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Por — Rio de Janeiro

O campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica, na Baixada Fluminense, é um dos maiores da América Latina. Com mais de três mil hectares, tem sete vezes a área da Ilha do Fundão, onde fica a cidade universitária da UFRJ, na Zona Norte do Rio. Mesmo num espaço bucólico, cercado de verde e prédios históricos, a comunidade acadêmica vive sob tensão desde a morte do estudante de ciências biológicas Bernardo Paraiso, de 24 anos, há duas semanas, durante um confronto entre milicianos rivais no centro do município. A guerra, que se intensificou nos últimos meses, aproxima-se cada vez mais da rotina de estudantes e professores.

— Essa violência mexeu muito com o meu psicológico. Estou assustada, ando sempre com medo. É horrível pensar que saímos de casa para estudar e podemos voltar mortos. Sempre foi meu sonho estudar em uma faculdade federal, mas infelizmente vou para uma particular — lamenta a aluna de ciências agrícolas Larissa Campos, de 20 anos.

A estudante de letras Júlia Luz, de 23 anos, foi morar em Seropédica em 2018, quando começou o curso de jornalismo na universidade. Hoje, na segunda graduação pela Rural, ela diz que o cenário se transformou ao longo dos anos:

— Quando era caloura a iluminação ruim, atrelada à falta de vigilância e ao mato alto, resultavam em um prato cheio para várias violências. Havia muitas denúncias de estupro. Mas acho que a situação no campus melhorou, enquanto na cidade foi o contrário — afirma a estudante.

Origem em 2014

Professor do Departamento de Ciência Sociais da Rural, José Cláudio Souza Alves, que pesquisa o avanço das milícias no estado, explica que os paramilitares começaram a ocupar bairros de Seropédica em 2014. Em pouco mais de quatro anos, segundo ele, os bandidos já controlavam todo o município da Baixada.

— Esse tipo de dominância não se desenvolve do nada. Há anos que esses grupos causam mortes aqui na região. Recentemente, a violência se intensificou com a fragmentação e a disputa interna no próprio grupo — destaca o sociólogo, autor do livro “Dos barões ao extermínio: uma história da violência na Baixada”.

Em comparação com outros cenários da cidade, a milícia de Seropédica era considerada, até alguns meses atrás, “discreta”. Relatos de moradores e investigação da Polícia Civil dão conta de que antes do racha, no início do ano, o grupo paramilitar funcionava com unidade e sem grandes confrontos. Até que o miliciano Tauã de Oliveira Francisco, conhecido como Tubarão, foi morto pela polícia em fevereiro.

A UFRRJ — Foto: Editoria Arte
A UFRRJ — Foto: Editoria Arte

Quem ficou no lugar de Tubarão foi seu braço direito, Ricardo Coelho da Silva, o Cientista, que acabou morto um mês depois. Com as duas mortes, Jefferson Araújo dos Santos, o Chica, tentou assumir o comando. Porém, a aliança com uma facção do tráfico e a tentativa de tomar um território do grupo rival teriam gerado uma crise interna e instaurado uma verdadeira guerra. Segundo investigações, três grupos atuam na região atualmente: o do Chica, o do miliciano Gilson Ingrácio de Souza Júnior, o Varão, e o bando de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, hoje preso.

Foi em mais um episódio desta guerra, em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, que Bernardo Paraiso morreu. Ele estava em frente a um mercado quando foi baleado. Rosiane Claudino de Freitas, de 34 anos, e seus dois filhos, de 1 e 3 anos, também foram atingidos. A menina mais velha segue internada, mas estável.

Cartuchos encontrados dentro de um mercado em Seropédica. — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Cartuchos encontrados dentro de um mercado em Seropédica. — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

A., de 34 anos, estuda engenharia florestal na universidade desde 2019. Ele mora em uma república e conta que, desde que se mudou, já presenciou pelo menos três assassinatos. Apesar de ter visto de perto a violência da milícia, ele nunca sentiu tanto medo.

— A sensação é que a qualquer momento outra guerra pode estourar do nada. Nós não temos nenhuma garantia de segurança para continuar a nossa rotina. Antes, eu ainda saía à noite com meus amigos porque existia uma falsa “segurança”, por Seropédica ser um local mais pacato. Porém, tudo mudou — diz ele, que prefere não se identificar.

Verba para a segurança

A área de Residência Estudantil da UFRRJ fica na parte de trás do prédio principal da instituição. Para chegar lá, é necessário usar um caminho de terra, com pouca vigilância. Como a universidade é caracterizada por seu espaço aberto e (supostamente) bucólico, há diversas formas de entrar no campus — algumas delas sem qualquer controle. Khiaro Aymara, de 22 anos, está no 4º período de filosofia e mora no alojamento da faculdade. Ele conta que a grande circulação de pessoas pelo campus gera muita insegurança:

— A gente fica à mercê de uma cidade que está em guerra. Se colocassem câmeras de vigilância nos corredores e nas entradas dos alojamentos, já melhoraria.

O vice-reitor César Augusto Da Ros afirma que o tamanho da universidade é um desafio para a segurança e a vigilância desde sempre, além da distância entre os prédios e dificuldades orçamentárias. Atualmente, a Rural tem 239 vigilantes, distribuídos em todas as unidades: Nova Iguaçu, Três Rios, Campos e Seropédica, a maior delas.

— Trabalhamos com a expectativa de que não aconteça nada assim novamente, mas estamos colocando esforços em buscar soluções para melhorar nossa segurança. Logo após os últimos eventos fizemos um pedido de ampliação orçamentária de R$ 3 milhões para investir em segurança privada, veículos de ronda, fortalecimento do monitoramento interno (instalação de câmeras) e implantação de alarmes — detalha Da Ros.

A prefeitura de Seropédica informou “que busca agenda com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para conseguir a implantação de um posto fixo da Polícia Rodoviária Federal próximo ao campus” e o apoio da Força Nacional. Além disso, está em diálogo com o governo estadual sobre a segurança.

A UFFRJ

A UFRRJ nasce com a criação da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária (Esamv), em 1910, época em que o Rio ainda era capital federal.

A primeira sede da instituição, o antigo palácio do Duque de Saxe, localizado no bairro do Maracanã, durou pouco: foi fechada em 1915.

Tentativas de preservar a Esamv a fizeram trocar de endereço várias vezes. De Pinheiro (hoje Pinheiral), no interior do estado, foi depois transferida para Niterói, onde permaneceu por oito anos. Em 1927, foi instalada num edifício do Ministério da Agricultura, na Praia Vermelha.

Em 1938, após mudanças na estrutura e nova divisão na organização da escola, decidiram construir um novo campus para a instituição, no km 47 da antiga Estrada Rio-São Paulo. A inauguração aconteceu em 1947, mas só em 1967 o lugar passou a se chamar Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Com o tempo, o campus ganhou novos cursos e influenciou no desenvolvimento de Seropédica. Hoje, oferece disciplinas de várias áreas e tem unidades em outros três municípios do Estado do Rio: Nova Iguaçu, Três Rios e Campos dos Goytacazes.

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