Medicina
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Por Giulia Vidale — São Paulo

No último sábado (8) o governo do Peru declarou emergência em saúde devido ao aumento dos casos da síndrome de Guillain-Barré no país. Segundo dados do Ministério da Saúde local, entre janeiro e julho, foram registrados 182 pacientes com a doença. Desses, quatro morreram, 31 seguem internados e 147 receberam alta.

De acordo com o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do laboratório Genetika, em Curitiba, a síndrome de Guillain-Barré é uma doença autoimune. Ou seja, o sistema imunológico do paciente passa a atacar as estruturas do corpo. Nessa condição especificamente, o dano é direcionado aos nervos periféricos.

— Ainda não está claro o que desencadeia essa autoimunidade. Mas a maioria dos casos é precedida por uma infecção bacteriana ou viral — diz Raskin.

Entre as diversas infecções associadas à Síndrome de Guillain-Barré, a mais comum é a causada pelas bactérias Campylobacter, que provoca diarreia. Outras infecções que podem desencadear essa doença incluem zika, dengue, chikungunya, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, sarampo, gripe, hepatites, Covid-19, entre outros. Em casos ainda mais raros, a síndrome pode ser desencadeada por vacinas e cirurgias.

Ainda não se sabe o que está por trás do recente aumento nos casos da doença no Peru. A dengue é uma das possíveis causas, já que o país enfrenta sua pior epidemia da doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypt. Mas existem outras possibilidades.

Em 2019, por exemplo, o Peru apresentou o pior surto de síndrome de Guillain-Barré de usa história, com cerca de 900 casos registrados, em várias regiões do país. Um estudo posterior concluiu que esse surto foi associado à presença da bactéria Campylobacter jejuni, encontrada em alimentos como a carne de frango mal-passada.

O GLOBO ouviu especialistas e esclarece abaixo as principais dúvidas sobre o assunto.

O que é a síndrome de Guillain-Barré?

A síndrome de Guillain-Barré é uma condição autoimune, na qual o sistema imunológico do paciente ataca parte do sistema nervoso periférico. A síndrome pode afetar os nervos que controlam o movimento muscular, bem como aqueles que transmitem sensações de dor, temperatura e toque. Isso pode resultar em fraqueza muscular e perda de sensibilidade nas pernas e/ou braços. A causa exata da síndrome de Guillain-Barré é desconhecida. Mas dois terços dos pacientes relatam sintomas de infecção nas quatro semanas anteriores.

A condição é contagiosa?

O neurologista Alex Baeta, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, esclarece que a síndrome de Guillain-Barret não é contagiosa e, portanto, não há risco de transmissão.

— A Síndrome de Guillain-Barré é um distúrbio imunomediado, ou seja, nosso sistema imunológico começa a atacar estruturas do nosso próprio corpo. Geralmente, a síndrome é provocada por um processo infeccioso anterior. Mas ela não é contagiosa. O paciente poderá transmitir o vírus que desencadeou a síndrome, por exemplo, mas não a síndrome em si.

Quem teve Covid, corre mais risco de desenvolver Guillain-Barré?

Sim. A Covid-19, assim como outras infecções virais e bacterianas, está associada ao desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré. No entanto, não há uma relação entre a gravidade da infecção e o aparecimento da doença. Quadros leves e com poucos sintomas já podem engatilhar o ataque ao sistema nervoso periférico.

Quais são os sintomas?

A síndrome de Guillain-Barré pode apresentar diferentes graus de manifestação, desde quadros leves, com apenas alteração de sensibilidade nos membros e fraqueza muscular até graves, que incluem paralisia da face e comprometimento da respiração.

Os primeiros sintomas incluem sensação de fraqueza ou formigamento. Eles geralmente começam nas pernas e podem se espalhar para os braços e rosto, em uma progressão ascendente. Outros sintomas incluem: dormência, comichões, dor, problemas de equilíbrio e coordenação, sonolência; dificuldade para respirar, falar e/ou deglutir; retenção urinária; aumento ou queda da pressão arterial; arritmias cardíacas; visão dupla; alteração de reflexo; confusão mental; tremores e até mesmo coma.

Qual é o papel da imunoglobulina no tratamento?

A imunoglobulina humana é o tratamento mais comum para a síndrome de Guillain-Barré. Trata-se de uma infusão na veia, por cinco dias seguido, realizado no hospital. Outra opção de tratamento, menos comum, é a plasmaferese, técnica que permite filtrar o plasma do sangue do paciente. Ambos são considerados eficazes para o tratamento da doença.

A síndrome de Guillain-Barré tem cura?

A maioria dos pacientes com síndrome de Guillain-Barré se recupera. Em geral, a doença progride por um período de quatro a seis semanas. Depois, o paciente evolui com melhora lenta e gradual, mesmo sem tratamento. No entanto, o tratamento ajuda a reduzir o tempo e os danos da doença.

Dados internacionais mostram que aproximadamente 50% dos pacientes se recuperam totalmente em até seis meses. Em alguns casos, pode haver sequelas como alteração na sensibilidade dos membros e dificuldades motoras. A mortalidade varia de 3% a 5%.

Como é o diagnóstico da síndrome?

Baeta explica que a base do diagnóstico é clínica.

— Há suspeita da síndrome quando o paciente começa com sinais de maneira rápida e progressiva, em especial se houve uma infecção anterior

Também é possível realizar exames de apoio, como o exame do líquor, a ressonância dos nervos periféricos e a eletroneuromiografia.

Qual é a causa do surto no Peru?

Para o neurologista Leandro Calia, do Hospital Israelita Albert Einstein, o recente aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré no Peru é surpreendente.

— Não é comum haver uma epidemia, se tratando de uma síndrome autoimune. Provavelmente, algum agente infeccioso com segmento antigênico muito parecido com algum pedaço do sistema nervoso periférico está circulando no Peru — avalia o médico.

No entanto, as autoridades de saúde locais ainda não sabem o que está por trás do surto atual. Algumas possibilidades incluem dengue, já que o país enfrenta sua pior epidemia da doença, e a bactéria Campylobacter jejuni, responsável pelo surto de 2019 registrado no país,

Quantos casos de Guillain-Barré há no Brasil?

A síndrome de Guillain-Barré é considerada uma doença rara. Como essa não é uma doença de notificação compulsória no país, o Ministério da Saúde faz o monitoramento dos casos por meio do registro de internações e atendimentos hospitalares. A estimativa é que, por ano, são diagnosticados 1 a 4 casos a cada 100 mil brasileiros. A maior incidência é entre pessoas de 20 a 40 anos de idade.

Mais recente Próxima Guillain-Barré: Quem teve Covid tem mais risco de desenvolver a síndrome?
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