O corpo é um elemento central no cinema do grego Yorgos Lanthimos. Seus personagens sempre expõem feridas, cicatrizes e mutilações. Além de destacar essas marcas externas, o diretor revela, com frequência, os corpos por dentro através de imagens de órgãos. Mostra, desse modo, a estrutura de funcionamento da máquina humana. Uma estrutura exata que, porém, não tem como ser plenamente controlada devido à instabilidade dos sentimentos.
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Bella (Emma Stone) é um experimento de Godwin (Willem Dafoe) — apelidado, de maneira sugestiva, de God/Deus —, um representante da ciência que evita as emoções, mas acaba se deparando com elas. God salva Bella ao implantar nela um cérebro de bebê e fazê-la renascer. A partir de dado momento, ela proclama independência. Rompe com a clausura determinada por God e sai em viagem por diferentes países. Na bagagem, nenhuma submissão aos códigos de comportamento da sociedade e total capacidade para lidar com homens autoritários. Dois, em especial, atravessam seu caminho: o tolo e vaidoso Duncan (Mark Ruffalo) e o violento e cruel Alfie (Christopher Abbott).
A temática da mulher que se impõe num mundo dominado pela opressão masculina é fundamental, mas não propriamente nova. A originalidade aqui está na forma de contar a história. Nessa adaptação do livro de Alasdair Gray (com evidente inspiração em “Frankenstein”, de Mary Shelley), Lanthimos apresenta a jornada de amadurecimento de Bella com boa dose de humor e exuberância visual. Acostumado a confinar seus personagens em espaços fechados, o cineasta coloca o espectador diante de uma sucessão de ambientes excêntricos e investe na alternância entre cor e preto e branco. Tanta inventividade rendeu a “Pobres criaturas” o Leão de Ouro em Veneza e 11 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme.