Rio Bairros

Louco por ti, Avenida das Américas

Uma radiografia da avenida mais movimentada da Barra, que traçou o destino da região
Símbolo. Trecho da Avenida das Américas por onde passam cerca de 135 mil veículos por dia. Com 40 quilômetros de extensão, a via tornou-se a espinha dorsal da Zona Oeste Foto: Fernanda Dias
Símbolo. Trecho da Avenida das Américas por onde passam cerca de 135 mil veículos por dia. Com 40 quilômetros de extensão, a via tornou-se a espinha dorsal da Zona Oeste Foto: Fernanda Dias

Tem de tudo na Avenida das Américas. Tem casa, prédio e áreas arborizadas. Bar, restaurante, escola, mercado, shopping e parque. Tem quem vá de carro, de ônibus, BRT, e, daqui a pouco, de metrô. Tem gente que estuda, trabalha ou mora, e gente que faz tudo isso no mesmo lugar. Ao longo dela, zonas urbanas e rurais convivem da Barra à Guaratiba, e os tons de cinza e verde se alternam ou se combinam. É por ter de tudo, e por levar a tudo, que a Américas tornou-se símbolo máximo da Barra.

Nos primeiros parágrafos do plano de urbanização da região, o urbanista Lucio Costa expunha uma dúvida: “Qual o destino dessa imensa área triangular que se estende das montanhas ao mar, numa frente de 20 quilômetros de praias e dunas e que, conquanto próxima, a topografia preservou?”. A resposta começou a ser escrita pelo traçado da Américas.

Foi ao longo dela que a região se desenvolveu. Com o trajeto já marcado, a via passou a existir, por decreto, a partir dos anos 50. Fazia parte da BR-101, a tradicional Rio-Santos. Pavimentada nesta década, só recebeu a primeira duplicação em 1976. Outra ampliação nos primeiros seis quilômetros aconteceu em 1994. Quatro anos mais tarde, mais oito quilômetros foram duplicados. Em 2012, a via recebeu o primeiro corredor viário do BRT. E deve vir mais obra este ano:

— O BRT ainda é parcial na Avenida das Américas. Vamos completar o projeto fazendo a conexão com o metrô. O BRT vai chegar ao Jardim Oceânico através do canteiro central — diz o secretário municipal de Transportes, Carlos Osório. — O projeto está pronto, será licitado este ano e deve começar ainda em 2013. Queremos terminar antes das Olimpíadas.

Décadas de atração

Era 1978 quando a psicóloga Teresa Leite deixou o Flamengo para viver o sonho da Barra no condomínio Riviera dei Fiori. Com 36 anos na época, Teresa trocava o aperto da Zona Sul cada vez mais ocupada por prédios e pessoas por “todo o espaço disponível” de uma Barra pouco explorada. Trinta e cinco anos depois, a contadora Fabíola Freire fez uma mudança mais brusca. Acaba de trocar Manaus pelo Rio, e decidiu se instalar na Avenida das Américas.

— Tem tudo por aqui, todas as coisas de que preciso estão por perto. Eu me sinto confortável porque não tem a muvuca da Zona Sul, o que me deixa um tanto agitada. Cheguei há pouco tempo, mas já vi que meu eixo é esse aqui — diz Fabíola, que acompanha o marido, um militar transferido para o Rio no ano passado.

A filha de Fabíola estuda numa das 11 escolas da Avenida das Américas. Apesar de estar há apenas 26 dias na cidade, a contadora já elegeu dois dos oito shoppings da via como destino dos primeiros passeios. Leva a menina para patinar no Barra Garden e bate perna no BarraShopping.

Veterana no bairro, Teresa tem muitos outros caminhos: adora andar entre o verde do Canal de Marapendi quando vai para a praia. Como opção, tem o Bosque da Barra.

— Esta é a minha terra. O que cativa as pessoas é o espaço disponível aqui. Moro no segundo andar e não estou colada em outro prédio. A Barra consegue preservar a arquitetura que favorece o morador, coisa que a Zona Sul perdeu — diz ela.

Aos 68 anos, Teresa gosta de jogar frescobol e vôlei, nada no mar e ainda corre no calçadão.

— Tem gente que diz: “Deus me livre morar na Barra”. Eu digo: “Deus nos livre de que essa pessoa venha para cá” — diz Teresa, rindo.

Entretanto, cada vez mais gente vai para a Barra. Pouco explorada até os anos 1970, a região despontou como destino de lazer e consumo de mais e mais cariocas a partir da abertura do BarraShopping, em 1981.

— O nosso shopping atraiu novos investimentos e empreendimentos imobiliários para cá. Ele foi um catalisador das mudanças na Barra — afirma a superintendente do mall, Jussara Nova Raris.

Com R$ 1,6 bilhão em vendas registrados em 2012, o BarraShopping ainda se mantém em destaque no mercado de centro comerciais. Ele pertence ao grupo Multiplan, que há três meses inaugurou outro shopping na Avenida das Américas: o VillageMall, um investimento de R$ 500 milhões que trouxe marcas como Prada e Michael Kors ao Rio.

Gabriel Palumbo, superintendente do shopping, explica que o VillageMall aposta na percepção de que o morador da Barra é um cliente de bom poder aquisitivo e busca exclusividade:

— É um consumidor que está sempre em busca do ineditismo e do conforto. Por isso trouxemos tantos serviços diferenciados. O VillageMall chancela o sucesso da Barra. Ele vem para reinserir o Rio no circuito internacional.

Vem também comprovar que, mesmo após décadas de mudanças, todo mundo ainda acredita no potencial da Avenida das Américas.