A definição da vaga de vice do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, deve passar pelo crivo do governador Tarcísio de Freitas, avaliam aliados do emedebista. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro sob pressão por investigações da Polícia Federal, o chefe do Executivo paulista ganha força como o principal avalista sobre quem deve ocupar a vaga de vice na campanha de 2024.
Segundo pessoas próximas ao chefe do Executivo paulistano, o nome para compor a chapa do prefeito poderá ser tanto do PL quanto de outro partido da base de Nunes, como o próprio Republicanos, ao qual o governador é filiado. Mas certamente deverá ser aprovado por Tarcísio, considerado a maior força política da direita do estado.
'Sou ricardista'
Durante sua participação no programa "Conversa com Bial", veiculado na última segunda-feira, Nunes reforçou sua vontade de ter o apoio de Jair Bolsonaro a sua candidatura à reeleição em 2024. No entanto, ele tentou se descolar das pautas ideológicas do ex-presidente e afirmou que "não sabe o que é ser bolsonarista" e disse ser "ricardista".
O governador tem estreitado laços com o prefeito desde que assumiu o Palácio dos Bandeirantes, em janeiro deste ano, com agendas conjuntas e apostas em ações entre os executivos estadual e municipal — a principal delas, envolvendo a cracolândia.
A aproximação entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e Nunes, na visão de aliados do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), tem a digital de Tarcísio, que vinha demonstrando alguma resistência em endossar a candidatura do ex-colega de Esplanada.
Como mostrou O GLOBO, Salles e Tarcísio herdaram uma relação conturbada do governo federal. Além de criticar a postura polêmica do ex-ministro do Meio Ambiente, Tarcísio atuou para que o ex-ministro fosse destituído de dois conselhos de administração para os quais foi indicado pela Infraero, vinculada ao então ministério da Infraestrutura.
A desistência de Salles abriu caminho para uma aproximação entre Nunes e Jair Bolsonaro, o que acelerou as negociações para o PL apoiar o emedebista no ano que vem.
Distância cautelar
Embora a aliança com Bolsonaro seja tida como fundamental, inclusive para evitar que a direita se divida na cidade, o ex-presidente não é o cabo eleitoral mais cobiçado pelo prefeito, que, preocupado com a alta rejeição ao ex-mandatário na cidade, tem mantido uma distância cautelar do novo aliado.
O fato tem sido, inclusive, explorado pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que também vai disputar o pleito no ano que vem. Em entrevista ao GLOBO, o parlamentar disse que tem “orgulho” dos seus aliados e não os “esconde”, em uma referência ao prefeito de São Paulo.
As expectativas de Ricardo Nunes estão voltadas para a aliança com Tarcísio, cuja aprovação no estado estava em 44% na pesquisa Datafolha divulgada em abril.
No entorno do prefeito, porém, há uma inquietação sobre a demora em Tarcísio declarar publicamente apoio à sua reeleição. Mas a avaliação de aliados do governador é a de que ainda é cedo para fechar questão, embora a aliança esteja bem encaminhada.
Questionado sobre o assunto, um secretário estadual diz que não há motivos para entrar em campanha um ano antes do pleito, "tendo acabado de assumir o governo", e que Tarcísio deve se concentrar na gestão do estado. Ele rechaça haver receio com "desgaste" de uma aliança prematura, e atribui a escolha do governador a uma "questão de foco".
Menos chances para Wajngarten
Caso a influência de Tarcísio sobre a indicação da vice se concretize, perde força o nome de Fabio Wajngarten para compor a chapa com Nunes. O ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro de Bolsonaro atuou para minar a candidatura de Salles e ajudou a organizar praticamente todas as agendas do ex-chefe do Executivo Federal com o prefeito. Porém, há uma desconfiança no entorno de Tarcísio com Wajngarten, que se tornou um crítico frequente da comunicação do governo.
Wajngarten e o núcleo bolsonarista defendem que o vice seja alguém da estrita confiança de Bolsonaro. Mas o PL municipal, como mostrou O GLOBO, quer alguém moderado. O conflito de visões dentro do partido ficou evidenciado numa reunião convocada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com a bancada do partido na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no início do mês. O clima esquentou quando veio à tona o assunto das eleições de 2024.
Os deputados Lucas Bove, Major Mecca e Conte Lopes atacaram o apoio dado pelos dirigentes do PL ao projeto de reeleição de Nunes. A ala defende que a legenda, hoje a maior bancada federal e dona do maior fundo partidário, tenha candidatura própria — visto que Nunes tem baixa identificação com a direita bolsonarista.
Nas últimas semanas, o ônus do apoio de Bolsonaro disparou. Ele está no centro de uma investigação da Polícia Federal que apura uma suposta organização criminosa envolvendo auxiliares do ex-presidente que atuariam para vender presentes recebidos pela Presidência.
Dias atrás, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou mandados de busca e apreensão em endereços do general do Exército Mauro César Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid; do tenente do Exército Osmar Crivelatti, que atua na equipe do ex-presidente; e do advogado Frederick Wassef, que já defendeu Bolsonaro e seus familiares.
O entorno de Nunes assistiu com preocupação ao avanço das investigações, que engordam o peso de ter o ex-presidente no palanque do prefeito no ano que vem — apoio que nem mesmo antes das investigações era abraçado com afinco por Nunes.
Para alguns observadores, a reticência do prefeito com Bolsonaro é exposta pela falta de fotos que o mandatário publica em suas redes sociais com o ex-presidente. Por outro lado, Nunes coleciona publicações com Tarcísio.