O oficial Rudolf (Christian Friedel) e sua esposa, Hedwig (Sandra Hüller), são um casal dedicado à família. Eles criam uma rotina agradável para os filhos numa casa bonita com jardim, piscina e tudo do bom e do melhor. Recebem amigos, são rígidos com a arrumação e se orgulham de serem um exemplo para a vizinhança.
- Fique por dentro: siga o Rio Show no Instagram (@rioshowoglobo), assine a newsletter semanal e entre na comunidade do WhatsApp
- 'Madame Teia', 'Bob Marley', 'Zona de interesse' e mais: os filmes em cartaz no Rio
Mas é justamente essa vizinhança que faz toda a diferença e torna o filme dirigido por Jonathan Glazer (com roteiro a partir de um romance de Martin Amis) um original estudo sobre a perversidade do nazismo: Rudolf é comandante do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, e sua casa dos sonhos é colada ao muro do terreno em que centenas de milhares de judeus são presos, torturados e assassinados.
Ao expor a vida aparentemente comum do casal de protagonistas, o longa -- e indicado a cinco Oscars, inclusive melhor filme -- esbarra no conceito da “banalidade do mal”, de Hannah Arendt, que defendia que atrocidades poderiam ser cometidas por qualquer um, desde que fossem normalizadas por estruturas sociais e políticas.
Mas, assim como muitos criticam a teoria de Arendt por possivelmente reduzir a responsabilidade individual, o filme enfileira elementos que nos lembram que nada daquilo era trivial. Os sons vindos do campo de concentração são um pano de fundo para a família, uma lembrança constante da crueldade exercida a mando e ao lado deles. Em outros momentos, aparece fumaça no horizonte, logo após Rudolf discutir com um engenheiro o projeto dos fornos crematórios criados para matar judeus.
“Zona de interesse”, assim, convida o espectador a seu próprio julgamento moral.