Medicina
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Por Bernardo Yoneshigue — Rio de Janeiro

Inicialmente, os análogos de GLP-1, classe de medicamentos que envolve a semaglutida, do Ozempic, foram criados para diabetes tipo 2. Posteriormente, o efeito inédito na perda de peso fez com que fossem criadas versões do fármaco para a obesidade, como o Wegovy. Agora, cientistas avaliam se essas substâncias podem ir além, e representar também uma esperança para tratar a doença de Alzheimer.

Esses medicamentos simulam sinteticamente um hormônio chamado de GLP-1. Ele se conecta a receptores de diversas partes do corpo, induzindo diferentes mecanismos. No pâncreas, por exemplo, estimula a produção de insulina, o que é positivo para pacientes com diabetes. No cérebro, provocam a sensação de saciedade, que diminui a fome e promove o emagrecimento.

No entanto, existem muitas ligações que vêm sendo estudadas entre a diabetes e a doença de Alzheimer, o que leva cientistas a se perguntarem se a ação do hormônio sintético também poderia impedir ou retardar o declínio cognitivo característico da principal forma de demência no mundo.

Embora os mecanismos exatos que ligam os diagnósticos ainda não sejam completamente compreendidos, sabe-se que pessoas com diabetes têm um risco mais de 50% superior de desenvolver Alzheimer.

Além disso, estudos têm indicado um papel da resistência à insulina no cérebro, da alta concentração de glicose e da neuroinflamação provocada por ela na disfunção que leva ao acúmulo das proteínas beta-amiloide e tau no órgão. Essas placas, como são chamadas, são as principais causas conhecidas hoje do Alzheimer.

Por isso, alguns pesquisadores chamam o Alzheimer até mesmo de “diabetes tipo 3” ou “diabetes do cérebro”, uma associação entre as doenças que tem crescido nos últimos anos. E, junto, aumenta a expectativa de que drogas eficazes para o controle da diabetes tenham um efeito sobre o Alzheimer.

— A ideia é que esses remédios aumentem a sensibilidade dos neurônios à insulina, fazendo com que os neurônios possam captar mais glicose, que é a principal fonte de energia das células. Alguns estudos anteriores mostraram que pacientes com Alzheimer tem essa resistência à insulina nas células do cérebro — explica a neurologista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Elisa Resende, vice-coordenadora do departamento científico de Neurologia Cognitiva e Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

Novo Nordisk conduz testes clínicos

Existem, hoje, dois principais testes clínicos sendo conduzidos com a semaglutida, o princípio ativo do Ozempic, pela Novo Nordisk, farmacêutica dinamarquesa responsável pelo remédio. Além da versão famosa em caneta injetável, ela também produz o Rybelsus, nome comercial da semaglutida feita em versão oral.

No final de 2020, o laboratório anunciou que começaria dois estudos, o evoke e o evoke plus, para avaliar a semaglutida na versão oral em pacientes com Alzheimer. Ambos tiveram início em maio de 2021, e pretendem envolver 1.840 participantes (3.680 no total). Eles são divididos em dois grupos: enquanto o primeiro recebe 14 mg de semaglutida oral por dia, o segundo recebe um placebo, para comparação.

“Devido à crescente necessidade médica não atendida e à crescente evidência de um potencial papel terapêutico para o GLP-1, investigaremos os benefícios da semaglutida oral no início da doença de Alzheimer”, disse Mads Krogsgaard Thomsen, vice-presidente executivo e diretor científico da Novo Nordisk na época do lançamento dos estudos.

A previsão é que os primeiros resultados sejam divulgados a partir de setembro de 2025, e que os estudos cheguem ao fim em outubro de 2026. Por se tratarem de medicamentos já aprovados para diabetes (Ozempic e Rybelsus) e obesidade (Wegovy), com segurança comprovada, os testes já estão na fase 3, em que se avalia somente a eficácia.

Os estudos, porém, ainda estão recrutando voluntários, segundo a plataforma ClinicalTrials, que monitora os testes clínicos em andamento no mundo. São elegíveis aqueles de 55 a 85 anos com comprometimento cognitivo leve. Um dos problemas é o estágio necessário da doença, uma vez que muitos pacientes são diagnosticados já em estágios avançados e, com isso, não podem participar dos testes.

Os estudos acompanharão os participantes por cerca de 173 semanas (três anos e quatro meses), período em que serão realizados testes para avaliar a capacidade cognitiva, como memória, raciocínio e atenção. Mais de 400 locais de todo o mundo estão recrutando voluntários, entre eles unidades no Brasil.

Outros trabalhos analisam GLP-1 e doenças neurodegenerativas

Há outros estudos que também avaliam os análogos do GLP-1 para demência. Um menor, conduzido por pesquisadores da Universidade de Oxford, em conjunto com outros cientistas britânicos e com a Novo Nordisk, avalia especificamente o impacto da semaglutida na formação das placas de proteínas beta-amiloide e tau em um pequeno grupo de 66 pessoas por meio de tomografias. Ele foi lançado também em 2021.

“O estudo usa um tipo de medicamento prescrito para diabetes, e para o qual já existem dados sugerindo que está ligado a um menor risco de demência. Vamos testar se interfere nos estágios pré-clínicos e sintomáticos muito precoces com os mecanismos subjacentes que conduzem a doença de Alzheimer - acúmulo de proteína tau e neuroinflamação. A vantagem óbvia de explorar compostos já (disponíveis) na prática clínica é que economizamos anos no desenvolvimento de medicamentos, pois sua segurança já foi testada”, explicou Ivan Koychev, investigador-chefe do estudo e professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford, em comunicado na época.

Outros trabalhos menores, com modelos animais ou com um número muito pequeno de participantes, mostraram resultados positivos da liraglutida (outro análogo de GLP-1) no tratamento do Alzheimer, com um efeito neuroprotetor, uma redução da neuroinflamação e uma consequente melhora da função cognitiva.

— Isso já foi mostrado em estudos com animais, agora é testado com humanos e também se existe de fato um benefício clínico. Porque essa é outra dúvida, se atuar nesse mecanismo de ação que envolve a resistência à insulina vai de fato também melhorar a cognição do paciente — diz Elisa.

Um deles, feito por cientistas da Imperial College de Londres e considerado de fase 2, acompanhou 204 pacientes durante um ano e constatou que "aqueles tratados com liraglutida tiveram um desempenho significativamente melhor do que o grupo placebo no lobo temporal. no volume de ressonância magnética cortical total e na função cognitiva".

Segundo os autores do trabalho, publicado em 2011 na revista científica The Journal of The Alzheimer's Association, o resultado "demonstra que os análogos do GLP1 podem melhorar a função cognitiva e o volume da ressonância magnética em indivíduos com doença de Alzheimer e podem ser um tratamento potencial para a doença".

Uma outra pesquisa, publicada na revista científica Nature em 2018, utilizou um tipo do análogo de GLP-1 mais potente no cérebro e conseguiu proteger o cérebro de camundongos contra a perda de neurônios dopaminérgicos e a formação de placas de proteína alfa-sinucleína, marcadores da doença de Parkinson.

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