Miliciano mais procurado do Rio de Janeiro, com 12 mandados de prisão expedidos em seu nome pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, se entregou à Polícia Federal (PF) na véspera de Natal, neste domingo, no Centro do Rio. A negociação para que isso acontecesse, no entanto, iniciou-se há pouco mais de uma semana, com "tratativas" entre a defesa do miliciano e representantes da corporação e da Secretaria estadual de Segurança Pública. A polícia trabalha com a hipótese de que antes de ser preso, o paramilitar já tenha deixado alguém em seu lugar para comandar a quadrilha.
![Número 2 de Zinho, miliciano Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão ou Teteus, foi morto numa troca de tiros com a polícia em outubro — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/-1eCDqDo5Y8iXix0y-h__fP8ORw=/0x0:888x879/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/O/l/ZRjQBjR5CGseEMBbuLHw/whatsapp-image-2023-10-23-at-3.32.30-pm.webp)
Ainda não há um consenso sobre quem estaria à frente dos negócios de Luís Antônio da Silva Braga. De acordo com fontes ouvidas pelo O GLOBO, o primeiro contato entre as partes envolvidas na negociação teria acontecido há pouco mais de uma semana, antes da Operação Batismo da Polícia Federal e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). A ação tinha como alvo a deputada estadual Lúcia Helena Pinto de Barros, a Lucinha, (PSD), uma das campeãs de votos na Zona Oeste do estado. A Operação Batismo ganhou esse nome porque investigadores, ao analisar as conversas extraídas do celular de Rodrigo dos Santos, o Latrell, preso em 2022, perceberam que o codinome “madrinha” se referia à Lucinha. Seria uma relação entre madrinha e afilhado, explica uma fonte da PF.
A decisão de Zinho de se entregar seria para tentar continuar com seus negócios criminosos e conter danos, segundo fontes da Polícia Federal. A ação que mirou Lucinha, ainda segundo essas fontes, teria representado um revés para o grupo paramilitar chefiado por ele. A advogada do miliciano procurou uma policial da recém-criada Secretaria de Segurança, pedindo o contato do delegado responsável pela Operação Batismo, que aconteceu no último dia 18. Daí, o titular da pasta, o delegado da Polícia Federal Vítor César Santos, entrou em contato com o superintendente da Polícia Federal, Leandro Almada, falando sobre a possibilidade de Zinho se entregar. O delegado da Operação Batismo ficou à frente das tratativas com a advogada do chefe da maior milícia fluminense, fechando o acordo na véspera de Natal.
![Luís Antonio da Silva Braga, o Zinho — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/IJEujnPohEeoxLdjX4L0cfSn9Do=/0x0:914x956/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/S/2/3dwYVcTkC2DGPbvA8YcQ/105340385-ri-rio-de-janeiro-rj-19-12-2023-segunda-fase-da-operacao-dinastia-o-objetivo-e-cumprir-12.jpg)
Policiais encarregados de investigar o bandido apontam três razões determinantes que teriam levado o chefe da maior milícia da Zona Oeste a se apresentar à PF. A primeira seria a perda do seu sobrinho e principal braço armado do bando, Matheus da Silva Rezende, o Faustão ou Teteus. Ele foi morto numa troca de tiros com agentes da Polícia Civil, no dia 23 de outubro. Na ocasião. Zinho determinou a queima de 35 ônibus e de uma composição ferroviária, ocorridos em bairros da região onde a quadrilha exerce forte influência. Na ação, considerada terrorista pelas fontes, chamou a atenção que nenhum veículo de transporte alternativo foi alvo, o que confirma a ação da quadrilha de Zinho.
Nos últimos três meses, o miliciano também perdeu três homens de confiança presos pela polícia, entre eles estão Delson Xavier de Oliveira, detido no fim de novembro por suspeita de ser o principal armeiro do bando paramilitar, e Marcelo de Luna da Silva, o Boquinha. Este último foi baleado e preso, em outubro, durante uma operação, em Pedra de Guaratiba, que envolveu a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e a Coordenadoria de Recursos Especiais. Por último, considerado o maior revés para Zinho, foi a deflagração da Operação Batismo, deflagrada pela Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), com o apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI). Pela PF, as investigações estão sendo conduzidas pelo Grupo de Investigações Sensíveis (Gise/RJ) e a Delegacia de Repressão a Drogas (DRE/PF/RJ).
Ministério Público do Rio de Janeiro, no dia 18, para desmantelar o braço político da milícia.
Na ocasião, a deputada estadual Lucinha foi o principal alvo da ação, que segundo investigações integraria o braço político do bando. A Procuradoria-Geral de Justiça, em decorrência do foro por prerrogativa de função da parlamentar, pediu à Justiça o afastamento da deputada. O desembargador Benedicto Abicair, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, decidiu pelo afastamento de Lucinha, cabendo à Assembleia Legislativa do Rio acatar ou não mantê-la longe da Casa. De acordo com o MPRJ, Lucinha mantinha participação ativa na organização criminosa, principalmente na articulação política, visando atender interesses do grupo miliciano.
— A morte do Faustão e a Operação Batismo foram determinantes para que o Zinho tomasse esta decisão (de se entregar). Ele perdeu o sobrinho(Faustão) que era seu braço armado, seu braço de guerra. Depois perdeu três lideranças em comunidades da Zona Oeste. Isso desarticulou o bando que foi enfraquecido e poderia até sofrer com ações de ex-integrantes. Se você for olhar lá atrás, aconteceu o mesmo com a milícia do Danilo Tandera ( Danilo Dias Lima, ex-integrante do bando de Zinho). Quando ele perdeu o irmão e homem de confiança ( Delso Lima Neto, o Delsinho, morto em troca de tiros com a polícia em agosto de 2022), ele também enfraqueceu e perdeu espaços — disse um dos policiais encarregados de investigar o bando de Zinho.
Depois de cumprir as formalidades da prisão, no domingo, Zinho foi submetido a um exame de corpo deleito, e em seguida levada para o presídio José Frederico Marques, em Benfica. Posteriormente, numa operação de emergência, a Secretaria estadual de Administração Penitenciária transferiu o bandido, com escolta de aproximadamente 50 homens para o Complexo Gericinó de Bangu, onde está recolhido à disposição da Justiça.
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