Web Summit Rio
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Impactada pelo desastre de Mariana (MG) em 2015, causado pelo rompimento de uma barragem de rejeitos da Samarco, a bacia do Rio Doce deve ter 4.200 nascentes recuperadas até 2027 por um programa do Instituto Terra, organização sem fins lucrativos fundada pelo fotógrafo Sebastião Salgado. Com o objetivo de mudar a cultura agro no Brasil, o Terra Doce, como o projeto foi batizado, também visa implementar, no mesmo prazo, 1.050 hectares de sistemas agroflorestais — que combinam produção de alimentos com plantas nativas da floresta — em 600 pequenas e médias propriedades rurais. A ideia é restaurar o meio ambiente para tornar as terras mais produtivas e aumentar a renda das famílias da região.

Presidente do Instituto Terra e filho de Sebastião Salgado, o cineasta Juliano Salgado disse no Web Summit Rio que a diminuição das chuvas — efeito das mudanças climáticas — e a forma como se cria gado no Vale do Rio Doce tornaram a seca uma ameaça. Como o solo é pisoteado continuamente pelos animais, ele se torna mais compacto, o que dificulta a penetração da água nos lençóis freáticos, responsáveis por alimentar os rios.

Financiamento alemão

Para restaurar uma nascente, é feito o plantio de 500 árvores em volta dela. As raízes permitem que a água das chuvas penetrem mais facilmente no lençol freático e protegem a nascente da erosão.

— Em uma fazenda de dez hectares, onde uma família cria quatro ou cinco cabeças de gado, quando a água volta, a terra fica mais fértil. E aí eles podem plantar cacau e café também. Uma terra que seria pequena para o gado se torna grande para o cultivo dessas espécies— explicou Salgado. — Hoje, no Vale do Rio Doce, temos uma média de 0,6 cabeça de gado por hectare. Isso é ridículo em termos de produtividade. Então algo tem que mudar no jeito de produzir.

Inicialmente, o Terra Doce concentrará esforços em 21 municípios de Minas Gerais e sete do Espírito Santo, incentivando uma transformação cultural. Com ecologia e agronegócio caminhando juntos, o projeto prevê incremento de até 30% na receita de pequenos e médios produtores.

— Nosso modelo fomenta um capitalismo verde. Quando a renda das pessoas aumenta, elas podem gastar mais no comércio local. Os comerciantes também passam a comprar mais, e por aí vai. Esse dinheiro tem efeito multiplicador na economia — destacou.

O Instituto Terra vem estudando parcerias para potencializar as ações do programa com uso de inteligência artificial na automatização de drones e no monitoramento pluviométrico.

O projeto é financiado pelo governo alemão, por meio do banco de desenvolvimento KfW. A primeira fase, até 2027, custará € 15 milhões. A meta é consolidar a metodologia nesse período e criar um modelo reprodutível em outras regiões do Brasil e do mundo. Uma segunda etapa prevê a restauração de 50 mil nascentes e a implementação de 10.050 hectares de agrofloresta de 2028 a 2034, quando a expectativa é ter o apoio financeiro do governo brasileiro.

— A questão da ecologia foi polarizada, e isso nunca deveria ter acontecido. Quando acaba a água, acaba para o agricultor conservador, o progressista e aquele que não se interessa por política. Estamos vivendo uma catástrofe, e polarizar isso também é uma catástrofe — afirmou.

A cobertura do Web Summit Rio 2024 na Editora Globo é apresentada pelo Senac RJ e Itaú, com o apoio da Prefeitura do Rio | InvestRio.

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