Rio
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Os três adolescentes negros vítimas de uma abordagem racista em Ipanema, na Zona Sul do Rio, voltaram para Brasília na tarde desta segunda-feira. Segundo Rhaiana Rondon, mãe do jovem branco que acompanhava o grupo, o rapaz foi ouvido pela Polícia Civil neste final de semana. No entanto, a mulher aponta não ter certeza se os outros rapazes, que são estrangeiros, prestaram depoimento. Dois deles são filhos de diplomatas do Gabão e de Burkina Faso.

— Meu filho foi ouvido pela polícia no sábado. Os agentes foram até eles e colheram o depoimento. As mães de dois dos meninos ficaram bastante abaladas e vieram até o Rio para acompanhar a situação, eles não queriam que eles falassem sem a presença de um psicólogo. Eles deixaram o Rio hoje, às 12h. Acredito que agora eles podem ser ouvidos de maneira remota — conta Rhaiana.

Segundo Rhaiana, o filho, que estuda numa escola francesa com os meninos, ligou bastante abalado após a abordagem. A mulher relata que os adolescentes ficaram com medo de sair de casa:

— Eles estavam bem eufóricos. Eu estava longe, então fiquei monitorando tudo a todo momento. Falei para eles não ficarem na rua durante a noite. Algo que me marcou muito foi quando o meu filho disse que depois da abordagem os policiais não encontraram nada e falaram que se eles fossem parados novamente a "enquadrada" seria mais séria. Eu fiquei preocupada porque fiquei com medo de, depois da repercussão, esses policias buscarem se vingar. Eles mesmos ficavam apreensivos quando viam uma viatura na rua.

Ainda de acordo com Rhaiana, os meninos vieram para o município aproveitar o final de semana e conhecer os pontos turísticos. Neste domingo, os rapazes, que planejavam a viagem há meses, tiraram um tempo para aproveitar a cidade.

— Eles já estavam bastante cansados com toda essa situação. Ontem incentivei que eles finalmente fossem curtir e aproveitar um tempo como adolescentes. Quando eles planejaram viajar para o Rio, o meu filho estava louco para mostrar tudo de lindo que a cidade tem, mas eles acabaram tendo essa experiência traumática logo no primeiro dia — destaca Rhaiana.

Armas apontadas para a cabeça

O filho de Rhaiana contou que durante a abordagem os policiais militares mantiveram as armas apontadas para as cabeças dos três meninos negros, enquanto apalpavam as crianças e perguntaram de forma ríspida o que eles estavam fazendo ali. A atitude truculenta dos agentes deixou os meninos ainda mais nervosos, já que não conseguiam entender o que eles diziam, pois não falam português.

Além do Itamaraty, o caso foi relatado pelos pais aos consulados do Canadá, Gabão e Burkina Faso, países de origem dos três jovens negros.

A embaixatriz do Gabão, Julie Pascali Moudouté, enviou uma carta de protesto ao Itamaraty. Em entrevista ao RJ2 da TV Globo, a diplomata questionou a conduta da PM.

"A polícia está aqui para proteger. Como é que você pode colocar arma na cabeça dos meninos de 13 anos? Como que é isso? (...) Você me aborda, você me pergunta. e depois você me diz do que você está reclamando. Mas você não sai com arma e me coloca na parede! A gente crê na Justiça brasileira e a gente quer justiça. Só isso".

Imagens analisadas

Em nota, a Polícia Militar informou que os policiais envolvidos na ação portavam câmeras corporais e que as imagens serão analisadas para constatar se houve algum excesso por parte dos agentes.

A corporação reforçou ainda que em todos os cursos de formação, "a Secretaria de Estado de Polícia Militar insere nas grades curriculares como prioridade absoluta disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais para as praças e oficiais que integram o efetivo".

'Conduta inadmissível'

A presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, deputada estadual Dani Monteiro, disse que a conduta dos PMs é inadmissível e que só comprova que o preconceito permeia as ações policiais.

— É inadmissível que, em pleno século XXI, ainda nos deparemos com cenas de tamanha violência e racismo institucional e estrutural. Esta é mais uma reprodução cotidiana sofrida por jovens negros fluminenses. A abordagem da Polícia Militar é marcada pela truculência com a população preta, de quem age primeiro com a força, mesmo quando a abordagem é com meninos filhos de diplomatas. E isso demonstra o preconceito que permeia nossa sociedade, especialmente em ações policiais.

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