Agora, a Paraíso do Tuiuti abriga uma escola de samba mirim, Os Netinhos do Tuiuti. A festa de batismo que oficializou a nova instituição aconteceu esta semana. Além disso, foi iniciada uma série de oficinas de samba no pé e percussão para crianças e adolescentes de 7 a 17 anos. Todas as aulas são gratuitas e ocorrerão na Quadra do Quebra Tudo, no Morro do Tuiuti, em São Cristóvão.
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As inscrições para as oficinas serão realizadas no local e exigem a presença de um responsável. É necessário levar uma foto 3x4, cópia do RG e do CPF e comprovante escolar. A ideia da agremiação mirim foi do presidente da instituição, Renato Thor, que revela estar realizando um sonho.
— Eu já tinha essa vontade há 16 anos. Agora, nasceu a nossa escola mirim para formar os futuros sambistas da escola-mãe. Teremos casal de mestre-sala e porta-bandeira, passistas, mestre de bateria… O amanhã já começou! — afirma o dirigente.
![Safira Rosa, a primeira porta-bandeira do grupo, e o mestre-sala Joãozinho — Foto: Divulgação/Rafael Arantes](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/oX_Kd4uz0EtOcjaYsIVqiIfzExo=/0x0:511x800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/M/2/5Ev0d2S1uM9DDYlpmepg/screenshot-8.jpg)
Como manda a tradição no mundo do samba, em que todas as escolas têm uma madrinha, Os Netinhos serão apadrinhados pela Mangueira do Amanhã, agremiação mirim da verde e rosa.
Para a presidente dos Netinhos, Joseane Almeida, a novidade vem para contribuir na formação de crianças e jovens da comunidade.
— Temos um público muito grande dentro do Morro do Tuiuti. Será uma oportunidade única para mostrar aos pais e mães como o samba pode transformar a vida de muitas pessoas. É muito mais do que uma festa. É uma cultura que gera emprego e renda, além de levar alegria para muitos que sofrem diante de uma vida difícil — enfatiza a gestora de recursos humanos, que lembra de sua própria trajetória na escola de samba desde a infância. — Eu comecei a desfilar com 11 anos, mas meu amor pela Paraíso do Tuiuti já existia antes mesmo de eu pisar na avenida. A escola, com grande representatividade política e acolhimento comunitário, tem o poder de renovar e libertar. Agora no Grupo Especial, pode oferecer melhores condições às crianças através dos Netinhos do Tuiuti.
Joseane revela que foi montado um cronograma com oficinas que vão além do samba e da percussão, incluindo aulas de idiomas e esportes.
— Vamos ensinar nossas crianças a sambar, a aprender a batucar, mas também mostrar que o carnaval vai muito além de bateria e mulatas. O carnaval, como é visto fora do Brasil, é muitas vezes reduzido a isso, destacando apenas o físico das mulheres. Nossa intenção é diferente; queremos trazer projetos sociais que abram as portas do conhecimento para essas crianças. Teremos aulas de inglês e outras línguas, dança, educação física e esportes como futebol, handebol, basquete e vôlei. Além disso, queremos oferecer atendimento hospitalar. A meta é transformar a nossa quadra poliesportiva em um ambiente acolhedor, onde as crianças se sintam protegidas e bem-vindas — detalha.
Inicialmente, Os Netinhos desfilarão com 500 integrantes. Enquanto aguardam a filiação à Associação das Escolas de Samba Mirins do Rio de Janeiro para participar dos desfiles oficiais na Marquês de Sapucaí, planejam celebrar o carnaval na Quinta da Boa Vista. A data ainda será determinada.
![Joseane (ao centro) e integrantes das escolas de samba mirins do Tuiuti e da Mangueira — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/VZ0laMj05XpwQ4J7G8Xbs-KOXUU=/0x0:960x1280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/S/i/sZlsEAQ6mxIVLSaNsWIQ/whatsapp-image-2024-06-11-at-11.31.01.jpeg)
Quem não vê a hora de participar deste momento histórico é Safira Rosa, de 13 anos, que foi escolhida para ser a primeira porta-bandeira do grupo. Ela vai dançar com o mestre-sala João Anderson, o Joãozinho, de 11 anos. Mas, apesar da pouca idade, a garotinha já tem fôlego de veterana: ela vai para o sétimo carnaval como componente.
— Será o segundo ano dela como porta-bandeira. A Safira já é experiente — diverte-se Elisangela Estácio, mãe da porta-bandeira. — Ela começou a desfilar na Filhos da Águia (escola mirim da Portela) com 6 anos. Além de ter uma família que a apoia muito, somos apaixonados pelo carnaval das escolas de samba. Ela já foi criada nesse meio.
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A história de Joãozinho segue uma trajetória semelhante. Desde muito cedo, ele foi introduzido no mundo do samba, uma tradição que permeia sua família desde o berço. Sua tia, a auxiliar de produção Fabiana Pinto, que também desfila na escola, frequentemente o levava aos ensaios técnicos, onde Joãozinho se encantava com os passos e ritmos. Inspirado pela irmã, uma passista mirim, ele começou a dançar em casa e aos 4 anos foi oficialmente iniciado no universo do samba.
Em 2018, Joãozinho foi convidado pelo mestre-sala da Mangueira para integrar seu projeto, onde permanece até hoje. Em 2022, desfilou oficialmente pela primeira vez e, dois anos depois, em 2024, recebeu o prêmio Plumas e Paetês como melhor passista mirim.
— Meu pai ensinou a ele os passos de mestre-sala. Além de se destacar como passista e mestre-sala, João brilha como jogador de futebol e lutador de boxe. Ele é um menino de ouro e inspira outras crianças da comunidade, demonstrando compromisso e dedicação em todas as suas atividades — relata a tia, sem esconder o orgulho do sobrinho.