Moradores da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio, terão que aprender a conviver com o cheiro de diesel e o barulho dos geradores que estão espalhados pelas ruas da região. Os quase cem equipamentos alugados pela Light para manter o fornecimento de energia, principalmente para serviços essenciais, deverão ser usados até o fim deste ano, quando está prevista a conclusão da troca de cabos com defeito. Enquanto isso, moradores enfrentam apagões diários. No domingo, o abastecimento será suspenso em toda a ilha das 6h ao meio-dia para nova etapa de obras. Hoje, três bairros serão afetados. Segundo a concessionária, essas interrupções são temporárias, em trechos restritos para a execução das obras, e os moradores são avisados previamente.
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A cada corte de energia, no entanto, Bruno Schiaffarino, de 30 anos, entra em pânico. Ele mora na Portuguesa com a mãe, Maria Ester de Oliveira, de 60 anos, que é diabética, e a avó, Aderly Schiaffarino, de 82 anos, que sofre de demência senil e está acamada. O condomínio deles está sendo abastecido por um gerador pago pela Light.
— Foi torturante ficar sem luz, e só esta semana foram umas três vezes. Por conta do calor forte, a gente tentava vir para a rua para se refrescar. Minha avó passou muito mal e chegou até a desmaiar. Minha mãe perdeu insulina que precisa ficar na geladeira. Sempre que abríamos uma reclamação, a Light dizia que era um problema de manutenção, um problema que até agora eles não resolveram. Se desligarem o gerador, vamos ficar no escuro. Isso é um absurdo para quem paga a conta em dia — disse Bruno.
Solução só no fim de 2025
A Light afirma que está fazendo “todos os esforços para acelerar as obras que trarão a solução definitiva” para a Ilha do Governador e a Ilha de Paquetá. As duas áreas serão “atendidas por um sistema elétrico extremamente robusto” até o fim de 2025, diz a concessionária. No caso da Ilha do Governador, a energia é levada do continente por seis cabos, divididos em dois conjuntos de transmissão submersos na Baía de Guanabara.
O GLOBO apurou que, em agosto de 2023, a Light identificou a necessidade da renovação dessa rede. Um planejamento foi desenhado e o material encomendado para a realização das obras. Mas, nos últimos dois meses, dois dos seis cabos apresentaram defeitos — sendo que um ficou totalmente inoperante. Com a alta do consumo devido ao calor intenso e a restrição na rede, houve uma sobrecarga no sistema. Na Ilha, a estimativa é que 35% da energia seja furtada.
O paliativo encontrado para não deixar a região às escuras foi alugar geradores e instalar uma linha aérea alternativa, com cem postes e 50 quilômetros de fiação, passando pela Ponte Governador Leonel Brizola — que liga a Ilha à Linha Vermelha. Com a nova rede em operação, o que está previsto para este mês, um dos conjuntos de cabos submersos será desenergizado e trocado por um novo. O segundo só será substituído só em 2025. O serviço é considerado bem complexo pelos técnicos da empresa.
A rotina de apagões fez explodir o número de reclamações de consumidores à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mês passado foram 1.724 denúncias de cortes na cidade do Rio contra a Light — um aumento de 53% em relação a janeiro de 2023. A agência diz que monitora a situação na Ilha.
— Moro no Tauá. No meu bairro, a luz sempre vai embora à noite. Já tive que trabalhar vários dias virada de sono por não conseguir dormir devido ao calor. É revoltante isso. Quase todos os dias, a Light manda um aviso ou liga dizendo que vai cortar a luz para fazer manutenção. No vizinho, queimou televisão e ar-condicionado — contou a recepcionista Cristina Bordinhom, de 54 anos.
O engenheiro José Roberto Ribas, especialista em geração de energia elétrica e professor da Escola Politécnica da UFRJ, explica que problemas na rede elétrica são causados principalmente por sobrecarga.
— Janeiro é um mês com o uso intenso de aparelhos de ar-condicionado e é comum ocorrerem condições climáticas desfavoráveis. Então, falta energia, mas áreas sensíveis, como hospitais, costumam ser preservadas — diz.
A Light informou que 95 geradores estarão operando na Ilha do Governador nos próximos dias. Além de garantir a energia para os consumidores, o equipamento reduz a sobrecarga no sistema. Consultada pelo GLOBO, uma empresa que aluga esse tipo de equipamento informou que não tem aparelhos disponíveis no momento: metade dos 200 de que dispõe está com a Light. Os que estão sendo usados na Ilha consomem, em média, 276 litros de diesel por dia e podem abastecer 150 apartamentos, por exemplo. O aluguel para particulares pode custar R$ 10 mil por mês.
Corte em Copacabana
Geradores também foram usados pela Light para reduzir o impacto do corte de energia em Copacabana, na Zona Sul do Rio, no último domingo. Quinze mil residências ficaram quase 12 horas sem luz. No bairro, o problema também foi sobrecarga, causada por outro fator. A Light informou que um dos quatro cabos de uma galeria subterrânea do bairro foi cortado e furtado. Com o rompimento, os outros três não suportaram a carga.
Moradores do Condomínio Mirante, na Rua Santa Clara, continuam a depender de um gerador. A síndica Roseli dos Santos Oliveira, 60 anos, contou que o transformador do prédio pegou fogo na manhã de domingo. Segundo ela, 37 câmeras e luminárias precisaram ser trocadas. Um prejuízo até agora de R$ 7 mil.
— A fiação desse prédio é antiga. Ele foi construído há 40 anos e a nossa estação é dentro da garagem. A sorte é que não tinha nenhuma família na hora do incidente — disse.
Esta semana, moradores de Botafogo e Tijuca também enfrentaram cortes de energia.
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