Rio
PUBLICIDADE

Por Cíntia Cruz, João Vitor Costa e Pedro Araújo — Rio de Janeiro

Na última segunda-feira, o São Luiz, embarcação que estava há seis anos atracada na Baía de Guanabara, colidiu com a Ponte Rio-Niterói, causando transtornos em ambas as cidades, além de um bloqueio completo dos dois sentidos da via por três horas. O caso do São Luiz, no entanto, não é o único. Um mapeamento feito pela Escola de Engenharia Industrial Metalúrgica da Universidade Federal Fluminense afirma que ao menos outras 58 embarcações estão abandonadas na região da Baía de Guanabara. Especialistas na área ambiental afirmam que o uso do espaço da Baía como ‘cemitério de navios’, além de inadequado, é perigoso. Além dos riscos de contato eventual com a ponte, como nessa segunda-feira, há também um risco ambiental grave.

Alexandre Anderson, presidente da Associação Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (AHOMAR), organização que reúne pescadores e ambientalistas, afirma que o risco já era apontado há anos pela associação.

— É um descaso total, poderia ter acontecido um desastre de grandes proporções. Ainda bem que não aconteceu, mas o risco ainda existe. Os pescadores da associação já vêm apontando esses abandonos há anos. Em 2013, outro navio abandonado estava basicamente no mesmo local que o São Luiz e corria esse mesmo risco. Os barcos ali correm o risco de ficar à deriva assim como aconteceu ontem — afirmou.

Outro ambientalista especializado na região, Sérgio Ricardo, cofundador do movimento Baía Livre, que atua desde a década de 1980, afirma que os barcos ancorados na Baía esperando um futuro representam risco grave ao ecossistema local, pois espalham pela água metais pesados, óleos e outras substâncias.

— Estamos alertando que é um passivo ambiental de 30 anos, um verdadeiro cemitério de navios abandonados na Baía de Guanabara. Há risco ambiental, pois boa parte das embarcações está afundada há 30 anos. Tem metal pesado, óleo pode estar vazando para a Baía e contaminando tudo, em um impacto sobre a pesca e o turismo. É uma Baía completamente assoreada — aponta o integrante do Baía Livre.

O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental do Rio de Janeiro (ABES/Rio), Miguel Fernández, ressalta que é preciso que as autoridades repensem o tipo de operação que querem na Baía de Guanabara:

— Com a perspectiva de despoluição da Baía de Guanabara, abre um novo debate sobre qual o uso se quer para esse corpo hídrico. Não dá para usar a Baía de Guanabara como estacionamento de navio velho. É risco ambiental e para as infraestruturas existentes. A Baía é um recurso hídrico e um patrimônio, principalmente para a população da Região Metropolitana.

Entre os riscos ambientais de navios abandonados na Baía de Guanabara, Fernández citou descarga ilegal de esgoto sanitário de navio, vazamento de óleo, água de lastro de navio com micro-organismos, além do risco de colisão, como ocorreu nesta segunda feira na Ponte Rio-Niterói. O engenheiro, no entanto, destaca a importância da indústria para a região.

— Não acho que a indústria tenha que sair do estado do Rio, mas até que ponto a gente quer indústria com essa proporção na Baía de Guanabara? Temos quase cem navios ancorados. É um volume grande. Queremos que esse patrimônio seja ancoradouro de navio ou vamos pensar num turismo ecológico, outros atrativos para essa região, dando destaque para essa exploração do turismo verde? Talvez esse acidente abra oportunidade de se discutir isso — avalia Fernández.

Niterói atribui à Capitania dos Portos a responsabilidade sobre o mapeamento de barcos abandonados na Baía de Guanabara. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) também informa que o "controle das embarcações ancoradas na Baía de Guanabara e abandonadas é atribuição da Marinha do Brasil".

Ibama, Marinha do Brasil e o atual Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não enviaram posicionamento até a publicação desta reportagem.

Mais recente Próxima

Inscreva-se na Newsletter: Notícias do Rio

Mais do O Globo

Ex-secretário de Casa Civil e de Meio Ambiente, deputado estadual virou homem de confiança do prefeito e ascendeu na linha sucessória

De 'plano B' a escolhido: quem é Eduardo Cavaliere, jovem de 29 anos escolhido como vice de Eduardo Paes

Segundo o New York Times, ainda não se sabe como o dispositivo foi escondido em um complexo fortemente vigiado pela Guarda Revolucionária iraniana na capital

Líder do Hamas morreu por explosão de bomba plantada em acomodação no Irã há meses, diz jornal americano

Deputado não tinha apoio da própria sigla, que deve oficializar aliança com o atual prefeito no sábado

Kim Kataguiri abandona candidatura, declara 'voto útil' em Nunes e critica União Brasil: 'Não desisti, fui desistido'

"O que Rebeca Andrade nos mostra é a perfeição. O casamento de graça, potência, precisão, elasticidade, suavidade – isso é a perfeição, tem um eco quase divino, é quase um milagre"

Rebeca Andrade x Simone Biles: quando só o impossível supera a perfeição

Justiça nega validade de testamento e deixa oito irmãos e sobrinho fora da briga. Filha continua como única herdeira

Saiba quem é quem na briga pela herança de ganhador na Mega-Sena assassinado em 2007, em Rio Bonito

O processo alega que a Apple usou seu poder sobre a distribuição de aplicativos no iPhone para impedir inovações que teriam facilitado a troca de telefones pelos consumidores

Apple reage a acusação de monopólio no setor de smartphones feita pelo governo dos EUA: ‘fora da realidade’

Vendas atingiram US$ 85,8 bilhões no período encerrado em 29 de junho

Apple supera estimativa trimestral de lucro e receita

Onda de Teahupoo, no Taiti, é conhecida por ser perfeita e, ao mesmo tempo, perigosa em razão da bancada de corais

Pontuação do surfe nas Olimpíadas: entenda por que tubo é manobra mais valiosa; Medina e Chumbinho duelam