Ciência
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Por — São Paulo

Um estudo brasileiro, publicado recentemente na revista científica Cerebral Cortex analisou o impacto da diferença entre os sexos e a idade na distribuição de neurônios no córtex cerebral, região muito importante para o processamento de informações sensoriais, motoras, cognitivas e associativa.

A pesquisa, que contou com a participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto Nacional de Neurociência Translacional e da Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, analisou 43 cérebros mulheres e homens falecidos, de diferentes idades. Os órgãos foram fornecidos pelo Biobanco para Estudos no Envelhecimento da USP.

Os autores selecionaram apenas aqueles de pacientes que nunca receberam qualquer diagnóstico de transtornos neurológicos ou psiquiátricos. A equipe também realizou análises para identificar possíveis doenças que não foram diagnosticadas em vida. Abuso de álcool ou de outras drogas foi outro ponto de corte para a pesquisa, resultando na seleção final de 32 cérebros de homens e 11 de mulheres, cujos doadores tinham de 25 a 87 anos quando faleceram.

Em seguida, os tecidos cerebrais foram avaliados por meio de um método chamado “fracionador isotrópico”, desenvolvido pelos neurocientistas brasileiros Suzana Herculano-Houzel e Roberto Lent. Essa técnica possibilita cortar o cérebro em diferentes frações e estimar com grande precisão a quantidade de células no tecido cerebral, que apresenta uma distribuição muito heterogênea de células.

De acordo com Lent, pesquisador do IDOR, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e Instituto Nacional de Neurociência Translacional, a análise das diferenças do cérebro de homens e mulheres já havia sido feito anteriormente, mas por meio de técnicas menos precisas. Essa foi a primeira vez que o método fracionador isotrópico foi utilizado para a comparação precisa do número e distribuição de células entre homens e de mulheres, o que resultou em um resultado mais preciso. Alterações cerebrais relacionadas à idade também foram analisadas no estudo.

— Nos interessamos por dois aspectos. Um, o efeito da idade. Será que o número de neurônios ou de células do cérebro diminui quando a gente vai ficando mais velho? Outro é a questão do sexo. Será que o número varia se a gente comparar homens com mulheres? Em quais regiões? E qual o significado disso? Isso tinha sido feito com técnicas menos confiáveis, de estimativas — explica Lent, que supervisionou os experimentos conduzidos pela pesquisadora pós-doutora Emily Castro-Fonseca, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ e do IDOR.

Os resultados mostraram que o córtex cerebral, uma das regiões mais evoluídas do cérebro, possui, em média, 10,2 bilhões de neurônios. Destes, 34% estão no lobo frontal, região importante para o movimento voluntário, a linguagem expressiva e para o gerenciamento de funções executivas de nível superior, incluindo a capacidade de planejar, organizar, iniciar, automonitorar e controlar as próprias respostas para atingir um objetivo. Os 66% restantes estão uniformemente distribuídos entre os outros três lóbulos: parietal, temporal, occipital.

Em relação às diferenças entre os sexos, os pesquisadores descobriram que a massa cerebral dos homens era 15% maior que as das mulheres, mas o número de neurônios no córtex era semelhante nos dois sexos: aproximadamente 10 bilhões.

Eles também descobriram que os homens possuíam mais células neuronais no córtex occipital, área do cérebro responsável pelo processamento visual. As mulheres, por sua vez, tinham maior densidade neuronal no lobo frontal do cérebro, área responsável para a resolução de problemas, motivação, planejamento e atenção.

Estudos anteriores realizados pelo mesmo grupo identificaram 50% mais neurônios no bulbo olfatório nas mulheres, região do cérebro especializada no processamento de sinais moleculares que levam ao sentido do cheiro. Enquanto os homens têm 34% mais neurônios no lobo temporal medial.

Lent é categórico em dizer que o novo estudo não permite fazer qualquer associação nesse sentido porque o número de neurônios não se correlaciona necessariamente com a função. No entanto, ele pode servir como base para trabalhos posteriores.

— Esse é um trabalho normativo, que quantifica o número de células em diferentes regiões cerebrais humanas. Mas é muito difícil estabelecer um paralelo com as funções. Temos que ter cuidado ao interpretar essa diferença entre os sexos — pontua o pesquisador.

Evidências científicas sugerem que homens têm melhor desempenho em tarefas de percepção visual do formato, local, movimento ou velocidade das coisas no espaço físico e à interação com elas, enquanto as mulheres se destacam em tarefas linguísticas. Por outro lado, algumas doenças são mais frequentes em mulheres, como transtorno depressivo, transtornos alimentares e Alzheimer, enquanto outras, como transtorno do espectro autista, esquizofrenia e o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) são mais prevalentes em homens.

O impacto da idade

Além das diferenças entre os sexos, os pesquisadores avaliaram se o envelhecimento saudável, chamado senescência, influencia o número de células no córtex cerebral. em que foi identificada uma diminuição da massa cerebral com a progressão da idade.

Em ambos os sexos, a pesquisa selecionou somente casos em que foi identificada uma diminuição da massa cerebral com a progressão da idade. É importante ressaltar que a massa cerebral também possui relação com o nível de escolaridade e com comorbidades tais como hipertensão e problemas cardíacos.

Os resultados mostraram que há uma preservação do número de neurônios em todo o córtex com o aumento da idade. Por outro lado, houve diminuição no número de células de suporte, como as células da glia.

— No caso de jovens e idosos, ficamos surpresos com a descoberta de que o número de neurônios não diminui muito no córtex cerebral com a idade, ao contrário do que esperávamos. Isso significa que talvez a resiliência dos neurônios possa variar com as pessoas, e explicar a chamada "reserva cognitiva" que caracteriza alguns idosos que mantêm suas capacidades cognitivas intactas até idades avançadas — avalia Lent.

No envelhecimento, a justificativa para a função cerebral não acompanhar no mesmo passo a diminuição da massa cinzenta se apoia na chamada reserva cognitiva, que se refere à capacidade do órgão de manter um desempenho cognitivo saudável, apesar dos efeitos do envelhecimento ou até mesmo de lesões cerebrais ou doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.

A boa notícia é que essa reserva cognitiva também pode ser estimulada em qualquer idade. Manter-se em aprendizagem constante, estudando ao longo da vida, aumenta a probabilidade de desenvolvê-la. Atividades como a leitura e a escrita também são enriquecedoras, e existem estudos que apontam o papel do exercício físico e da interação social nesse processo.

De acordo com os pesquisadores, esses resultados servem como base para pesquisas quantitativas que busquem investigar a composição do córtex cerebral e podem ajudar no entendimento de diferentes condições que afetam o cérebro humano, desde questões psiquiátricas até danos neurológicos causados por traumas ou por doenças neurodegenerativas.

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