No dia 13 de junho, o Cense Dom Bosco, unidade socioeducativa localizada próxima ao Morro do Barbante, o único da Ilha do Governador que pertence ao Comando Vermelho, enviou um comunicado à Secretaria Municipal de Saúde (SMS), informando que "nenhum agente de segurança socioeducativo aceita realizar a missão de atividade externa consistente em levar qualquer adolescente para atendimento médico". A justificativa é de que a clínica que recebe os jovens está localizada em uma área amplamente conflagrada, o que oferece risco aos funcionários e aos adolescentes. No mês passado, um dos internos conseguiu fugir após receber apoio de um homem na saída do posto de saúde.
Segundo o documento, os agentes saíam de uma consulta de rotina com um adolescente quando notaram a presença de um homem apoiado "quase na porta da viatura". Quando o funcionário foi abrir a porta, o homem disse ao adolescente: "Chegou a liberdade, menor". O adolescente conseguiu dar um "solavanco" com a algema e fugir para a comunidade do Barbante, deslocando o pulso de um funcionário durante a fuga. A clínica da família fica a 900 metros da unidade do Cense, um trajeto que leva cerca de 2 minutos de carro.
No dia seguinte à fuga, os funcionários se preparavam para levar outro adolescente ao posto de saúde para realizar um exame de sangue quando ouviram tiros na região. Para evitar riscos, decidiram cancelar a saída, sem saber que a data seria marcada por confrontos após uma operação da Polícia Militar. No documento enviado à SMS, a direção do Dom Bosco questiona se o grupo estaria vivo caso tivessem saído naquela manhã.
"Não podemos ser negligentes em colocar tanto os socioeducandos quanto os agentes envolvidos nessa atividade em risco de suas próprias vidas", diz um trecho do documento.
Além do risco de balas perdidas, a briga entre facções no Rio é uma preocupação constante para a equipe do Cense. Segundo um funcionário ouvido pelo GLOBO, há adolescentes de várias organizações criminosas cumprindo medida no Dom Bosco, e todos frequentam a mesma unidade de saúde. Ele acredita que essas saídas colocam em risco a integridade dos agentes e dos internos.
— Precisamos levar um interno do Terceiro Comando para uma unidade de saúde em uma área dominada pelo Comando Vermelho, o que é um risco para todos. Ninguém quer fazer esse trabalho — explica ele.
Como solução para o problema, o documento assinado pela direção da unidade pede que os atendimentos sejam transferidos para outra clínica de saúde ou que os profissionais façam o atendimento no próprio Dom Bosco. Por nota, o Departamento Geral de Ações Socioeducativas afirmou que o caso vem sendo tratado junto ao Ministério Público “visando a adoção de medidas legais e providências junto ao Poder Judiciário”. Eles também disseram que o atendimento está sendo realizado dentro das unidades socioeducativas.
Em entrevista ao RJ1 sobre a operação desta quinta-feira, o secretário Marcus Amim afirmou ser um compromisso do Governo do Estado retomar o controle territorial das áreas dominadas pelo crime organizado no Rio:
"O controle territorial e o monopólio do exercício da violência é privativo do estado. Quem manda no estado do Rio de janeiro é a população fluminense. Quem ousar desafiar o estado nesse sentido vai receber a reprimenda do estado. A garantia que vamos dar é de que continuaremos trabalhando na Ilha do Governador e em outras regiões ligadas ao tráfico de drogas ou a grupo paramilitar. Quem tentar exercer influência ou dominar territórios receberá uma ação veemente do estado por parte da polícia do estado e da polícia militar", afirmou.
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