Terezinha de Jesus, mãe do menino Eduardo de Jesus, morto por um tiro disparado por um policial no Complexo do Alemão em 2015, renovou as esperanças quanto ao andamento das investigações do caso, desarquivado em 2023. Ela lembrou que Rivaldo Barbosa, delegado preso na operação Murder Inc. e chefe das investigações na época (o responsável direto era Alexandre Herdy), teve atitudes semelhantes às que teve com a família de Marielle Franco após a morte da vereadora, pela qual foi responsabilizado de ser o mandante junto com Chiquinho Brazão e Domingos Brazão.
— Agora o caso do meu filho vai dar uma boa acelerada. Na época (da abertura do inquérito), o delegado disse que ia tratar o caso do meu filho como prioridade, que ia fazer justiça. Eu acreditei e confiei num bandido. Eu não sabia que ele era bandido, mas hoje está comprovado. Agora estou com esperança do caso do Eduardo desenrolar. No dia que ele chegou à minha casa, eu não queria recebê-lo porque eu tinha acabado de perder meu filho, estava igual a uma onça. E um bandido da pesada entrou na minha casa para mentir para mim. Ele mentiu. Não investigou a morte do meu filho — diz Terezinha de Jesus, empregada doméstica.
![Terezinha de Jesus, mãe de Eduardo de Jesus Ferreira, luta por justiça pelo filho, morto em 2015 — Foto: Ana Branco e Marcia Foletto/Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/yNIsrNDy-y7yFsw033Ba3zK6uSI=/0x0:730x412/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/B/k/87JOtaQAaT9TBJTWJp6A/eduardo.jpg)
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O inquérito foi arquivado em 2015, após Rivaldo Barbosa, responsável pelo caso, dizer que o PM que fez o disparo que matou a criança de 10 anos, durante uma troca de tiros com traficantes do Alemão, agiu em legítima defesa. Apenas o PM Rafael de Freitas Monteiro Rodrigues foi a julgamento, mas acabou inocentado. Terezinha sempre negou que houvesse tiroteio no momento em que o filho foi baleado. E novas provas foram anexadas por sua defesa para comprovar que não houve confronto na comunidade.
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— Ele (Rivaldo) me lesionou, mentiu para mim e disse que tinha investigado. Mas encerrou como legítima defesa. Hoje sei que ele não é um delegado, ele é um bandido mesmo. Depois que ele finalizou o inquérito como legítima defesa e disse que não sabia de qual arma tinha partido o tiro que matou meu filho, eu já passei a não acreditar mais nele e a crer que ele não fez a investigação como tinha que ser feita. A arma que matou meu filho foi a arma 2, de Marcus Vinicius Bevitori. Ele não fez a denúncia contra ele, só contra Rafael Freitas — revolta-se a Terezinha.
Após o desarquivamento, serão colhidos novos depoimentos e será retomada a investigação. Em nota, o Ministério Público do Rio de Janeiro explica:
"O procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, recebeu comunicação com notícia de prova nova e determinou o desarquivamento da investigação que, pelos critérios de distribuição do Núcleo de Investigação Penal (NIP/MPRJ), foi remetida para a 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro. Considerando a determinação do PGJ de prosseguimento da investigação, foi instaurado Procedimento de Investigação Criminal (PIC), com o início da tomada de novos depoimentos e retomada da investigação a partir dessas novas provas".
Procurado, Alexandre Dumans, advogado de Rivaldo Barbosa, não respondeu às solicitações.
Caso Johnatha
Em 2014, o jovem Johnatha de Oliveira Lima, de 19 anos, foi morto com um tiro nas costas pela polícia. Na época, Rivaldo Barbosa já estava na Delegacia de Homicídios da Capital, embora não ocupasse o cargo de chefia. O episódio teve intensa pressão de redes de ativistas e da mãe do jovem, Ana Paula Oliveira, por justiça.
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Um relatório dez anos anos após o episódio informou que o local não foi preservado, que a vítima foi socorrida para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Manguinhos, favela da Zona Norte do Rio, e que o esquema fotográfico do local do crime não tinha imagens, já que a cena tinha sido desfeita. Mas as diligências levaram à acusação do PM Alessandro Marcelino de Souza. O crime foi a julgamento no 3º Tribunal do Júri da Capital e Alessandro teve condenação por homicídio culposo (quando não há intenção de matar). O crime será julgado pela Justiça Militar.
Ana Paula Oliveira reagiu aos prantos à decisão, no início de março:
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— É culpa da sociedade esses vermes continuarem matando nossos filhos. Eu estou aqui com a dor de ter meu filho assassinado. Meu filho foi assassinado com um tiro nas costas. Essa luta não pode ser só minha, por que fizeram isso com o meu filho? — questionou, aos prontos.
![Ana Paula, mãe de Johnatha, chora durante o julgamento, ao lado da mãe de Marielle Franco, Marinete da Silva — Foto: Bruna Martins](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/7t8y7bN-dRxtgIVi9tzED3Lp674=/0x0:1600x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/q/Q/nlQbe8SOOPFlfnrGxj0Q/whatsapp-image-2024-03-06-at-19.19.33.jpeg)
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