª e a 17ª sétima semana do ano é o que costuma concentrar o maior número de ocorrências de dengue, zica e chikungunya, e nós entramos hoje na 16ª semana. A notificação de casos ainda deve levar algum tempo para retratar o que está acontecendo neste momento, mas quem se assustou com o tamanho dos recordes batidos ainda pode esperar ver uma piora nos próximos dias.

O alerta foi dado na última semana pelo pesquisador Wanderson Oliveira, ex-chefe da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde (SVS) e epidemiologista do Hospital das Forças Armadas. Uma análise que o especialista publicou na semana passada inspira preocupação ainda com a dinâmica da doença no Brasil.

— Leva-se um tempo entre a detecção do caso, com o preenchimento da ficha do paciente e a digitação dessa informação no banco de dados. Então o que a gente está visualizando hoje é um retrato de algumas semanas atrás — afirma Oliveira.

O atraso típico é de 15 dias, mas pode ser que em até 45 dias o DataSUS, o sistema informatizado que permite ao Ministério da Saúde planejar ações contra a doença, ainda não tenha dados completos.

O epidemiologista comparou os registros feitos até agora com o que se viu em média na última década, e diz que os números inspiram muita cautela.

— A realidade que eu estou vendo hoje é um retrato do passado, sendo que nós estamos agora entrando num período em que o volume de casos ainda está subindo — afirma.

Desde o ano passado, em parte por conta de fatores climáticos como ondas de calor e distribuição de chuvas, a situação está se agravando para essas arboviroses, nome pelo qual são chamadas as viroses transmitidas por artrópodes (no caso, insetos).

Pensar que o surto atual pode se agravar é assustador, porque até a semana 13 o Brasil já tinha registrado 2,6 milhões de casos prováveis e 991 óbitos por dengue, um recorde histórico para o período. Onze estados já decretaram emergência.

A situação não é a mesma em todos os lugares, contudo. Agora o país tem pico sazonal de dengue, zica e chikungunya para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas nas outras o período é diferente. A região Norte possivelmente já passou pelo pior em fevereiro, e o Nordeste é aquela onde o auge das arboviroses é mais tardio, ocorrendo normalmente em meados de maio.

A ocorrência do pico não pode ser determinada de antemão, mas a expectativa de Wanderson difere um pouco daquilo que o Ministério da Saúde comunicou nesta semana, apontando “tendência de estabilidade ou queda na incidência de dengue” em 20 estados.

Muitos detalhes da análise independente de Oliveira não diferem do conteúdo do comunicado oficial da SVS nesta semana, mas diferem no tom e na conclusão.

— Nós temos uma queda nos casos prováveis de dengue — disse a atual titular do cargo na secretaria, Ethel Maciel, em entrevista coletiva na terça-feira passada. — Já temos oito estados com tendência de queda consolidada, outros 12 com tendência de estabilidade, que já passaram do pico, e sete com tendência de aumento.

Expectativa do pico

A análise oficial da SVS considerou dados até a semana 13 do ano, enquanto Oliveira incluiu dados até a semana 12. Ele defende, independentemente da diferença, que até tal momento é “prematuro concluir que há uma diminuição na incidência dessas doenças”.

Onde os dois especialistas entram em acordo é que, passado ou não o pico, não é hora de baixar a guarda contra a doença.

“Recomenda-se a manutenção do alerta e ampliação das ações de comunicação de risco para que a sociedade se mantenha atenta e consiga se cuidar até meados de maio, quando historicamente se observa a queda na incidência”, aponta a conclusão de seu artigo.

Maciel também aproveitou sua última entrevista coletiva para aguçar a percepção de gravidade da epidemia neste ano.

— Estamos num momento que ainda requer atenção e precisa ainda que as pessoas dediquem ainda uns 10 minutos por dia para procurar possíveis focos de larva do mosquito da dengue — afirmou. — Nos municípios onde a vacinação está disponível é muito importante os pais e as mães levarem as crianças para vacinar.

Outro ponto em que a análise de Oliveira entra em desacordo com a apresentação da SVS é na afirmação de que os casos de chikungunya e zika também estariam diminuindo neste ano.

Os casos de chikungunya notificados a cada semana são da ordem de um centésimo dos casos de dengue, e os de zica beiram o milésimo. O problema, afirma oliveira, é que o atendimento primário ainda tem muita dificuldade em diferenciar os três vírus e notificar as infecções separadamente.

— Nesse volume de dengue que estamos vendo tem muita, muita chikungunya embutida, e tem muita zica também — afirma.

No momento é difícil enxergar as consequências clínicas da presença desses vírus, diz o epidemiologista, porque as piores manifestações da chikungunya e da zica levam mais tempo para ocorrer.

A primeira delas, quando entra num quadro mais crônico, eleva a demanda por fisioterapia e tratamento de dores articulares na rede nacional de saúde.

A segunda delas teve grande impacto no país no período entre 2015 e 2106, quando muitas gestantes deram à luz crianças com problemas graves de desenvolvimento neural causados pela ação do vírus da zica em fetos.

O DataSUS indica que no início do ano o perfil de vítimas mais comuns da zica eram mulheres jovens em idade fértil, diz Oliveira. O especialista diz que isso deve inspirar muita preocupação, ainda que os casos sejam mais raros que os das outras arboviroses.

Sem ter estoques de vacinas para uma campanha em grande escala, o especialista afirma que resta a estados e municípios equilibrarem seus orçamentos para fazer a ação correta na hora certa. Aqueles que ainda não passaram pelo pico devem carregar mais ações de combate ao mosquito. Outros que já estejam vendo uma epidemia intensa precisam abrir leitos e organizar o atendimento para acolher quem já está doente, afirma.

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