O I Tribunal do Juri do Rio absolveu nesta quinta-feira quatro acusados do assassinato da diarista Edmea da Silva Euzébio, uma das líderes do movimento Mães de Acari. O grupo lutava para conseguir localizar os corpos de de11 jovens de Acari, entre eles sete menores, sequestrados em 1990 e que nunca mais reapareceram. Edmea foi emboscada e morta a tiros, no estacionamento do metrô da Praça Onze, em 15 de janeiro de 1993.
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Os absolvidos são os policiais militares Eduardo José Rocha Creazola, Arlindo Maginário Filho, Adilson Saraiva Hora e o motorista Luis Claudio de Souza, que na época trabalhava para a prefeitura do Rio. O Ministério Público pediu a absolvição dos acusados por insuficiência de provas
Edmea teria sido morta por ter conseguido novas informações que localizariam os adolescentes de Acari, um deles seu filho. O caso, que chegou a ser arquivado, sofreu uma reviravolta em 2011, após o depoimento de uma nova testemunha. Ela contou que a reunião para matar Edmea teria ocorrido no gabinete do então deputado estadual Emir Larangeira, na Alerj. Em 2022, a Justiça entendeu que o crime havia prescrevido e o ex-deputado não foi julgado.
As mães de Acari
Há mais de 30 anos, um grupo de mulheres se uniu para cobrar respostas para o desaparecimento de onze jovens após eles terem sido abordados por supostos policiais em um sítio em Magé, na Baixada Fluminense, um crime que ficou conhecido como a Chacina de Acari. As mães dos desaparecidos se mobilizaram para investigar o caso e pedir a punição dos responsáveis. Apesar de o caso ter sido arquivado por falta de provas, elas criaram uma articulação até então inédita e que influencia até hoje a forma como mães que também perderam seus filhos para a violência cometida por agentes do Estado lutam por Justiça.
As Mães de Acari, como eram conhecidas, eram lideradas por Edméia da Silva Euzébio, mãe de Luiz Henrique da Silva Euzébio (16 anos), Vera Lúcia Flores Leite, mãe de Cristiane Souza Leite (17 anos), e Marilene Lima de Souza, mãe de Rosana Souza Santos (17 anos).
Além destes três jovens, também desapareceram no dia 26 de julho de 1990 Hudson de Oliveira Silva, 16 anos, Edson Souza Costa, 16 anos, Antônio Carlos da Silva, 17 anos, Viviane Rocha da Silva, 13 anos, Wallace Oliveira do Nascimento, 17 anos, Hédio Oliveira do Nascimento, 30 anos, Moisés Santos Cruz, 26 anos, e Luiz Carlos Vasconcelos de Deus, 32 anos.
De acordo com investigações da época, os jovens teriam sido sequestrados por homens que se identificaram como policiais. Daí em diante, pouco se sabe do que aconteceu. Os corpos nunca foram encontrados. Por falta de provas, o inquérito foi encerrado em 2010 sem que ninguém fosse indiciado pelo crime.
Sem respostas para o paradeiro de seus filhos, as Mães de Acari cobraram as instituições e investigaram o caso por conta própria, levando suas denúncias para outros fóruns e organizações no Brasil e em outros países — elas chegaram a ser recebidas pela primeira-dama da França, Danielle Miterrand. A metodologia de atuação criada por elas se repete até hoje quando familiares de vítimas de violência do Estado buscam esclarecimentos e Justiça.
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